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Artigos

Giro Econômico | As principais notícias da economia do Brasil e do mundo

Mais de 150 milhões de pessoas no mundo podem ir para a extrema pobreza até 2021, segundo o Banco Mundial.

 

 

São Paulo, 10 de outubro de 2020
Nº 019/20 – semana 1

 

Síntese: A OMC prevê uma queda de 9,2% no volume do comércio mundial de mercadorias em 2020; o PIB mundial está estimado em -4,8%. Para o Banco Mundial, mais de 150 milhões de pessoas no mundo podem ir para a extrema pobreza até 2021 por conta da pandemia da Covid-19. Na disputa entre EUA e China, os impactos das sanções dos EUA a Huawei já afetam multinacionais como Sony e Kioxia, grandes fornecedores de peças tecnológicas para a chinesa. O avanço dos EUA para aumentar o controle sobre a América Latina é observado com a valorização dada ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o investimento na área da mineração brasileira para atender sua demanda por níquel e cobalto. A China, por sua vez, pressiona o Brasil para participar das licitações para atender a infraestrutura de tecnologia 5G, o que determinará a relação entre os dois países. Estudo mostra que o acordo UE-Mercosul é uma grande ameaça ambiental e social ao Brasil; o parlamento europeu rejeitou em votação simbólica o acordo entre os dois blocos por conta do “risco Bolsonaro”. Relatório do FMI afirma que o investimento público é fundamental para a recuperação econômica; o aumento do investimento público em 1% do PIB pode gerar um crescimento de 10% no investimento privado e de 1,2% no emprego; por outro lado, a instituição defende as políticas utilizadas pelo país para combater a pandemia da Covid-19 e a proteção ao teto dos gastos; prevê ainda uma queda do PIB em 2020 de -5,8%. As MEIs representam 99,65% do total de empresas abertas no mês de setembro, evidenciando o aumento da precarização do trabalho. A utilização das refinarias da Petrobras em plena capacidade de produção poderia gerar um impacto positivo de R$ 3,6 bilhões sobre o PIB brasileiro. No agronegócio, a nova safra do Brasil deve superar em 4,2% o recorde obtido na temporada recém-finalizada.

 

INTERNACIONAL

1. A OMC prevê uma queda de 9,2% no volume do comércio mundial de mercadorias em 2020, seguida de um aumento de 7,2% em 2021. Essas estimativas estão sujeitas à evolução da pandemia e das respostas dos governos a ela. A previsão anterior da organização era de queda de 12,9% no volume do comércio mundial. Para o ano de 2021, a previsão anterior era de crescimento de 21,3%, bem acima da previsão atual. As novas estimativas para o PIB mundial para 2020 é de -4,8%, em comparação com -2,5% em abril. Para a América Central e do Sul, a previsão de queda é de -7,7% para este ano.

2. Mais de 150 milhões de pessoas no mundo podem ir para a extrema pobreza (ao ganharem menos de US$ 1,90 diários) até 2021 por conta da pandemia da Covid-19, aos impactos causados por conflitos e mudanças climáticas. Só em 2020, cerca de 88 milhões a 115 milhões de pessoas podem ir para pobreza extrema, segundo relatório do Banco Mundial.

3. O impacto das sanções dos EUA a empresa chinesa Huawei é sentido pelas grandes multinacionais. A Sony, por exemplo, uma das grandes fornecedoras de sensores de imagem, ou a Kioxia, grande fornecedora de seus Chipsets de memórias flash, já preveem enormes prejuízos com as sanções de Trump. Para evitar danos maiores, essas empresas estão buscando, junto aos EUA, uma aprovação para manter seus negócios com a Huawei.

4. As tensões provocadas pelos EUA para conter o avanço tecnológico e comercial da China tem tomado contornos mais concretos para a América Latina. Os EUA deu aval ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para que a presidência do banco fosse garantida e para aumentar sua capitalização em investimentos no continente contra a alta dependência das cadeias de abastecimento da China. O braço para investimentos do BID poderá ser comandado pelo atual secretário Especial de Emprego, Competitividade e Produtividade do Ministério da economia do Brasil, Carlos Da Costa, como uma costura política do governo brasileiro sob a estratégia estadunidense.

5. Ainda no reforço de sua atuação na América latina, o banco de desenvolvimento dos EUA irá investir US$ 25 milhões na empresa de mineração Techmet, e mais US$ 60 bilhões para a empresa desenvolver um projeto brasileiro de níquel e cobalto para abastecer a indústria de carros elétricos. O objetivo explícito apontado por Trump é de reduzir sua dependência de matérias primas da China.

6. Foi a vez da China pressionar o Brasil em torno da tecnologia 5G. O embaixador chinês no Brasil afirmou que a decisão sobre a permissão ou não da Huawei fornecer a tecnologia para estruturar a rede definirá a relação entre os países. A questão, segundo ele, não está relacionada à conquista da licitação pela empresa chinesa, mas com a capacidade do Brasil de garantir regras justas para que ela possa entrar na disputa. Por outro lado, os EUA afirmam que o Brasil sofrerá consequências caso a empresa não seja barrada, com a possibilidade de fuga de investimentos estadunidenses.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

7. Segundo o Estudo do Greenpeace Brasil e FASE, o acordo UE-Mercosul é uma grande ameaça ambiental e social. O relatório aponta que ele ameaça o esforço global de evitar o caos climático e social e a trágica destruição anunciada com a forte expansão de exportações de matérias primas agrícolas e minerais nos quatro países do Mercosul. Ao reduzir ou eliminar totalmente tarifas comerciais e ampliar cotas de importação e exportação, o acordo aumentará ainda mais a já enorme pressão do agronegócio e das multinacionais de mineração e energia sobre os recursos naturais da Amazônia, do Cerrado, do Chaco e de outras regiões da América do Sul.

8. O Parlamento europeu rejeitou em votação simbólica o acordo, mostrando profunda preocupação com as políticas ambientais de Bolsonaro. O desgaste do governo com setores empresariais também tem aumentado no Brasil. Segundo reportagem especial do jornal Valor, as políticas ambientais e a “democracia em recessão” tem gerado o desgaste com o empresariado.

9. Um relatório otimista da Equipe do FMI sobre o Brasil avaliam que as políticas adotadas pelo governo, como a agenda de reformas de austeridade, a reforma previdenciária de 2019 e projetos de lei submetidos ao Congresso para controlar os gastos do governo – combinadas com a adoção do teto dos gastos -, foram importantes para melhorar a perspectiva fiscal do país e permitir uma queda no prêmio de risco soberano. Em relação à pandemia da Covid-19, avaliam que a resposta do governo foi rápida com medidas fiscais e parafiscais que somam 18% do PIB, sendo uma das maiores respostas políticas entre os países do G20, com destaque para o auxílio emergencial. Essa resposta evitou uma desaceleração mais profunda e estabilidade nos mercados financeiros. A previsão é que o PIB no ano de 2020 seja de -5,8% e em 2021 de 2,8%. Apesar de toda essa defesa, o relatório aponta que os riscos ainda são altos e multifacetados, com a possibilidade de uma segunda onda de pandemia e marcas de longo prazo da recessão prolongada.

10. Contraditoriamente, outro relatório do FMI sobre o Brasil afirma que o investimento público é fundamental para a recuperação econômica do país. O aumento de 1% do PIB no investimento público pode levar a um reforço do PIB geral em 2,7%, crescimento do investimento privado em 10% e aumento do emprego em 1,2%.

11. O Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens Industriais cresceu 5,9% no mês de agosto frente a julho. O resultado do trimestre móvel encerrado em agosto avançou 5,5%. Na comparação com agosto de 2019, o indicador que mede a demanda interna por bens industriais – por meio da produção industrial interna não exportada, acrescida das importações – apresentou retração de 7,6%. A demanda por bens de consumo duráveis cresceu 14,2%; o consumo aparente de bens de capital, um dos componentes da formação bruta de capital fixo (FBCF), permaneceu estagnado, com pequeno recuo de 0,2%; os bens intermediários tiveram alta de 5,7%. A demanda por bens da indústria de transformação teve alta de 4,3% sobre julho, enquanto a indústria extrativa mineral cresceu 18,3% na margem.

12. Já o Indicador Ipea Mensal de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no mês de julho registrou alta de 3,4%, frente a junho deste ano. Com isso, o trimestre móvel encerrado em julho fechou com um crescimento de 7%. No acumulado de 12 meses encerrados em julho, porém, os investimentos caíram 2,4%. Em julho, houve uma alta de 10,9% nos investimentos em máquinas e equipamentos comparado a junho. Enquanto a produção nacional desses bens cresceu 21,5%, a importação caiu 7,6% no mesmo período. Os investimentos na construção civil registraram crescimento de 2,7% em julho.

13. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) apresentou um crescimento de 3,4% no mês de agosto se comparado ao mês de julho e atinge patamar recorde, com o crescimento consecutivo de quatro meses. No acumulado do ano, a receita nominal teve um crescimento de 2,4%, e o volume de vendas uma queda de -0,9% no varejo restrito. No varejo ampliado, a receita nominal no acumulado do ano foi de -1,8%, e no volume de vendas, que inclui veículos, motos, peças e material de construção, de -5%. Cinco das oito atividades demonstraram um crescimento: Tecidos, vestuário e calçados (30,5%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,4%), Móveis e eletrodomésticos (4,6%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,5%) e Combustíveis e lubrificantes (1,3%). Houve recuo nas vendas de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,2%), Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,2%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (-24,7%).

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

14. Apesar da redução nas taxas médias de juros sobre o crédito tomado por empresas no primeiro semestre de 2020, o montante efetivo de juros pagos pelos empresários atingiu R$ 77,3 bilhões em seis meses, valor 2,8% acima do registrado no mesmo espaço de tempo em 2019, segundo estudo da Fecomérciosp. Como comparativo, o montante transferido do setor produtivo para instituições financeiras com juros, apenas no primeiro semestre, representa mais de dois meses de transferências do auxílio emergencial para atender cerca de 63 milhões de pessoas. O valor total da inadimplência de famílias e empresas – acumulado da dívida em atraso acima de 90 dias – alcançou R$ 78,8 bilhões em junho. Ao mesmo tempo, os juros transferidos ao sistema financeiro no semestre (R$ 278,8 bilhões) foi 254% maior do que toda a inadimplência registrada no período.

 

INFLAÇÃO E ALIMENTOS

15. A inflação no mês de setembro medida pelo IPCA/IBGE foi de 0,64%, ficando 0,40 ponto percentual (p.p) acima dos 0,24% de agosto. No ano, o índice acumula uma alta de 1,34%; em 12 meses está em 3,14%. A maior variação (2,28%) e o maior impacto (0,46 p.p.) no índice do mês veio do grupo Alimentação e bebidas, que acelerou em relação a agosto (0,78%). Os alimentos para consumo no domicílio tiveram alta de 2,89%, em agosto a alta foi de 1,15%. Os principais itens que influenciaram essa elevação foram o óleo de soja (27,54%) e o arroz (17,98%), que acumulam no ano altas de 51,3% e 40,69%, respectivamente. Outros produtos que também subiram foram o tomate (11,72%), leite longa vida (6,01%) e carnes (4,53%).

16. O preço do conjunto de alimentos básicos (Cesta Básica de Alimentos) teve alta em todas as capitais pesquisadas, segundo dados do Dieese. Os valores vão de R$ 422,31 em Natal, que acumula uma alta de 10,05% no ano, até R$ 582,40 em Florianópolis, com uma alta acumulada de 13,82% no ano. A maior elevação foi no óleo de soja, com destaque para Natal (39,62%), Goiânia (36,18%), Recife (33,97%) e João Pessoa (33,86%). O arroz ganha destaque em Curitiba (30,62%), Vitória (27,71%) e Goiânia (26,40%).

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

17. O mês de setembro fechou com 466.255 pedidos de seguro-desemprego no Brasil. O número é 10,6% menor do que o registrado no mesmo mês de 2019, quando foram protocolados 521.572 requerimentos e o país ainda não enfrentava a pandemia causada pela Covid-19. De janeiro a setembro de 2020 foram contabilizados 5.451.312 de pedidos de seguro-desemprego. O número representa um aumento de 5,7% na comparação com o acumulado no mesmo período de 2019 (5.157.026).

18. A terceira semana de setembro apresentou um total de 13,3 milhões de pessoas desempregadas (na segunda semana de setembro eram 13,5 milhões). Com isso, a taxa de desemprego teve uma pequena queda, passando a representar 13,7% (na semana anterior era 14,1%), segundo a PNAD-Covid19 do IBGE. A população fora da força de trabalho foi estimada em 73,6 milhões, ante as 74,6 milhões da semana anterior. Desse total, 25,6 milhões gostariam de trabalhar. Da população ocupada, apenas 3,4% estavam afastadas por conta do distanciamento social; na primeira semana de maio esse percentual era de 19,8%.

19. O Brasil conta com 252.840 empresas a mais em funcionamento do que havia no final de agosto, com a abertura de 312.999 empresas e o fechamento de 88.540, segundo o Mapa de Empresas do Ministério da Economia. Enquanto em 31 de agosto havia 19.289.824 de empresas ativas, em 30 de setembro o número tinha saltado para 19.542.664. Os Microempresários Individuais (MEIs) respondem por 99,65% do total de empresas abertas no mês. Desse total de empresas ativas, 54,7% são de MEIs, uma forma camuflada de precarização do trabalho.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

20. A produção de carros no mês de setembro consolidou a recuperação do terceiro trimestre, com o aumento de 4,4% em relação a agosto; comparado ao mesmo mês de 2019, a produção foi 11% menor. Foram produzidas 220.162 unidades, segundo a Anfavea. No acumulado do ano, a queda ainda é de 41,1%. Já nas exportações, o crescimento foi de 8,5% em relação a agosto, e queda de 16,7% sobre setembro de 2019, com encolhimento de 38,6% no ano. O segmento de Máquinas Agrícolas e Rodoviárias teve um aumento de 4,7% na produção em setembro comparado a agosto, mas no acumulado do ano ainda apresenta uma queda de 19,6%. A venda desses produtos cresceram 8,9% em setembro comparado ao mês anterior, e acumula no ano um crescimento de 0,9%.

21. A venda de implementos rodoviários manteve o ritmo de crescimento das vendas no mês de setembro, podendo fechar o ano no mesmo patamar que 2019, segundo a Anfir. Foram emplacadas 11.442 mil unidades, enquanto em 2019 foram emplacadas 10.385 unidades em setembro. No acumulado do ano, as vendas apresentam uma retração de 4,31% comparado ao mesmo período do ano anterior.

22. O uso das 13 refinarias da Petrobras poderia gerar um impacto positivo de R$ 3,6 bilhões sobre o PIB brasileiro, caso elas estivessem em plena capacidade de produção, segundo simulação dos professores da UFRRJ e da Coppe/UFRJ. A plena capacidade também diminuiria a inflação setorial de transportes em 2,04% e reduziria em 0,54% e 0,62% a inflação do grupo de alimentos e bebidas e o grupo de produtos agropecuários, respectivamente.

23. A forte demanda por crédito rural já levou ao esgotamento das principais linhas de investimento do Plano Safra 2020/2021. No total, os desembolsos já somaram R$ 73,8 bilhões de julho a setembro, 28% mais que nos primeiros três meses do ciclo anterior. Os investimentos via Pronaf cresceram 34% de julho a setembro (R$ 4,5 bilhões), enquanto os via Pronamp aumentaram 46% (R$ 1,01 bilhão). Entre as linhas de crédito rural para investimentos, a Moderfrota, voltada à aquisição de máquinas, é uma das que estão com demanda mais aquecida. Nessa frente, os desembolsos subiram 90% de julho a setembro (R$ 3,5 bilhões).

24. A nova safra do Brasil deve superar em 4,2% o recorde obtido na temporada recém-finalizada. A produção está estimada em 268,7 milhões de toneladas, superando em cerca de 11 milhões de toneladas o recorde da última safra, de acordo com o 1º Levantamento da safra de grãos 2020/21 divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção de soja é estimada em 133,7 milhões de toneladas e mantém o Brasil como o maior produtor mundial da oleaginosa.

 

ESPECIAL COVID-19

25. Até o momento, o governo federal liberou R$ 221,5 bilhões para o Auxílio Emergencial, sendo feitos 331,6 milhões de pagamentos e beneficiando 67,7 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

26. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 447,6 bilhões (na semana passada foi de R$ 440,5 bilhões) de uma previsão de R$ 587,5 bilhões (na semana passada era de R$ 586,9 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 236,95 bilhões), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 74,69 bilhões), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 38,17 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 47,9 bilhões).