Queridos amigos e amigas,
Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Não faz muito tempo, a Venezuela era o epicentro de uma nova dinâmica revolucionária. Eleição após eleição – todas validadas por autoridades internacionais – mostravam que o povo venezuelano desejava manter o controle de seus recursos e construir um país para o povo e não para as grandes corporações. Hugo Chávez, com seu imenso carisma, entendeu que não bastava construir o socialismo em um único país; a região toda deveria ser atraída para uma nova dinâmica. Construindo a partir do legado de Simón Bolívar (1783-1830), Chávez inspirou milhões de pessoas em toda a América Latina – chamada também de Pátria Grande ou Nuestra América (Nossa América) – a se juntar à Revolução Bolivariana. Não haveria solução para os imensos problemas da região se cada país permanecesse dependente dos Estados Unidos da América, da Europa e do Canadá. Se cada um se isolasse, todos continuariam fracos. Unidade foi a palavra de ordem central, razão pela qual o regionalismo hemisférico era essencial. Caracas foi a capital dessa Nuestra América, expressão que se tornou famosa pelo poeta cubano José Martí (1853-1895).
A Revolução Bolivariana, com sua promessa de solidariedade regional e desenvolvimento social, ameaçou as corporações multinacionais, que se consideram as legítimos herdeiras da terra. O bilionário canadense Peter Munk, dono da Barrick Gold, escreveu sobre Chávez e afirmou que ele era um “ditador perigoso”; Munk comparou Chávez a Hitler e pediu que o comandante fosse derrubado. Isso em 2007, há doze anos. O plano para derrubar a Revolução Bolivariana não surge a partir de uma crise particular dentro da Venezuela, nem de qualquer problema criado pelo atual presidente Nicolás Maduro. O problema de fato era – e é – a ameaça representada por uma liderança que se posiciona firmemente contra a asfixia do país por corporações multinacionais. O problema é um país tentar produzir um novo caminho para uma população que há muito está mergulhada na pobreza, apesar de sua riqueza em recursos. O significado de “Venezuela” teve que mudar. Não poderia mais significar a promessa de um revolução, mas significar um caos perigoso.
George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump – os três presidentes dos EUA na Casa Branca durante o período da Revolução Bolivariana – tentaram, à sua maneira, derrubar Chávez e depois Maduro. Nenhum conseguiu. A urgência da ação deles foi como nos anos anteriores ao golpe de 1973 em Santiago (Chile), quando o embaixador dos EUA, Edward Korry, escreveu sarcasticamente sobre a direita chilena “que perseguia cegamente e avidamente seus interesses, vagando em uma miopia de uma estupidez arrogante”. Isso define a atual direita venezuelana. Então, escreveu Korry, já que a direita é tão “estúpida”, “lamentavelmente os EUA terão que se movimentar mais rápido” – os EUA precisavam fazer o que a direita não conseguia, em nome dos próprios Estados Unidos.
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