A Profecia se fez como previsto?
Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes.
Por Elen Rebeca*
A Pandemia é o maior fruto das piores Pestes criadas pela humanidade, são elas: Racismo, Patriarcado e Capitalismo. Ela não é apenas um efeito colateral do que esses sistemas fizeram, é em si a síntese dessa tríade maléfica.
Li e ouvi dizer ser Crise de Destino. E acredito que ela exista a muito tempo, desde da primeira dominação e apropriação do corpo e conhecimento do povo negro, da primeira estaca que marcou um pedaço de terra como propriedade privada, desde do primeiro Rio ter sido apropriado para fins lucrativos, desde do 1o mais valor expropriado e não compartilhado do fruto do trabalho de uma trabalhadora e um trabalhador. E tem inúmeros outros processos históricos de dominação que baseiam as relações sociais, e a relação entres seres humanos e a Natureza.
A Pandemia, não disseminou apenas o COVID-19, mas o fracasso potencial das estruturas sociais. A vida social está totalmente alterada, e os superficiais tecidos sociais estão cada dia mais desintegrados. Se tornaram uma colcha de retalhos toda furada, que não cobre a sensação do frio, da falta de justiça, e o anseio por uma paz interior e exterior. Lembrando que – Pedir paz sem justiça é Utopia!
As vísceras e carnificinas do Nó (as pestes que citei lá em cima) estão totalmente expostas. E isso não significa que não tenhamos aqueles e aquelas que insistem em viver no mundo da Angélica (Bambuluá, lembram?). Pregam uma espiritualidade vazia de contextos sociais, que parte do abstrato para o abstrato, tem coragem de dizer que a Pandemia ajudou em alguma coisa. São tomadas por efeitos midiáticos falsamente anti-racistas, anti-machismo, e fazem de suas redes sociais-individuais um lugar de nutrição de egos. Estimulam um autocuidado longe da vida real e não fantasiosa da população brasileira.
O demônio sem dúvida destrói tudo ao nosso redor, e também no nosso interior. Quando me refiro a demônios falo de Indústrias farmacêuticas, missões dito religiosas e solidárias em aldeias indígenas que estão ajudando a exterminar (ainda mais) o pouco que ainda resiste dos povos originários da dita “Terra” brasileira, de reflexões sobre Educação a Distância que continuam não considerar com seriedade e mínimo de coerência as desigualdades que estruturam o cotidiano da maioria dos jovens no país, do aumento da violência policial dentro das periferias durante a pandemia, pessoas sendo mantidas em cativeiro em situação de trabalho de mesma natureza do trabalho escravo, etc.
Sim são demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade. E falando em humanidade – Quem é ela? Quem cabe nela? Quem não cabe nela? Ela fala de partes ou de um todo? Ela se relaciona a um tipo de existência baseada no padrão branco, colonizador, europeu de bem viver? Tem muita coisa para refletir sobre que tipo de ideia de humanidade está enraizada socialmente. Pois ao que tudo indica, alguma coisa deu errado nesse troço.
As Pestes forjam contraditoriamente, a partir da dor (que pode ser sentida fisicamente, mentalmente, culturalmente) uma necessidade ainda maior de se organizar para alterar a situação de extremo agravamento da piora de nossas vidas, e temos muitos focos de resistência baseados em valores que essas Pestes se esforçaram e se esforçam para destruir; são eles a solidariedade, afeto, cuidado. São inúmeras organizações, agrupamentos e até mesmo muitos indivíduos se movimentando para enfrentar a Pandemia com redes de solidariedade que vão de doação de alimentos, vaquinha para pagar aluguéis, agregar pessoas dentro de suas casas, e inúmeras produções de conteúdos nas redes sociais de autocuidado (palpáveis e gratuitos) que tem ajudado muitas pessoas a resistir vivas dia após dia nesse caos. Era tudo que as Pestes não queriam, que fossemos nós: suas vítimas, a se tornar seu maior perigo. Nós, aqueles e aquelas que têm fé na construção de um novo tempo, de uma nova sociedade não mais dissociada das conexões feitas entre entre o céu e a terra.
Confesso ficar um pouco mais aliviada com a resistência se fortalecendo e outros focos se formando, e ao mesmo muito receosa com o tal “retorno” pós Pandemia. A intuição Bruxa grita dentro de mim dizendo que serão momentos cada vez mais difíceis, “observo” os Astros e eles me dizem que são momentos de intensas transformações e lições, vejo as notícias, os dados, e sinto o futuro sendo construído através de um presente bastante desconfigurado.
Será, e tem sido, um exercício diário não oscilar tanto, não drenar tanta energia, não nutrir tanta raiva e tristeza (descobri que são irmãs durante a Pandemia) por ver os meus com sangue derramado, morrendo de forma desvairada. De manter a rotina do trabalho remoto, manter os laços de afetos múltiplos através das redes sociais, estar em harmonia com a família dentro de casa. Enfim, se manter presente no presente sem me afogar com o futuro. Negócio que é desafiador, e todo dia é um acordar e dormir, para muitos nem isso, pois insônia se tornou quase que rotina.
A internet com seus processos dinâmicos, complexos e contraditórios movidos por muitas pessoas, “recheadas” de gênero, raça e classe forjou uma síntese nas redes que acho muito válida e fez todo sentido por aqui – “O Capitalismo, Racismo e o Patriarcado desalinham meus chakras”. Faz sentido minha gente?
Esse texto é uma reflexão fruto das seguintes conexões:
– Experiência da complexa tarefa de sobreviver ao cotidiano
– Música: Capítulo 4, Versículo 3 – Racionais MC’s
– Música: Só mais um Maluco – Mv Bill
– Música: Monólogo Ao Pé de Ouvido – Chico Science
– Livro: Ideias para adiar o fim do mundo – Ailton Krenak
– Reflexões inúmeras feita por Pam Ribeiro no perfil da instagram @abruxapreta
– Lives com astrólogo Dimitri Camiloto, perfil na instagram @dimitri_camiloto
– Campanha de Solidariedade Periferia Viva
– Campanha – Matriarcado com saúde comunidade de pé: colabore! Perfil na instagram@terapretas
– Livro Revolução Brasileira, Caio Prado Júnior
– Livro Os Astros Sempre nos Acompanham, Claudia Lisboa
* Bruxa, aprendiz de astrologia, militante e cientista social.