Os fazendeiros e seus partidários que irão marchar em Déli o farão porque estão organizados. Um dos principais problemas do nosso tempo é o desespero da atomização. Estar sem um movimento ou uma organização é estar desarmado para a luta política. Se não fosse pelas organizações de agricultores e pelos partidos de esquerda, não haveria uma luta eficaz contra os ataques da direita contra seus meios de vida – e suas próprias vidas.
A importância da organização é reconhecida pelas forças de direita, tanto é assim que usam todos os elementos do poder do Estado para destruir a esquerda e quebrar a confiança dos ativistas da classe trabalhadora, do campesinato e das comunidades oprimidas. De Tripura, no nordeste da Índia, a Antioquia, no noroeste da Colômbia, militantes populares estão sendo derrotados um por um. Silenciar a dissidência por assassinato ou intimidação é silenciar a confiança dos trabalhadores e dos camponeses, das comunidades oprimidas e dos grupos sociais marginalizados. Temos listas de pessoas que foram mortas – Ana María Cortés, Felicinda Santamaria, Holmes Niscué, Luis Barrios, Ajendra Reang, Anima Das, Pradeep Deb Barma, Rakesh Dhar, Tapas Sutradhar. Eles trabalharam para organizar comunidades indígenas e trabalhadores de fábricas, agricultores e estudantes.
As investigações sobre suas mortes não são levadas a sério. É quase como se elas fossem inevitáveis; a ocorrência delas não parece gerar reprovação ou provocar a atenção do sistema judicial. O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que a ditadura militar “deveria ter matado 30 mil pessoas” a mais do que mataram, em uma ação profilática para a oligarquia. A investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), em março, está congelada. Ninguém presta atenção ao assassinato do militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Márcio Matos, assassinado em janeiro. Na última semana, 200 famílias de um assentamento de três anos, no Maranhão, foram despejadas. 450 famílias que vivem em um assentamento em Minas Gerais estão ameaçadas de despejo por uma ordem judicial. Bolsonaro não está esperando tomar posse para acelerar sua agenda de quebra do poder organizacional do povo e de transferência de recursos para os oligarcas e o capital monopolista.
Na minha coluna desta semana sobre esses assassinatos e sobre a tentativa de matar a confiança dos trabalhadores, imagino outra realidade:
Em um mundo alternativo, Holmes Niscué, um líder indígena colombiano de esquerda, encontraria Ajendra Reang, ativista do PCI-M e da Federação Tribal da Juventude, em uma reunião sobre direitos indígenas. Eles conversariam com a ajuda de um tradutor e encontrariam uma agenda comum, uma maneira de combater a marginalização das populações indígenas e o roubo de recursos retirados das terras controladas pelas comunidades indígenas. Nesse mundo alternativo, Ana María Cortés e Rakesh Dhar trocariam escritos sobre o colapso econômico de suas cidades e conversariam honestamente sobre a dificuldade de organizar a resistência. Essas eram todas pessoas decentes que queriam tornar o mundo um lugar melhor. Agora eles estão mortos.
No mês que vem, nosso dossiê do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social será sobre o trabalho de Abahlali baseMjondolo. O documento irá mostrar como os moradores das favelas lutam para construir sua confiança em sua luta contra um sistema sem coração. Também detalhará a violência vivida pelos organizadores muito pobres, violência que vai da intimidação ao assassinato. Por favor, fique atento (para uma prévia, veja o artigo do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social da coordenadora Celina della Croce, sobre Abahlali).
A pintura acima é de um jovem artista de Tripura – Mrinmoy Debbarma. É intitulada Oh My God (2015). |