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Bolsonaro por Orijit Sen, 2019
Bolsonaro diz: Vamos queimar a selva ali mesmo (um eco de um slogan de direita na Índia, vamos construir o templo ali mesmo, em cima de uma mesquita).
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Bolsonaro, que atualmente está com raiva de Macron por suas críticas aos incêndios na Amazônia, teria adorado estar lá. O Brasil está ansioso por fazer parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o grupo de elite de 36 países que afirmam ser os mais desenvolvidos e, portanto, capazes de atrair investimentos. É provável que a OCDE não leve mais a sério as pretensões do Brasil, pois agora existem dúvidas sobre o compromisso do país com os padrões ambientais da organização.
Macron não convidou Bolsonaro, mas chamou o indiano Narendra Modi. Poucos dias antes do G7, os dois homens se reuniram e discutiram os acordos de armas corruptos que unem a Índia e a França – 36 jatos Rafale chegarão em breve à Índia a um custo de 7 bilhões de euros. O recém-lançado Global Hunger Index coloca a Índia na 103ª posição entre 116 países (o Brasil, graças ao Fome Zero, do ex-presidente Lula, está em 31º). A medida da modernidade não é mais o fim da fome, mas uma força aérea melhor.
Macron abordou a questão da Caxemira – onde sete milhões de caxemires estão presos. Na semana passada, doze políticos indianos da oposição entraram na capital da Caxemira – Srinagar. Eles foram convidados a vir pelo governador para observar a situação, que o governo afirmou ser normal. Os líderes políticos foram detidos no aeroporto e depois enviados de volta para Déli. Essa é a segunda vez que os líderes dos partidos comunistas (Sitaram Yechury e D. Raja) são impedidos de entrar na Caxemira (para saber mais sobre Caxemira, veja nosso Alerta Vermelho nº1). Modi não disse nada. A Caxemira continua sufocada. |
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Um poeta grego – Jazra Khaleed – canta a necessidade de uma nova língua nestes tempos feios, dias de austeridade e perplexidade. “Precisa-se de um novo idioma, não de cafetão”, diz ele.
Estou esperando uma revolução me inventar.
Famintos pela língua da luta de classes
Uma linguagem que tenha experimentado a insurgência.
Impossível permanecer dentro das linhas traçadas pelos poderosos, aceitar a conversa sobre bombas nucleares disparadas contra furacões e a realidade de sete milhões de caxemires silenciados. A cumplicidade é inaceitável, impensável. |
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Luis Ferreira da Costa e outros, uma vigília pelo acampamento, agora um monumento à sua tenacidade
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Algumas semanas atrás, passei o dia no acampamento Marielle Vive nos arredores de Valinhos (Brasil). O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou mil famílias para viver nessa terra batizada em homenagem à parlamentar socialista assassinada. Esses homens e mulheres trabalham duro para sustentar um mundo que beneficia apenas alguns poucos. No entanto, não conseguem sequer um lugar para morar. O problema deles é a falta de terra e de dignidade, para as quais parece não haver solução. Então, eles se tornaram sua própria solução. No acampamento, conheci duas meninas – Ketley Júlia e Fernanda Fernandes. Elas estavam muito felizes em me contar que todo domingo elas se reúnem na escola do acampamento e estudam inglês. “Quando você escrever seu artigo sobre o nosso acampamento”, elas disseram, “vamos traduzi-lo para o português”. Meu artigo no acampamento deles pode ser lido aqui.
Ketley e Fernanda sabem que esse acampamento é a casa delas. Uma juíza local deu ordem de despejo. Este é o mundo em que vivemos, um mundo onde pessoas comuns se estabelecem em terras pertencentes a um especulador imobiliário, constroem uma comunidade naquela terra, planejam fazer agricultura agroecológica e, ainda assim, é essa comunidade que deve ser desfeita. A dignidade deles não é relevante. Em seus ossos, Ketley e Fernanda sabem como é ser palestina ou caxemire, ou ser qualquer uma daquelas pessoas que são retiradas de suas terras para que os especuladores possam construir um estacionamento ou um shopping. Elas podem ouvir a língua que experimentou a insurgência. Elas ouvem a língua da luta de classes que sai da boca da elite: o tom abafado do veredicto da juíza, o rugido da escavadeira, o som angustiante da bomba guiada a laser. Como será a língua delas da luta de classes?
Cordialmente, Vijay. |
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