Análise sobre a produção de carnes no Brasil
Observatório da Questão Agrária
Por Matheus Gringo
Introdução
As proteínas animais são a segunda mercadoria mais exportada pelo agronegócio, de acordo com o levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, referente a 2020. Como é possível observar no gráfico abaixo, as carnes entram com 16,93% das exportações, atrás apenas da soja que ocupa a primeira posição com 42,76% das exportações agropecuárias brasileira.
GRÁFICO 1
Apesar do Brasil ser um importante exportador de carnes, ele também apresenta um mercado interno significativo para esses produtos, destinando grande parte de sua produção para o atendimento da demanda interna.
No caso da carne bovina, há um pequeno crescimento no consumo interno entre os anos de 2008 e 2020, ao saltarmos de 7,3 milhões de toneladas de carne bovina consumida no país para 7,8 milhões de toneladas. Dado o aumento da população ao longo destes anos, isso implica em uma disponibilidade per capita de 37,1 quilograma por habitante ano em 2020.
O consumo interno de carne suína também apresentou um crescimento dentro desse mesmo período, saltando de 2,4 milhões de toneladas em 2008 para 3,1 milhões de toneladas para os dados do acumulado até abril de 2020. A disponibilidade per capita acompanhou este crescimento, chegando em 2020 em 14,8 quilogramas por habitante ano.
O consumo interno da carne de frango foi o que apresentou o maior crescimento relativo no período. Seu consumo cresceu de 7,7 milhões de toneladas em 2008 para 9,9 milhões de toneladas ano de 2020. Deste modo, a disponibilidade per capita também apresentou crescimento, alcançando em 2020 46,81 quilogramas por habitante ano.
Vale ressaltar que o ano de 2020 está sendo marcado pela pandemia do novo coronavírus, o que faz com que os setores do agronegócio sejam impactados de diferentes maneiras. O setor das carnes, por exemplo, é um dos mais impactos neste contexto, fruto da grande incidência da Covid-19 nos trabalhadores e trabalhadoras dos frigoríficos, que são obrigados a manter a proximidade não processo produtivo.
O Ministério Público do Trabalho tem determinado a paralisação de plantas frigoríficas em diversos estados, como Mato Grosso e Rio Grande do Sul, atingindo todas as principais empresas do setor, como JBS, Marfrig, Minerva entre outros.
Além disso, o principal mercado de exportação das carnes brasileiras, a China, tem imposto bloqueio das importações de carnes dos frigoríficos que apresentaram altos índices de contaminação de seus trabalhadores. A preocupação do país asiático é que as carnes possam ter algum tipo de contaminação.
O presente estudo apresenta os dados dos rebanhos, abates, produção, consumo, importação e exportação das carnes bovinas, suína e de frangos produzidos no Brasil, bem como os principais destinos desses alimentos entre os anos de 2008 a 2020.
Bovinos
O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, com um rebanho de mais de 244 milhões de cabeças em 2019, ficando atrás apenas do plantel indiano, que conta com mais de 303 milhões de cabeças. Segundo dados do USDA organizados pelo Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, em 2019 havia mais de 987 milhões cabeças de gado no mundo.
Abaixo reunimos os 17 maiores rebanhos bovinos por países; a ordem das posições na tabela representa os plantéis de 2020.
TABELA 1
Rebanho de bovinos (em milhões de cabeças)
Os dados da tabela acima apontam que os cinco primeiros países do ranking representam 83,1% do rebanho mundial; os demais 12 países representam 16,9% do plantel mundial bovino.
No gráfico abaixo foi selecionado os rebanhos bovinos da Índia, Brasil, União Europeia, China e EUA. Vale ressaltar que China, União Europeia e EUA possuem uma quantidade próxima no número de rebanhos, entretanto, mesmo se somássemos esses números, eles não chegariam ao tamanho do rebanho indiano.
GRÁFICO 2
Rebanho de bovinos (em milhões de cabeças)
Principais países criadores
A partir de 2014 o Brasil caiu para a segunda posição no ranking de abates bovino, após ser ultrapassado pela União Europeia, que manteve números próximos a nós em anos anteriores. Em 2019 o bloco europeu abateu mais de 11,8 milhões de cabeças de gado, enquanto o Brasil contou com um abate de 9,5 milhões de cabeças. Segundo dados de abril deste ano, a União Europeia já atinge 11,5 milhões e o Brasil 9 milhões.
Abaixo do Brasil no ranking de abates se encontra também grandes produtores de gado, como Argentina, EUA e Austrália.
A seguir apresentamos a tabela com os 10 países com maiores abates entre 2008 e 2020.
TABELA 2
Abate de bovinos (em milhões de cabeças)
Em relação à produção de carne bovina os EUA assumem a liderança mundial, com uma produção de mais de 12,3 milhões de toneladas de carne bovina e vitelo em 2019, com tendência de crescimento em 2020, que já ponta para a produção no acumulado até abril em 12,5 milhões de toneladas.
O Brasil segue na segunda posição do ranking, com uma produção de 10,2 milhões de toneladas no ano passado e mais de 10,3 milhões de toneladas de produção de carne bovina e vitelo no acumulado até o mês de abril de 2020.
O ranking segue com a União Europeia na terceira posição (7,8 milhões de toneladas), China (6,9 milhões de toneladas) e Índia (4,1 milhões de toneladas) para o acumulado até o mês de abril de 2020.
Abaixo apresentamos a tabela com a produção de carne bovina e vitelo para os 15 principais produtores nacionais, com o levantamento entre os anos de 2008 e 2020.
TABELA 3
Produção de carne bovina e de vitelo em 1.000 toneladas (peso equivalente carcaça)
O consumo de carne bovina tem apresentado crescimento na última década, chegando em 2019 com um consumo mundial de cerca de 59,6 milhões de toneladas. No acumulado dos 12 meses fechados em abril de 2020 esse número chega a 59,5 milhões de toneladas.
Os EUA lideram o consumo mundial de carne bovina, com 59,6 milhões de toneladas em 2019, seguida pela China (12,4 milhões) e Brasil (8,8 milhões de toneladas).
Abaixo apresentamos a relação dos 15 maiores países consumidores de carne bovina entre o período de 2008 e 2020, organizado com base nos valores registrados neste último ano.
TABELA 4
Consumo doméstico de carne bovina e de vitelo em 1.000 toneladas (peso equivalente carcaça)
O comércio internacional de carne bovina tem apresentado expansão no período analisado (2008 a 2020), com exceção de 2016. Em 2019 houve um volume de 10,9 milhões de toneladas no somatório de todos os países exportadores.
O Brasil se posiciona na liderança em todo o período analisado neste estudo, com um volume exportado em 2019 de 2,3 milhões de toneladas, seguido da Austrália, com 1,7 milhões de toneladas, e os EUA, com 1,4 milhões de toneladas.
Abaixo apresentamos a lista com os 10 maiores exportadores de carne bovina; as posições são organizadas com base nos valores de 2020.
TABELA 5
Exportações de carne bovina e de vitelo em 1.000 toneladas (peso equivalente carcaça)
Assim como as exportações de carne bovina, as importações também apresentaram expansão em volume no período analisado. No agregado dos países, o ano de 2019 representou um volume de 8,8 milhões de toneladas de carne bovino e vitelos.
A liderança mundial nas importações em 2019 ficou com a China, importando um volume de 2,1 milhões de toneladas, seguida dos EUA, com 1,4 milhões de toneladas, e o Japão, com um volume de 853 mil toneladas.
Abaixo a relação dos 10 maiores importadores de carne bovina; as posições são referentes aos valores importados de 2020 e correspondem ao período de 2008 ao corrente ano.
TABELA 6
Importações de carne bovina e de vitelo em 1.000 Toneladas (peso equivalente carcaça)
O principal destino das exportações brasileiras de carne bovina são os mercados asiáticos e oriente médio. A China lidera o consumo da commoditie brasileira, ao representar 23,9% das exportações no ano de 2019, segundo dados do sistema AGROSAT, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Na sequência vem Hong Kong (12,9%) e os Emirados Árabes (9,3%).
No gráfico abaixo é apresentado os principais destinos das exportações brasileiras de carne bovina.
GRÁFICO 3
Destinos das exportações brasileiras de carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada – 2019
Suínos
A produção suína mundial apresenta pouca variação no tamanho do rebanho no período selecionado para este estudo, entre os anos de 2008 a 2020. O rebanho suíno mundial no ano de 2019 foi de 767,5 milhões de cabeças.
A China é o país que possui o maior rebanho, atingido a cifra de 428 milhões de cabeças em 2019. No entanto, é importante destacar que desde 2016 esse rebanho tem apresentado uma tendência de redução, grande parte em função da peste suína africana que tem dizimado parte do plantel chinês desde 2018; ainda assim, este país segue na liderança no tamanho de rebanho.
Em segundo lugar no ranking da produção suína está a União Europeia, com um plantel de 148,1 milhões, seguida dos EUA, com 75 milhões, e o Brasil, com 38,4 milhões de cabeça.
Abaixo a tabela com os 11 países com maiores rebanhos suínos no mundo; a posição na lista segue os dados referente a 2020.
TABELA 7
Rebanho de suínos (em milhões de cabeças)
Os quatro primeiros países da lista acima (China, EUA, Brasil e Rússia) mais a União Europeia representam 91,7% de todo o rebanho suíno mundial. Mesmo somado os plantéis de EUA, Rússia, Brasil e União Europeia, não é possível atingir o tamanho do rebanho chinês.
GRÁFICO 4
Rebanho de suínos (em milhões de cabeças)
principais países criadores
A China também se apresenta na liderança no número de abates anuais. Em 2019, 544 milhões de cabeças foram abatidas no país asiático, representando quase a metade dos abates anuais de suínos em todo o mundo;
o total dos abates mundiais no ano de 2019 foi de 1,1 bilhão de cabeças.
Em segundo lugar está a União Europeia, com 258,6 milhões de cabeças, seguido dos EUA, com 129,2 milhões, Rússia, com 43,4 milhões, e Brasil na quinta posição, com o abate de 41,6 milhões no ano de 2019.
Na tabela abaixo a relação dos 11 países com maior número de abates; a posição de cada país é organizada com base nos números de 2020.
TABELA 8
Abate de suínos (em milhões de cabeças)
A produção mundial de carne suína atingiu em 2019 a cifra de 102 milhões de toneladas, com a China liderando esta produção, com 42,5 milhões de toneladas, seguida da União Europeia com cerca de 23,9 milhões de toneladas, os EUA com 12,5 milhões, Brasil com cerca de 3,9 milhões e a Rússia com pouco mais de 3,3 milhões de toneladas.
Na tabela abaixo é possível verificar a distribuição da produção de carne suína nos 11 principais produtores mundiais.
TABELA 9
Produção de carne suína em 1.000 Toneladas (peso equivalente carcaça)
O ranking do consumo doméstico desta proteína segue uma distribuição parecida entre os cinco primeiros colocados na tabela acima que descreve a produção de carne suína. A China, assim como na produção, segue em primeiro lugar, com um consumo de 44,7 milhões de toneladas em 2019, seguida da União Europeia com 20,4 milhões de toneladas, EUA com um consumo doméstico de 10,1 milhões de toneladas, Rússia com 3,3 milhões de toneladas e Brasil com 3,1 milhões de toneladas.
A seguir a tabela aponta os 10 maiores consumidores de carne suína mundial; as posições dos países são organizadas com base nos dados de 2020.
TABELA 9
Consumo de carne suína em 1.000 Toneladas (peso equivalente carcaça)
As exportações de carne suína têm apresentado crescimento no período analisado neste estudo, chegando a 2019 com um total de cerca de 9,3 milhões de toneladas. A União Europeia é a principal exportadora deste produto com base nos dados de 2019, atingindo a cifra de 3,5 milhões de toneladas, seguida dos EUA com 2,9 toneladas, Canadá com 1,3 milhões de toneladas, e o Brasil na quarta posição, com 861 mil toneladas exportadas neste ano.
A tabela abaixo apresenta a distribuição dos 10 principais países exportadores de carne suína entre os períodos de 2008 e 2020; as posições dos países é organizada com base neste último ano.
TABELA 10
Exportações de carne suína em 1.000 toneladas (peso equivalente carcaça)
A China, apesar de grande produtora mundial de suínos, também se destaca como a maior importadora deste produto. Suas importações de carne suína vieram crescendo até o ano de 2016, registrando variações negativas nas importações nos anos de 2017 e 2018, mas voltando a crescer em 2019. Este processo pode estar associado à redução do rebanho em consequência da peste suína africana, já apontada acima, impondo a necessidade de aumentar as importações para o consumo doméstico.
Neste sentido, no ano de 2019 a China importou 2,4 milhões de toneladas, seguida pelo Japão (1,5 milhões de toneladas) e o México (975 mil toneladas).
Abaixo a tabela indica os 10 maiores importadores de carne suína entre os anos de 2008 à 2020.
TABELA 11
Importações de carne suína em 1.000 toneladas (peso equivalente carcaça)
Segundo dados do sistema AGROSAT, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a China representou 56,34% das exportações brasileiras de carne suína no acumulado dos 12 meses encerrados em abril de 2020, reforçando o papel central do país asiático como mercado para os produtos do agronegócio brasileiro.
No gráfico abaixo está selecionado os principais destinos das exportações brasileiras de carne suína; os dados são do acumulado até o mês de abril de 2020.
GRÁFICO 5
Destinos das exportações brasileiras de carne de suíno congelada, fresca ou refrigerada – 2020
Frangos
Entre os anos de 2008-2020 verifica-se um crescimento anual desta séria da produção de carne de frango em nível mundial, chegando ao ano de 2019 com um total de 99 milhões de toneladas de carne de frango produzida.
Os EUA lideram a produção em todo o período analisado, com 19,4 milhões de toneladas em 2019, seguido da China, com um total de 13,7 milhões de toneladas. O Brasil se posiciona na terceira colocação com aproximadamente 13,7 milhões de toneladas.
Na tabela abaixo listamos os 10 principais países produtores de carne de frango em nível mundial.
TABELA 12
Produção de carne de frango em 1.000 Toneladas (peso equivalente carcaça)
No gráfico a seguir, podemos verificar dois grupos de países que possuem produções próximas: China, Brasil e União Europeia, de um lado, e Rússia, Índia, México, Tailândia, Argentina e Peru do outro.
GRÁFICO 6
Produção de carne de frangos (em mil cabeças)
principais selecionados
Os EUA são os maiores produtores de frango no mundo, além de serem o maiores consumidores deste produto, com 16,7 milhões de toneladas consumidas em 2019. Na sequência vem a China (13,9 milhões de toneladas), União Europeia (11,6 milhões de toneladas) e Brasil (9,9 milhões de toneladas).
Abaixo listamos os 10 principais consumidores de carne de frango no mundo; as posições são ordenadas pelo valor registrado no acumulado de 12 meses até abril de 2020.
TABELA 13
Consumo de carne de frango em 1.000 Toneladas
Apesar de o Brasil se posicionar como terceiro maior produtor deste produto, figura como principal exportar em todo o período analisado, atingindo 3,8 milhões de toneladas exportadas de carne de frango no ano de 2019. Próximo da posição brasileira neste mercado está os EUA, com 3,3 milhões de toneladas, e mais abaixo a União Europeia, com 1,5 milhões de toneladas.
Listamos abaixo os 10 maiores exportadores de carne de frango a nível mundial.
TABELA 14
Exportações de carne de frango em 1.000 toneladas
No ranking das importações o Japão lidera na série selecionada para este estudo, com uma importação em 2019 de cerca de 1 milhão de toneladas de carne de frango, seguido pelo México, com 880 mil toneladas, e a China, com uma importação de 580 mil toneladas.
Listamos os 10 principais importadores mundiais de carne de frango no período de 2008 à 2020; as posições são ordenadas a partir dos dados acumulados até abril de 2020.
TABELA 15
Importações de carne de frango em 1.000 toneladas
Segundo dados do sistema AGROSAT, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a região asiática é central para o mercado de carne de frango brasileiro. A China representou 24,0% das exportações brasileiras deste produto no acumulado dos 12 meses encerrados em abril de 2020. Além disso, Japão e outros países da região figuram entre os principais destinos, como pode ser analisado no gráfico abaixo.
GRÁFICO 7
Destinos das exportações brasileiras de carne de frango congelada, fresca ou refrigerada – 2020