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Artigos

Giro Econômico | As principais notícias da economia do Brasil e do mundo

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defende que se invista na criação de gado no Pantanal para conter as queimadas na região.

 

São Paulo, 17 de outubro de 2020
Nº 020/20 – semana 2

 

Síntese: Segundo relatório do FMI, a projeção da queda do crescimento mundial está em -4,4%, diante de um quadro de profunda recessão sem prazo para terminar. Os governos gastaram US$ 12 trilhões em medidas de apoio às famílias e empresas. O risco apontado pelo relatório é de uma nova onda de contágio do vírus, como já observado na Europa. As exportações e importações na China apresentaram crescimento em setembro, sendo o único país com retomada vigorosa das atividades. Na disputa comercial, EUA, Brasil e Japão se uniram em uma declaração conjunta na OMC em mais uma investida contra a China. No Brasil, o crescimento do PIB no mês de agosto foi de 1,06%, abaixo das expectativas do mercado de 1,7%. O Ministério do Meio Ambiente defende que se invista na criação de gado no Pantanal para conter as queimadas na região, já que isso supostamente reduziria o excesso de matéria orgânica no solo. A dívida pública brasileira deve atingir a marca de 101,4% do PIB no ano de 2020 e um déficit de R$ 858 bilhões, segundo o FMI e o mercado. O governo federal prorrogou por mais 60 dias o prazo para celebrar acordo de redução proporcional da jornada de trabalho e de salários e de suspensão temporária de contrato de trabalho. A demanda global de energia só irá se recuperar ao nível pré-crise pandêmica no início de 2023, com forte impacto nos preços do petróleo e gás por conta da demanda contraída. O governo federal ampliou a isenção tributária para empresas na Zona Franca de Manaus para bens e serviços no setor de tecnologia da informação e comunicação, com a contrapartida de investimento de até 5% do faturamento bruto da empresa em atividades de pesquisa e desenvolvimento. A escassez dos insumos nas indústrias não foi causada pelo aquecimento da demanda, como afirma o Ministério da Economia, mas por conta da dificuldade das empresas em manter suas atividades em funcionamento. As ofertas de ações no Brasil bateram recorde esse ano com uma captação de R$ 94 bilhões até início de outubro. A Vale aprovou a criação de uma empresa em união com a chinesa Nigbo Zhoushan para a construção e operação da expansão das instalações do Porto na China.

 

INTERNACIONAL

1. A projeção do crescimento mundial está em -4,4%, diante de um quadro de profunda recessão sem prazo para terminar; os índices de emprego estão abaixo dos níveis pré-pandêmicos e 90 milhões de pessoas entrarão para a privação extrema em 2020, segundo o último relatório do FMI. A queda seria muito maior se os governos não tivessem injetado cerca de US$ 12 trilhões no apoio às famílias e empresas. Mesmo com previsão de crescimento em 2021, o relatório aponta que a crise trará graves sequelas no médio prazo, com um tempo maior para a recuperação do mercado de trabalho, investimentos contraídos, problemas fiscais e a perda de instrução escolar.

2. Entre os riscos apontados pelo relatório do FMI está o ressurgimento do vírus e a possibilidade de novos confinamentos, como já observado na Europa. Diversos países do continente europeu assistem à segunda onda da epidemia e o impacto na economia, com o fechamento de atividades.

3. Em seu discurso, a diretora-geral do FMI disse que o caminho deve ser a defesa da saúde, a não retirada prematura do apoio financeiro dos governos, uma política fiscal mais flexível e voltada para o futuro e mais tolerância com as dívidas públicas.

4. As exportações e importações da China no mês de setembro tiveram aumentos anuais de 9,9% e 13,2%, respectivamente, segundo os dados oficiais do país. Isso corrobora com a previsão do relatório do FMI, que salienta o fato do país ser o único exemplo de crescimento no ano. O crescimento das exportações e importações reforça a dinâmica da atividade comercial chinesa tanto interna quanto externa. Vale destacar o aumento de 28% das importações de semicondutores, por conta do receio das proibições estadunidenses com empresas chinesas.

5. EUA, Brasil e Japão se uniram para fazer mais uma investida contra a China na OMC. Os três países se uniram em uma declaração conjunta em defesa do princípio de economia de mercado na organização, que assegure condições iguais de competição entre as nações. Embora não cite nominalmente a China, o foco segue sendo o país asiático. Como apontado no Giro Econômico de 24 de julho, EUA e Brasil já haviam submetido uma proposta semelhante na OMC.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

6. O PIB brasileiro teve um crescimento de 1,06% em agosto comparado ao mês de julho de 2020; em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de -3,92%. No acumulado do ano, a variação é de -5,44%, segundo os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco do Brasil (IBC-Br). O crescimento de agosto, assim como o de julho, foi aquém do esperado pelo mercado, que projetava um crescimento de 1,7%. Porém, estes resultados ainda assim demonstram um crescimento no quarto mês seguido. Segundo o Boletim Focus do dia 09 de outubro, a previsão do PIB 2020 é de -5,03%; na semana anterior estava em -5,02%, e há um mês em -5,11%.

7. Os dados prévios da FGV apontaram para uma queda do Indicador de Incerteza da Economia (IEE-Br) de 1,8 pontos no mês de outubro, após ter ensaiado uma certa recuperação em setembro. O recuo tem relação com as notícias da pandemia no mundo e no Brasil e a instabilidade econômica e política. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) e do Consumidor recuaram, respectivamente, 1,1 e 3,9 pontos, interrompendo a tendência de recuperação das últimas semanas.

8. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mostrou uma alta de 2,9% no volume de serviços no mês de agosto, comparado a julho. Trata-se do terceiro mês de crescimento, após uma variação de 5% em junho e 2,6% em julho, acumulando uma alta de 11,2% no período. Comparado ao mesmo mês de 2019, a queda foi de -10,0%; no acumulado do ano, a contenção ainda é de -9% no volume de serviços. Os destaques vão para serviços prestados às famílias (33,3%) e transportes e serviços auxiliares aos transportes e correio (3,9%). O único resultado negativo desse mês foi o dos serviços de informação e comunicação (-1,4%), após avançar 6,3% entre junho e julho.

9. O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu a criação de gado no Pantanal como medida para combater o fogo na região. Segundo Salles, isso ajudaria a reduzir o excesso de matéria orgânica no solo. O ministro ainda afirmou no Senado que apenas 6% do bioma é da competência do governo federal, sendo em grande parte responsabilidade dos estados.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

10. O Brasil deverá atingir, em 2020, o segundo maior nível de dívida pública de um grupo de 40 países emergentes; a marca do endividamento bruto poderá chegar em 101,4% do PIB, segundo relatório do FMI. A estimativa do fundo é que o endividamento brasileiro cresça até o ano de 2025, atingindo o valor de 104,4% do PIB. Os déficits primários também prevalecerão até 2025.

 

CONTAS PÚBLICAS

11. Para o mês de outubro, a expectativa de arrecadação média é de 3,7% maior que o mesmo mês do ano passado, e um aumento de 3,75% nas despesas na mesma comparação, com um resultado primário no mês estimado em -R$ 44,1 bilhões, segundo a coleta de dados do Ministério da Economia das expectativas do mercado. Para o ano, a expectativa do mercado é de um déficit primário de R$ 858 bilhões e uma dívida bruta de 94,5% do PIB de 2020.

12. O comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos até o mês de setembro registrou, em 2020, o pior resultado dos últimos 11 anos. Segundo estudo do Monitor de Comércio Brasil-Estados Unidos da Amcham-Brasil, o valor das trocas comerciais entre janeiro e setembro deste ano foi de US$ 33,4 bilhões, uma redução de 25,1% em relação ao mesmo período de 2019. Apesar da forte redução do comércio bilateral, os EUA seguem como o segundo principal parceiro comercial do Brasil (12,3% do total de suas trocas com o mundo). A China se mantém em 1º lugar, com um aumento de sua fatia em 28,8%.

13. O Ministério da Infraestrutura tem defendido a manutenção do teto dos gastos e impedindo qualquer elevação dos investimentos; porém, a pasta busca aumentar os investimentos em sua área com emendas parlamentares a partir de um documento que contém as propostas de projetos a serem financiados; os valores pedidos poderiam dobrar o orçamento previsto para o ano que vem. Essa estratégia tem sido adotada por outros ministros, como da Defesa, Agricultura, Justiça e Segurança Pública, Meio Ambiente e da Mulher, Família e Direitos Humanos.

 

INFLAÇÃO E ALIMENTOS

14. O Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda mostra que, em setembro, a variação de preços registrada pela população mais pobre foi de 0,98%, superior à observada pela classe mais rica (0,29%). O primeiro grupo compreende famílias com rendimentos domiciliares mensais menores que R$ 1.650, enquanto o segundo ultrapassa os R$ 16.509,66. Quase 75% da variação total da inflação das famílias mais pobres neste período é decorrente dos alimentos e bebidas, com as altas do arroz (18%), do óleo (28%) e do leite (6%). No caso das famílias mais ricas, a alta de preços dos alimentos e da gasolina (2%) foi atenuada pelo recuo nos planos de saúde (-2,3%) e nas mensalidades de cursos diversos, como de idiomas (-1,5%) e informática (-1,6%).

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

15. O governo federal prorrogou por mais 60 dias o prazo máximo para celebrar acordo de redução proporcional da jornada de trabalho e de salários e de suspensão temporária de contrato de trabalho. Somados aos prazos já estabelecidos, o limite para este tipo de acordo sobe para 240 dias.

16. A quarta semana de setembro apresentou um total de 14 milhões de pessoas desempregadas (na terceira semana de setembro eram 13,3 milhões). Com isso, a taxa de desemprego teve um crescimento, passando a representar 14,4% (na semana anterior era 13,7%), segundo a PNAD-Covid19 do IBGE. A população fora da força de trabalho foi estimada em 73,4 milhões, ante as 73,6 milhões da semana anterior. Deste total, 25,6 milhões gostariam de trabalhar. Da população ocupada, apenas 3,3% estavam afastadas por conta do distanciamento social; na primeira semana de maio esse percentual era de 19,8%.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

17. A demanda global de energia só será recuperada ao seu nível pré-crise pandêmica no início de 2023. No entanto, no caso de um prolongamento da pandemia e de uma recessão mais profunda, a previsão de recuperação está prevista para 2025. Isso terá forte impacto nos preços do petróleo e gás com uma demanda contraída. A demanda global de energia deve cair 5% em 2020, as emissões de CO2 relacionadas à energia em 7% e o investimento em energia em 18%, é o que mostra o relatório da Agência Internacional de Energia.

18. Já o relatório da OPEP aponta que a pandemia culminou numa das maiores quedas na demanda de energia e petróleo já observadas, e prevê que a demanda global de energia primária continuará crescendo a médio e longo prazo, aumentando significativamente em 25% até 2045, apesar da queda em 2020. Espera-se que o petróleo retenha a maior parte da matriz energética durante o período, respondendo por 27% em 2045. O gás natural será o combustível fóssil de crescimento mais rápido entre 2019 e 2045, e continuará sendo o segundo maior contribuinte para a matriz energética em 2045, com 25%, ficando atrás apenas do petróleo. Caso a pandemia seja amplamente contida no próximo ano, a demanda por petróleo deverá se recuperar parcialmente em 2021.

19. O governo federal ampliou, na Zona Franca de Manaus, a isenção tributária para empresas de bens e serviços no setor de tecnologia da informação e comunicação. Como contrapartida, o texto prevê um investimento de até 5% do faturamento bruto da empresa em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas regiões da Amazônia Ocidental e no Amapá, com o objetivo de impulsionar as fábricas para a indústria 4.0.

20. Um estudo da Simpi-SP com a Datafolha destacou que a escassez dos insumos nas indústrias não foi causada pelo aquecimento da demanda, como havia afirmado o Ministério da Economia, mas por conta da dificuldade das empresas em manter suas atividades em funcionamento.O estudo mostra que 28% das indústrias de micro e pequeno porte de São Paulo tiveram algum fornecedor que faliu ou entrou em recuperação judicial desde o começo da pandemia. Além disso, em razão dos bens intermediários mais caros e escassos, mais de um terço das industriais (36%) apontou ter dificuldade para atender pedidos no prazo solicitado pelos seus clientes. Entre as pequenas empresas, esse índice chega a 65%. Além disso, 79% dos empresários industriais declararam que não estão conseguindo crédito para manter suas operações, contra 12% que tiveram acesso a capital de giro novo; outros 7% disseram que estão usando linhas que a empresa já tinha.

21. As ofertas de ações no Brasil deste ano bateram recorde com uma captação de R$ 94 bilhões até início de outubro, com o aumento do volume financeiro das ofertas iniciais (IPO) e subsequentes (follow-on). Esse valor representa o maior volume dos últimos dez anos. Foram realizadas 38 operações, sendo 20 de ofertas iniciais, como mostra reportagem do Valor Econômico.

22. A Vale aprovou a criação de uma empresa em união com a chinesa Nigbo Zhoushan para a construção e operação da expansão das instalações do Porto de Shulanghu, na província de Zhejiang. O valor total do investimento é de US$ 624 milhões, incluindo a aquisição de direitos de propriedade e desenvolvimento da capacidade portuária de 20 milhões de toneladas por ano. A Vale deterá 50% da joint venture.

23. A Agroindústria cresceu 0,7% em agosto comparado ao mês de julho de 2020. Comparado a agosto de 2019, a expansão foi de 0,3%, e significou a segunda variação positiva desde fevereiro deste ano, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, segundo o Índice de Produção Agroindustrial – FGV/Agro. A queda no acumulado do ano ainda é de -3,9%. Os produtos alimentícios no acumulado do ano apresentam um crescimento de 2,9%, já os produtos não alimentícios registraram queda de -11,3%.

 

ESPECIAL COVID-19

24. Até o momento, o governo federal liberou R$ 226,4 bilhões para o Auxílio Emergencial, sendo feitos 342,6 milhões de pagamentos e beneficiando 67,7 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

25. No monitoramento de gastos da União com a Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 451,5 bilhões (até a semana tinha sido R$ 447,6 bilhões) de uma previsão de R$ 587,5 bilhões (mesmo valor da semana anterior). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 236,96 bilhões), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 77,84 bilhões), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 38,37 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 47,9 bilhões).