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FuturoPesquisa da Juventude em Periferias Urbanas

Boletim mensal | E a juventude com isso? | maio 2021

Pesquisa das Juventudes em Periferias Urbanas

O impacto do desemprego na juventude tem sido imenso. Com a pandemia, a quantidade de jovens que não trabalham nem estudam foi de mais de 25% no final de 2020. / Foto: Fora do Eixo.

 

 

N° 01/2021

 

Nacional

 

. Juventude negra quer viver

No início do mês de maio vivenciamos uma das maiores chacinas da história do Rio de Janeiro, no complexo do Jacarezinho. A polícia invadiu a área e assassinou 29 pessoas, o que configura a mais letal ação oficialmente autorizada já registrada, numa operação que integra o que tem sido sistematicamente denunciado por movimentos negros brasileiros como genocídio da juventude negra de periferia.

. Educação: aulas presenciais, só com vacina no braço

Mais de 90 entidades da educação pedem que o Senado vete o retorno às aulas presenciais em escolas e universidades. As entidades consideram que um retorno seguro às atividades presenciais exige adaptações na infraestrutura das escolas para garantir a segurança sanitária de estudantes, funcionários e professores. Exames de diagnóstico sistemáticos em massa e a celeridade na vacinação da população também são apontados como condições fundamentais para um retorno seguro.

. Situação de cada estado na volta às aulas

Mesmo assim, os governos estaduais determinaram o retorno às aulas presenciais na rede pública no Amapá, em Pernambuco, em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Já no Acre, em Alagoas, na Bahia, no Ceará, no Distrito Federal, em Goiás, no Maranhão, no Mato Grosso , no Mato Grosso do Sul, no Pará, na Paraíba, no Piauí, no Rio Grande do Norte, em Rondônia, em Roraima as aulas presenciais estão suspensas. No Amazonas, as aulas presenciais estão em vias de serem retomadas em algumas cidades, mas ainda não na capital. O governo do Tocantins autorizou o retorno das atividades presenciais em maio. Em Minas Gerais, no Paraná, em Santa Catarina e no Espírito Santo, algumas cidades têm retomado as aulas no modelo híbrido, não sem críticas dos profissionais da educação. Em Sergipe, o governo estadual anunciou o retorno das aulas presenciais e os professores decretaram greve. Os profissionais da educação do Acre estão em greve por tempo indeterminado, reivindicando prioridade na vacinação contra covid-19. O Maranhão segue sendo o único estado que tem vacinado todos os trabalhadores da educação acima de 18 anos, sem distinção de função e sem exigência de ser portador de comorbidades.

. Aumento na morte de jovens por covid-19

. Nesses primeiros meses de 2021, o número de jovens que faleceram devido à covid-19 mais do que duplicou em relação ao número de todo o ano de 2020 no Rio Grande do Sul. Em Belo Horizonte, a situação é semelhante, com aumento de mortes concentrado na faixa etária de 20 a 39 anos. Essas duas cidades refletem a situação geral do Brasil, na qual a população ainda não vacinada está registrando cada vez mais mortes pela covid-19. A situação se agrava ainda mais devido ao fim do auxílio emergencial, que obrigou os mais jovens a voltarem a se deslocar para trabalhar ou procurar trabalho.

. Desemprego segue crescendo entre jovens

. Como tem sido constante nos boletins conjunturais, os dados do desemprego continuam alarmantes. Em fevereiro, de acordo com os últimos dados da PNAD- Contínua, os chamados “desalentados” –  ou seja, que estão sem ocupação mas já desistiram de procurar emprego e, que por esse motivo, não são considerados “desempregados” –  já somam 5,9 milhões de pessoas. O desemprego, por sua vez, chegou a 14,423 milhões de pessoas, tendo ocorrido redução dos postos de trabalho com e sem carteira.

. O  impacto do desemprego na juventude tem sido imenso. Com a pandemia, a quantidade de jovens que não trabalham nem estudam foi de mais de 25% no final de 2020. Mulheres e pessoas negras são as proporcionalmente mais afetadas. De acordo com nota técnica do IPEA, as possibilidades de mulheres, jovens e negras mudarem da situação de ocupadas para inativas já era elevada, mas com a pandemia essa tendência se intensifica, chegando a uma diferença nas taxas de ocupação de 18,4% entre homens e mulheres, 7,3% entre jovens e mais velhos e 5,3% entre brancos e negros.

. Aumenta o desemprego entre os trabalhadores com ensino superior. Entre o fim de 2019 e fim de 2020 ocorreu um acréscimo de 43% (de 2,5 para 3,5 milhões) no número de profissionais com ensino superior desempregados. Esse numero é quase o dobro do verificado na média geral (23%)  neste mesmo intervalo de tempo.

. Desigualdade afeta mais mulheres

De acordo com pesquisa realizada pela “Girl Up Brrasil”, 1 a cada 4 jovens já faltou a alguma aula por não poder comprar absorvente. Este levantamento contribui com mais informações sobre a chamada “pobreza menstrual”, que abarca não só a falta de dinheiro para comprar absorventes, mas também indica restrições no acesso à água, saneamento básico e a serviços de saúde das mulheres. Este dado também demonstra como o tema ainda é um “tabu” na sociedade, o que tende a transferir a responsabilidade por tal processo exclusivamente aos jovens.

. Desemprego entre os jovens e carreira militar

A instabilidade profissional e desemprego são fatores que têm levado à busca por concursos em carreiras militares entre os jovens. Em 2019019, aproximadamente 48 mil jovens do sexo masculino a mais passaram a  buscar uma vaga em comparação a 2006 (saindo de aproximadamente 37 mil para 85 mil). Além da estabilidade e possibilidade de carreira, um outro motivo apresentado para essa procura é a ajuda de custo (R$ 1.199,00) que recebem os aprovados para estudarem nas escolas militares (EsPCEX e ESA).

. Inflação maior entre os mais pobres

A elevação do custo de vida continua sendo a mais grave entre os mais pobres no Brasil. Segundo dados do Ipea, no acumulado de dose meses a taxa de inflação entre os mais pobres (7,7%) permanece mais alta que entre os mais ricos (5,2%).

. Entregadores de aplicativos e ideologia do empreendedorismo

. A Rappi começou a oferecer cursos para os entregadores de aplicativos, fortalecendo o que tem sido chamado de ideologia do empreendedorismo.

. Na contramão dessa tendência, a Espanha aprovou uma reforma no código trabalhista para converter os entregadores em assalariados: será o primeiro país do mundo a legislar sobre a categoria.

. No Brasil, há um projeto apresentado ao Senado (PF 974/2021) pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) que visa conceder direitos trabalhistas para motoristas de aplicativos, inclusive os que fazem entregas.

. No Rio de Janeiro, um taxista processou a 99, reivindicando vínculo empregatício. Após acordo, recebeu 12 mil reais na justiça. Agora, ele segue encorajando colegas a fazerem o mesmo.

. Um jovem fotógrafo que precisou se virar e começar a fazer entregas por aplicativo registrou seu cotidiano na série “Tamo junto não é gorjeta”, cujas imagens nos mostram a desigualdade de experiências e dos impactos sob a pandemia – personificada em quem entrega e em quem recebe comida por aplicativos – e a precariedade do trabalho , por um lado, e a solidariedade entre  os integrantes da categoria, por outro.

 

Internacional

. Juventude latino-americana contra as reformas neoliberais

Na Colômbia, no início de maio, foi apresentado o pacotazo, que incluía reformas nas leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social, além de uma reforma tributária que impactaria sobretudo a classe trabalhadora e a classe média. Foi a gota d’água para o povo colombiano sair às ruas para protestar contra o atual governo de Iván Duque. A juventude colombiana entre 14 e 26 anos, quase 22% da população do país, é uma das faixas etárias mais impactadas pela pandemia, e está fortemente presente no Comitê Nacional de Greve, que tem organizado os protestos. “Parar para avançar, viva a greve nacional”, gritam os jovens nas ruas, seguidos por professores, caminhoneiros e indígenas. As manifestações fizeram o governo recuar com a reforma tributária, mas por terem sido violentamente reprimidas, com mais de 500 pessoas detidas nas primeiras duas semanas, os atos se intensificaram contra a violência do Estado.

. Jovens no combate à pandemia na Índia

A Índia é um país com dois terços de seus 1,3 bilhão de habitantes com menos de 35 anos.Os jovens indianos entre 14 e 19 anos têm encontrado uma maneira de ajudar o país a combater a pandemia: construído um banco de dados online sobre recursos médicos disponíveis no país. Esses jovens têm criado aplicativos para buscar ajuda, entregar doações e usar as redes sociais para levar recursos às pessoas que precisam.

. Protestos da juventude em Angola

Pela primeira vez em 46 anos de independência, os jovens no Zaire, província de Angola, saíram às ruas para se manifestar contra as injustiças do governo e reivindicando melhorias na qualidade de vida. Em Luanda, a capital angolana, a juventude organizou um protesto contra a falta de soluções para o lixo na cidade.

. O impacto da pandemia na educação da juventude

Uma pesquisa internacional com jovens de países tão diversos quanto Austrália, Zâmbia, Vietnã, França, Gana, Estados Unidos, Espanha e Brasil detectou uma unanimidade na avaliação da juventude sobre a pandemia: o impacto na educação. O acesso limitado à tecnologia, o apoio insuficiente de escolas e faculdades e o espaço físico para estudar foram as principais dificuldades apontadas pelos estudantes para enfrentar o ensino remoto. A solidão e as responsabilidades domésticas interferiram muito mais na rotina das meninas, que também destacaram o aumento de sentimentos como a solidão, o estresse e a ansiedade.

 

Nota de solidariedade

Nosso Observatório se solidariza com todas as pessoas que perderam familiares e amizades no mês de maio para a covid-19.