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São Paulo, 20 de junho de 2020
Nº 007/20 – semana 3
Síntese: O último relatório da UNCTAD sobre os investimentos globais traz uma previsão de queda dos fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) em até 40% nesse ano; na América Latina, essa diminuição será de 50% por conta da pandemia do Covid-19, acelerando também as tendências de maior protecionismo que vinham desde a crise de 2008. A União Europeia impôs tarifas sobre a importação da produção de mantas de lã de vidro no Egito, feitas por empresas chinesas. Os EUA se colocam contrários a proposta da UE de taxar as gigantes digitais. No Brasil, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou queda de -9,73% em abril em relação a março. Já a pesquisa sobre a atividades de serviços do IBGE (PMS) teve queda de -11,7%; no varejo (PMC) a baixa foi de -16,8% em abril comparado ao mês anterior. A taxa Selic foi reduzida de 3% para 2,25%, com uma expectativa de inflação para o ano de 1,6%. Já são mais de 74,6 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, sendo que 25,7 milhões gostariam de trabalhar, segundo a PNAD-Covid-19/IBGE. Na indústria, a demanda por petróleo continua baixa e os estoques batendo recorde, em especial nos EUA. O agronegócio anunciou o Plano Safra 2020/2021 pelo Ministério da Agricultura, que teve um aumento de 6,1% comparado ao plano anterior. Contudo, os recursos e taxas de juros para a agricultura familiar foi bem aquém das reivindicações do segmento.
INTERNACIONAL
1. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) lançou o relatório sobre o investimento global com os últimos dados de 2020 e projeções para os próximos anos. A previsão é que os fluxos globais de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) diminuam em até 40% em 2020 por conta da pandemia, em relação ao valor de US$ 1,54 trilhão em 2019, caracterizada como um choque de oferta, demanda e política para o IDE. Tanto os novos anúncios de projetos de investimento greenfield quanto as fusões e aquisições (M&A) transfronteiras caíram mais de 50% nos primeiros meses de 2020, em comparação com o ano passado. As regiões mais atingidas serão os países em desenvolvimento, por conta da dependência da indústria extrativa e intensivas nas cadeias globais de valor. Na América Latina, a queda é de 50%, e na África, em até 40% nesse ano.
2. O documento afirma ainda que o Covid-19 acelerou as tendências existentes que vinham desde a crise de 2008, como o crescente nacionalismo econômico, a nova revolução industrial e o imperativo da sustentabilidade que já estavam se aproximando de um ponto de inflexão. As tendências tecnológicas apontadas são a automação habilitada para robótica, digitalização aprimorada da cadeia de suprimentos (e seu encurtamento) e manufatura aditiva.
3. Alinhado a esse recrudescimento da Guerra Comercial, a UE impôs uma tarifa sobre a importação de mantas de lá de vidro usadas em turbinas eólicas e equipamentos esportivos produzidas no Egito por empresas subsidiárias da China. O objetivo é impor barreiras à produção em outros países que estejam vinculados a Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI, a Nova Rota da Seda) impulsionada pelo país chinês, com a desculpa que os incentivos desse país distorcem a concorrência global.
4. Os EUA apresentaram o relatório semestral da Política Monetária do FED (Banco Central do país), em que aponta a grave crise que o país enfrenta com a pandemia, com fortes índices de desemprego (de 6,7% para 13,2%) e queda do PIB no primeiro trimestre de 5%, bem como as medidas tomadas para contornar essa situação. Com a melhorada na taxa de desemprego, apontam que os dias mais sombrios já tenham passado. Os dados de consumo do mês de maio tiveram uma recuperação de 17,7% em relação ao mês de abril.
5. O documento “A pandemia global, a recuperação econômica sustentável e a tributação internacional”, lançado nesta semana, tem como objetivo estimular o debate sobre uma reforma tributária global para amenizar os efeitos da pandemia do Covid-19 e fazer frente ao aumento dos gastos públicos dos países em apoio à saúde, renda e emprego. O relatório defende que o ônus econômico não recaia desproporcionalmente em grupos e países desfavorecidos, propondo cinco eixos centrais: impostos progressivos sobre os serviços digitais; tributação mais elevada sobre lucros de grandes empresas em setores oligopolizados; taxar as empresas em no mínimo 25% para evitar que procurem outros países; divulgação de relatórios das empresas que tiverem ajuda pública; publicar os recursos em contas offshore.
6. Se os principais países veem com bons olhos a taxação das gigantes digitais, os EUA têm se levantado contra essa proposta alegando que as principais empresas oneradas são de seu país, como Google, Facebook e Amazon. Isso coloca o país em rota de conflito com a EU que poderia tomar medidas unilaterais, aumentando a Guerra Comercial.
CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO
7. O Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do mês de abril, que apresentou uma queda de -9,73% comparado ao mês de março, e de -4,15% no acumulado do ano. O indicador é visto como uma aproximação do comportamento mensal do PIB brasileiro. Já o Indicador de Atividade Econômica – IAE-FGV apontou uma retração de 8,8% no mês de abril em relação ao mês de março, com maiores impactos nas atividades industriais e de serviços.
8. A queda do setor de serviços e nas vendas do varejo para o mês de abril são apresentadas nos dois indicadores do IBGE. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mostrou uma diminuição de -11,7% no volume de serviços comparado ao mês de março; no acumulado do ano a queda é de -4,5%. A retração nas atividades de serviços prestados às famílias, que engloba estabelecimentos como restaurantes e hotéis, desacelerou suas atividades em -44,1%.
9. Já a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) apresentou recuo de -16,8% no mês de abril comparado a março. No varejo ampliado, que inclui o setor automotivo e da construção, o volume de vendas recuou em -17,5%; no acumulado do ano a queda já é de -3,0%. Os piores resultados foram de estabelecimentos ligados às atividades de tecidos, vestuário e calçados (-460,6%); livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-29,5%); Móveis e eletrodomésticos (-25,9%); Combustíveis e lubrificantes (-15,1%) e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-11,8%).
10. Em artigo ao Valor Econômico, o economista-chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/Ibre, José Júlio Senna, analisa o porquê da economia não ter uma recuperação tão rápida (em V) como o divulgado pelo mercado e governos, apresentando oito fatores nesse sentido: o retorno à austeridade pode ser o objetivo de muitos governos no pós-crise, em especial o Brasil, que terá dificuldades com o aumento do déficit primário; o grau de incertezas elevado que não estimularão novos investimentos; o alto grau de endividamento das famílias e empresas; a baixa poupança das famílias; a perda de capital organizacional, com muitas empresas fechando e não reabrindo; o fenômeno da desglobalização que se intensificará; a piora do ambiente político brasileiro; e por último a capacidade da política monetária expansionista (afrouxamento monetário – QE) sustentar o consumo por crédito, o que não parece estar no horizonte.
CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS
11. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa Selic de 3% para 2,25% a.a. Segundo o comitê, o ambiente segue desafiador para os países emergentes diante da pandemia do Covid-19, que provocou uma desaceleração global mesmo com estímulos fiscais e monetários. Dessa forma, a expectativa de inflação para esse ano é de 1,6%, por conta do nível de ociosidade elevada. Para 2021 e 2022, esse número é de 3,0% e 3,5%, respectivamente.
12. O relatório do Tesouro Nacional de Garantias honradas pela União em operações de crédito, do mês de maio, mostra que esse desembolsou R$ 1,37 bilhão para honrar dívidas não pagas dos estados e municípios, com destaque para o Rio de Janeiro e Pernambuco. Esse valor é 9.622% maior que o registrado no mesmo mês de 2019. No acumulado do ano já foram honrados R$ 4,25 bilhões. Por conta da decisão do STF, a União está impedida de executar as contragarantias dos estados.
CONTAS PÚBLICAS E INVESTIMENTOS
13. O IFI apresentou o Relatório de Acompanhamento Fiscal, em que projeta um déficit primário do governo central de R$ 877,8 bilhões em 2020, 12,7% do PIB, sendo R$ 601,3 bilhões relativos às medidas de mitigação dos efeitos do coronavírus e R$ 308,8 bilhões no auxílio emergencial aos trabalhadores. Esses valores já incorporam o impacto de algumas providências ainda não tomadas oficialmente, como a prorrogação do auxílio emergencial e o diferimento para os próximos anos do pagamento de tributos federais.
14. As receitas do governo central reduziram em R$ 118,8 bilhões com as medidas tributárias de combate aos efeitos econômicos e sociais da pandemia. Esse fator, somado à revisão do cenário para a atividade econômica neste e nos próximos anos, reduziu ainda mais a arrecadação prevista da União. A projeção é que a receita líquida de 2020 alcance R$ 1.087,3 bilhões em 2020, uma redução de R$ 247,7 bilhões frente ao projetado em novembro. Em proporção do PIB, a receita líquida do governo central deve atingir 15,7% este ano.
MERCADO DE TRABALHO E RENDA
15. A Pnad Covid-19 do IBGE estimou para maio uma população ocupada de 84,4 milhões, sendo 8,8 milhões trabalhando remotamente e 14,6 milhões afastados do trabalho devido ao distanciamento social. A população fora da força de trabalho é de 74,6 milhões, sendo que 25,7 milhões disseram que gostariam de trabalhar. 17,7 milhões deixam de buscar emprego por conta da pandemia. A população desocupada foi de 10,9 milhões, crescimento de 1 milhão do início do mês para o final.
16. Um estudo da LCA Consultores a partir das pesquisas do IBGE mostra que a taxa de desemprego de jovens entre 14 a 25 anos, que já vinha em uma ascendente desde a crise de 2014, deverá atingir níveis recordes nos próximos meses. A taxa de desemprego nessa faixa etária saltou de 14,5% no quarto trimestre de 2014 para 26% em 2018. A previsão para o terceiro trimestre de 2020 é que atinja a taxa de 38,8%, tendo 7,9 milhões de pessoas entre 14 a 25 anos desempregadas.
17. O Senado aprovou a MP 936, que permite a redução de salários e jornadas de 25%, 50% ou 75%, e a suspensão de contratos de trabalho durante a pandemia, por até 60 dias. A MP segue para a sanção presidencial.
EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)
18. No setor automotivo, embora o quadro de produção e vendas esteja em queda, duas marcas mantêm uma visão otimista na economia, reforçando os investimentos no país e as projeções de vendas futuras. A Toyota anunciou que manterá seu investimento de R$ 1 bilhão para a produção de um novo modelo na fábrica de Sorocaba. A Caoa, em constante diálogo com as montadoras chinesas, projeta fazer da planta fabril brasileira uma plataforma de exportação dos carros da Chery para os demais países da América Latina.
19. No setor de Petróleo e Gás, a conjuntura se mantém desafiadora com a demanda global abaixo dos níveis de 2019 e estoques elevados nos principais países, como nos EUA. Na indústria brasileira, a Petrobras busca cortar ao menos US$ 2 bilhões em seus custos operacionais deste ano, a partir da renegociação com seus fornecedores para suspender temporariamente seus contratos de afretamento de navios de apoio offshore. Além da paralisação de 62 plataformas em águas rasas já anunciadas.
20. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou o Plano Safra 2020/2021, que segundo a ministra da pasta, será um dos principais motores da retomada econômica após o Covid-19. Os recursos são de R$ 236,3 bilhões, um aumento de 6,1% em relação ao plano anterior. Do valor total, R$ 33 bilhões será para Agricultura Familiar e R$ 33,12 bilhões para os médios produtores. As medidas não contemplam as demandas da agricultura familiar que reivindicavam R$ 40 bilhões para o Pronaf Crédito e juros de 0% a 2%. No plano apresentado as taxas de juros estão entre 2,75% e 4%.
ESPECIAL COVID-19
21. A pesquisa organizada pelo IBGE no PNAD Covid-19 estimou que 22,1 milhões de pessoas apresentaram pelo menos um dos 12 sintomas associados à síndrome gripal. Destes, 3,6 milhões (16,4%) procuraram estabelecimento de saúde em busca de atendimento; 80% destes atendimentos foram na rede pública de saúde. Dos que não foram a um estabelecimento de saúde, 82,4% tomaram a providência de ficar em casa e 58,6% compraram ou tomaram remédio por conta própria. Apenas 4,8% ligaram para algum profissional de saúde e 13,3% compraram ou tomaram remédio por orientação médica.
22. Em reportagem extensa, o jornal Valor Econômico traz dados e entrevistas sobre a letalidade policial na periferia brasileira, tendo os jovens negros como os mais atingidos. Em 2019 o número de mortes provocadas pela polícia paulista cresceu 12% em relação a 2018. Já em meio a pandemia do Covid-19 os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostraram que a polícia do Rio de Janeiro matou 43% mais pessoas em abril do que no mesmo mês do ano anterior. Foram quatro mortes cometidas pela polícia a cada quatro horas.
23. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 175,7 bilhões de uma previsão de R$ 404,2 bilhões (na semana passada a previsão era de R$ 323,9 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 95,53 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (21,6 bi) e Concessão de Financiamento para Pagamento de Folha Salarial (R$ 17,00 bi).