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Protesto de bancários na Argentina, 2018.
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Em dezembro de 2019, nosso dossiê no. 23 fará uma avaliação geral da situação na América do Sul após as eleições de outubro na Argentina, Bolívia e Uruguai. Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, refletiu sobre os resultados das primárias na Argentina com o pensamento de que esta era uma “luz no fim do túnel para a Argentina e para a América Latina”. |
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A história pode se mover em zigue-zagues, mas em termos temporais ela é um quebra-cabeça. Um grande número de eventos significativos parece nos atingir em frequências cada vez mais rápidas. É difícil acompanhar as notícias, quanto mais seguir o que está acontecendo em cada país. Tragédias aparecem repentinamente e os nomes das comunidades que são pouco conhecidas voam dos nossos lábios – Os Yazidis! Os Rohingyas! Logo eles são esquecidos, apenas para serem substituídos pela próxima calamidade. Mesmo quando os eventos vão passando, a história parece estar parada. Nada realmente muda. Vidas permanecem precárias, os dias parecem repetitivos. A combinação do que parece ser a velocidade da mudança com a experiência da estagnação é o que é desorientadora.
Para fornecer um mapa modesto para navegar em alguns desses eventos, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social produzirá um Alerta Vermelho regular – uma breve avaliação de duas páginas das principais crises que podem ser facilmente impressas e distribuídas. Esperamos que você faça isso em seus movimentos. O primeiro – que está abaixo – é sobre a Caxemira. |
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Onde fica a Caxemira?
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A Caxemira é fundamentalmente contestada, cada hectare é reivindicado por um ou outro país vizinho (Índia, Paquistão e China). Abrange 222.200 quilômetros quadrados – o tamanho de países como Gana e o Reino Unido.
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Aproximadamente 17 milhões de pessoas vivem nessa vasta área, principalmente nas regiões controladas pela Índia e pelo Paquistão. Apenas na região indiana a população é de 12,5 milhões. Aksai Chin, controlada pela China, é uma área estéril, apenas abrigando uma estrada que liga o Tibete a Xinjiang.
Qual o problema permanente na Caxemira?
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A questão da Caxemira é parte de problemas não resolvidos sobre a divisão do Sul da Ásia, em 1947. Até essa data, a região estava sob o controle de uma monarquia hindu. O rei não estava disposto a aderir à Índia. Foi depois que invasores armados do Paquistão entraram no vale da Caxemira que ele concordou em assinar um Instrumento de Adesão. O movimento político mais popular na região, a Conferência Nacional de Jammu e Caxemira (sob a liderança de Sheikh Abdullah), concordou em se juntar à União Indiana, desde que a autonomia da Caxemira fosse respeitada. A União Indiana consistentemente reduziu essa autonomia.
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No dia em que o exército indiano entrou na Caxemira (27 de outubro de 1947), o primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, enviou um telegrama ao primeiro-ministro do Paquistão, Liaqat Ali Khan. Nesse telegrama, Nehru escreveu que o futuro da Caxemira “deve ser decidido com os desejos do povo”. O impasse trouxe a disputa ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que pediu um plebiscito (resoluções 38 e 47).
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Caxemira foi dividida pela guerra de 1947 entre a Índia e o Paquistão. Os dois países travaram ao menos quatro grandes guerras (1947, 1965, 1971 e 1999) como resultado desse conflito, que gerou uma insurgência e uma militarização permanente. Estima-se que haja 600 mil soldados indianos na Caxemira. Ambos os países possuem armas nucleares.
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As condições na parte indiana da Caxemira são atrozes há décadas. Observadores sérios da região catalogaram abusos dos direitos humanos, incluindo detenções, punição coletiva e tortura de civis. Os relatórios do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, de 2018 e 2019, mostram um desrespeito chocante pelos direitos humanos por parte do governo indiano na Caxemira. Essa violação dos direitos humanos e da dignidade é justificada com base na acusação selvagem de que os caxemires são terroristas.
Do que se trata a atual crise na Caxemira?
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Dois artigos da Constituição da Índia (1950) oferecem um compromisso frágil em relação à autonomia do Estado. O Artigo 370 conferiu um status especial a Jammu e Caxemira, permitindo a autonomia sobre certos aspectos-chave de sua governança. O Artigo 35A impediu que residentes permanentes não-caxemires, entre outros coisas, possuíssem terras na Caxemira.
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Em 5 de agosto de 2019, o governo indiano de direita de Narendra Modi e o Partido Bharatiya Janata (BJP) invalidaram os artigos 370 e 35A. Esta tem sido uma exigência da direita indiana desde 1948. Em 3 de abril de 2018, a Suprema Corte indiana havia dito que o artigo 370 havia adquirido status permanente. O Artigo 35A não pode ser removido porque a Assembléia Constituinte foi dissolvida em 1957. A base legal para remover esses dois artigos não está disponível, o que será contestado nos tribunais indianos.
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Antes do governo de Modi fazer este anúncio no Parlamento, enviou 35 mil soldados indianos para a Caxemira. Ao mesmo tempo, prendeu todos os principais líderes políticos em Jammu e Caxemira. A assembléia legislativa foi dissolvida em novembro de 2018. A imprensa foi cerceada e os serviços de internet e telefone foram fechados.
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O governo indiano aboliu inconstitucionalmente o Estado de Jammu e Caxemira e dividiu-o em dois Territórios da União, que serão governados a partir de Nova Deli e não da capital de Jammu e Caxemira, Srinagar.
Qual é o impacto geopolítico da crise de Caxemira?
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As fronteiras da China, Índia e Paquistão colidem na Caxemira. Todos os três países guerrearam por partes do território de Caxemira. A Índia e o Paquistão travaram quatro guerras, enquanto a China e a Índia travaram uma grande guerra em 1962.
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Junto ao conflito Índia-Paquistão está a maior luta entre os Estados Unidos e a China. A China abriu sua Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) a qualquer país que quisesse participar. A Índia se recusou em parte por causa de sua antiga história de animosidade contra a China e em parte por causa de sua subordinação aos Estados Unidos. Os Estados Unidos são contra a ICR, pois está comprometido com o cerco à China.
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A ICR da China se desenvolveu no Paquistão e no Nepal. O Corredor Econômico do Paquistão da China (CPEC), de 46 bilhões de dólares, passa pela Caxemira controlada pelo Paquistão, ao longo da Rodovia Karakoram, até o Porto de Gwadar, no Baluchistão. Em 2017, a China e o Nepal concordaram em construir o Corredor Econômico do Himalaia. A Organização das Estradas de Fronteira da Índia tem estado ocupada construindo rodovias ao longo de sua fronteira com a China, da Caxemira ao Butão e a Nagaland.
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Em 2017, as tensões aumentaram na região de Doklam, perto da fronteira entre Butão, China e Índia. O Butão diz abertamente que não quer se envolver em um conflito China-Índia. Quer estabelecer sua fronteira com a China, mas é impedido de fazê-lo pela Índia.
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O desenho acima é de Chittaprosad, um dos grandes artistas comunistas de sua época. “Em minha obra de arte, represento a tradição de reformadores políticos e éticos”, escreveu Chittaprosad. “Salvar pessoas significa salvar a arte em si. A atividade de um artista significa a negação ativa da morte”. Não é de admirar que ele tenha desenhado esse poderoso quadro para a Caxemira em 1946.
Nossos camaradas Maimoona Mollah, Kavita Krishnan, Jean Drèze e Vimal Bhai foram à Caxemira em uma missão de apuração de fatos de 9 a 13 de agosto. Eles retornaram com uma história angustiante, cujo relatório deve ser amplamente divulgado. “Toda a Caxemira é, no momento, uma prisão sob controle militar”, escrevem eles.
Os hospitais em Jammu e Caxemira se enchem de civis feridos. O jornalista Mudasir Ahmad visitou a maternidade Lal Ded, em Srinagar. Ele conheceu Bilal Mandoo e Raziya, que estavam sentados com seu bebê natimorto. Impossibilitados de sair devido ao toque de recolher, as complicações no nascimento levaram à morte de seu filho. Eles estão presos no hospital. “Eu sinto que estou sufocando aqui”, diz Raziya. Ela fala por todos os caxemires.
Cordialmente, Vijay. |
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