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Capitalismo ContemporâneoObservatório da Questão Agrária

Complexo da Soja: Análise dos dados nacionais e internacionais

A soja no mundo

A produção mundial de soja atingiu o total de 362,1 milhões de toneladas entre os meses de janeiro a junho de 2019, sendo cultivada em 125,7 milhões de hectares, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1. Brasil e EUA se alternaram entre os maiores produtores do grão ao longo deste ano.

Neste período, os EUA produziram 123,7 milhões de toneladas em 35,7 milhões de hectares, enquanto o Brasil produziu, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2, 114,8 milhões de toneladas em 35,8 milhões de hectares.

A soja é a principal oleaginosa produzida, processada e comercializada no mundo, com uma distância considerável entre as demais oleaginosas mais importantes em termos de produção e comercialização, como a canola (72,8 milhões de toneladas); o girassol (51,5 milhões de toneladas); amendoim (46,1 milhões de toneladas); sementes de algodão (43,7 milhões de toneladas); e óleo de coco (6 milhões de toneladas), durante a safra 2018/2019 (USDA).

Na tabela abaixo é possível observar a evolução da produção, importação, exportação, processamento e os estoques finais das principais oleaginosas no mundo.

TABELA 1
Produção, importação, exportação, processamento e o estoque final
Principais oleaginosas (em mi/t)

Produção

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Óleo de coco

5,32

5,51

5,94

5,98

Semente de algodão

35,76

39,09

45,15

43,67

Palma

15,97

17,39

18,76

19,50

Amendoim

41,12

44,94

46,58

46,07

Canola (Colza)

68,74

69,43

74,91

72,78

Soja

316,57

350,58

341,53

362,87

Girassol

40,57

48,05

47,84

51,51

Total

524,05

575,00

580,70

602,38

Importação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Óleo de coco

0,13

0,11

0,11

0,10

Semente de algodão

0,67

0,96

0,75

0,71

Palma

0,06

0,06

0,08

0,07

Amendoim

3,30

3,15

2,98

3,21

Canola (Colza)

14,15

15,51

15,33

15,33

Soja

133,35

144,22

152,92

148,83

Girassol

1,87

2,17

2,15

2,22

Total

153,52

166,18

174,31

170,47

Exportação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Óleo de Coco

0,15

0,19

0,18

0,19

Semente de algodão

0,70

0,89

0,98

0,90

Palma

0,04

0,08

0,08

0,05

Amendoim

3,53

3,67

3,36

3,51

Canola (Colza)

14,35

15,80

16,20

16,11

Soja

132,57

147,50

153,08

150,16

Girassol

2,01

2,46

2,44

2,43

Total

153,35

170,60

176,32

173,34

Processamento

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Óleo de coco

5,28

5,40

5,84

5,86

Semente de algodão

28,42

29,19

34,14

34,22

Palma

15,90

17,25

18,69

19,41

Amendoim

16,74

17,81

18,42

17,52

Canola (Colza)

66,71

67,34

68,49

68,24

Soja

275,13

287,80

295,14

300,96

Girassol

36,67

43,05

43,91

46,92

Total

444,84

467,85

484,62

493,14

Estoques finais

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Óleo de coco

0,08

0,07

0,07

0,07

Semente de algodão

0,88

1,39

1,86

1,54

Palma

0,24

0,24

0,18

0,17

Amendoim

3,45

3,69

4,39

4,98

Canola (Colza)

6,17

4,99

7,38

7,60

Soja

80,40

96,16

99,10

112,98

Girassol

2,65

3,30

2,93

3,27

Total

93,88

109,84

115,90

130,60

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Apesar de grande produtor do grão, o Brasil processa cerca de 1/3 da produção. Segundo a USDA, na safra 2018/2019, os principais processadores foram a China (86 milhões de toneladas), os EUA (56,7 milhões de toneladas), Argentina (41 milhões de toneladas) e o Brasil (43,2 milhões de toneladas), que aparece apenas na quarta posição.

A baixa quantidade de soja processada para exportação pode estar relacionada com a Lei Kandir, de 1996, que desonera os exportadores de produtos básicos de pagamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

TABELA 2
Soja: produção, processamento e o estoque final
Principais países (em mi/t)

Produção

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Estados Unidos

106,87 116,93 120,07 123,66

Brasil

96,50 114,60 122,00 117,00

Argentina

58,80 55,00 37,80 56,00

China

12,36 13,64 15,20 15,90

Índia

6,93 10,99 8,35 11,50

Paraguai

9,22 10,34 10,30 9,00

Canadá

6,46 6,60 7,72 7,30

Outros

19,43 22,48 20,10 22,51

Total

316,57 350,58 341,53 362,87
Processamento

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

81,50 88,00 90,00 86,00

Estados Unidos

51,34 51,74 55,93 56,74

Argentina

43,27 43,31 36,93 41,00

Brasil

39,75 40,41 44,52 43,20

União Europeia

14,95 14,40 14,95 16,60

Índia

5,50 9,00 7,70 9,50

México

4,40 4,60 5,25 5,50

Rússia

4,00 4,40 4,60 4,80

Paraguai

3,80 3,75 3,87 3,90

Egito

1,15 2,20 3,20 3,30

Iran

1,95 2,05 2,70 2,60

Bolívia

2,55 2,55 2,30 2,55

Paquistão

1,25 1,68 2,30 2,40

Japão

2,28 2,39 2,40 2,40

Taiwan

1,98 2,05 2,15 2,25

Outros

15,47 15,27 16,34 18,22

Total

275,13 287,80 295,14 300,96
Estoques finais

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Argentina

27,16 27,00 23,75 29,45

Estados Unidos

5,35 8,21 11,92 28,56

Brasil

24,56 33,21 32,70 26,75

China

17,14 20,66 23,52 21,20

União Europeia

1,56 1,15 1,40 1,44

Outros

4,64 5,93 5,80 5,57

Total

80,40 96,16 99,10 112,98

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Na safra 2018/2019 foram exportadas globalmente 150,2 milhões de toneladas de soja. Os principais países exportadores no mundo são: Brasil (77,2 milhões de toneladas), EUA (46,3 milhões de toneladas); Argentina (8,7 milhões de toneladas); Paraguai (5,6 milhões de toneladas); e Canadá (5,4 milhões de toneladas), conforme detalhado na tabela 3.

Do outro lado, os maiores importadores neste mesmo período analisado foram a China (85 milhões de toneladas), União Europeia (15,8 milhões toneladas); e México (5,2 milhões toneladas) (TABELA 3).

TABELA 3
Soja: importação e exportação
Principais países (em mi/t)

Importação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

83,23 93,50 94,10 85,00

União Europeia

15,12 13,44 14,58 15,80

México

4,13 4,13 4,87 5,23

Argentina

0,68 1,67 4,70 6,35

Egito

1,30 2,12 3,26 3,35

Tailândia

2,80 3,08 2,48 3,15

Japão

3,19 3,18 3,26 3,30

Indonésia

2,27 2,65 2,48 2,73

Taiwan

2,48 2,57 2,67 2,73

Turquia

2,28 2,27 2,78 2,60

Outros

15,88 15,63 17,74 18,59

Total

133,35 144,22 152,92 148,83
Exportação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Brasil

54,38 63,14 76,18 77,25

Estados Unidos

52,87 58,96 58,07 46,27

Argentina

9,92 7,03 2,11 8,75

Paraguai

5,40 6,12 6,03 5,60

Canada

4,24 4,59 4,93 5,40

Outros

5,76 7,66 5,77 6,90

Total

132,57 147,50 153,08 150,16

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

A cadeia produtiva da soja se divide, principalmente, entre a produção do grão, farelo de soja – destinado sobretudo para a alimentação animal – e óleo de soja.

Neste sentido, a China conta com uma produção do farelo de soja de 68,1 milhões de toneladas; seguida dos EUA, com 44,3 milhões de toneladas; Argentina, com 30,9 milhões de toneladas; Brasil, com 33,5 milhões de toneladas; e a União Europeia, com 13,1 milhões de toneladas.

Na tabela 4 são apresentados os maiores produtores mundiais de farelo de soja entre as safras 2015/2016 a 2018/2019.


TABELA 4
Farelo de Soja: produção
Principais países (em mi/t)

Produção

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

64,55 69,70 71,28 68,11

Estados Unidos

40,53 40,63 44,66 44,33

Argentina

33,21 33,28 27,93 30,95

Brasil

30,75 31,28 34,50 33,50

União Europeia

11,81 11,38 11,81 13,11

Índia

4,40 7,20 6,16 7,60

México

3,48 3,64 4,15 4,35

Outros

27,25 28,84 31,86 33,91

Total

215,97 225,93 232,35 235,87

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Já o mercado mundial do farelo de soja tem como principais exportadores a Argentina (28 milhões de toneladas), o Brasil (16,1 milhões de toneladas) e os EUA (12,6 milhões de toneladas), em relação aos dados de 2018/2019.

Do ponto de vista das importações destaca-se a União Europeia (18,5 milhões de toneladas) e Indonésia e Vietnam (com ambos importando 4,8 milhões de toneladas).

Abaixo, a tabela 5 apresenta os principais importadores e exportadores para o período 2015/2016 a 2018/2019.

TABELA 5
Farelo de Soja: importação e exportação
Principais países (em mi/t)

Importação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

União Europeia

19,21

18,79

18,35

18,50

Indonésia

4,20

4,26

4,45

4,85

Vietnam

5,09

4,95

4,80

4,85

Filipinas

2,62

2,66

2,75

2,95

Tailândia

2,43

2,78

3,19

2,90

México

2,37

1,99

1,82

2,00

Coreia do Sul

2,12

1,76

1,85

1,90

Japão

1,72

1,62

1,73

1,77

Malásia

1,29

1,43

1,53

1,60

Colômbia

1,21

1,28

1,43

1,50

Outros

19,82

18,87

18,09

19,91

Total

62,09

60,40

59,98

62,73

Exportação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Argentina

30,33

31,32

25,35

28,00

Brasil

15,41

13,76

16,06

16,10

Estados Unidos

10,84

10,51

12,72

12,61

Paraguai

2,56

2,37

2,63

2,58

Índia

0,41

2,01

1,84

1,85

Outros

5,97

4,81

5,29

5,72

Total

65,53

64,78

63,88

66,86

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

O farelo de soja é utilizado principalmente para a composição de rações animais, destinado à alimentação de bovinos, aves e suínos. Os principais consumidores deste produto do complexo da soja são China, EUA, União Europeia e o Brasil.

Na tabela 6 são apresentados os dados do consumo interno entre os períodos 2015/2016 a 2018/2019.

TABELA 6
Farelo de Soja: consumo interno
Principais países (em mi/t)

 

Consumo Interno

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

62,66

68,65

70,11

67,19

Estados Unidos

30,04

30,31

32,24

32,48

União Europeia

30,69

30,24

30,04

31,08

Brasil

16,47

16,94

17,71

18,13

México

5,70

5,77

5,95

6,33

Índia

4,46

4,75

4,80

5,60

Vietnam

5,47

5,74

5,99

6,02

Indonésia

4,15

4,25

4,50

4,75

Tailândia

4,23

4,23

4,25

4,35

Rússia

3,10

3,35

3,45

3,55

Egito

2,85

2,98

3,15

3,40

Japão

3,46

3,42

3,55

3,58

Iran

3,08

3,18

3,30

3,43

Argentina

2,67

2,85

3,00

3,19

Filipinas

2,60

2,72

2,85

3,05

Outros

31,51

32,37

34,38

36,29

Total

213,14

221,76

229,26

232,40

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Outro produto derivado do complexo da soja é a fabricação de óleo. Neste quesito, os principais produtores são China (15,4 milhões de toneladas), EUA (11,04 milhões de toneladas) e Brasil e Argentina se alternando no terceiro lugar (8,2 milhões de toneladas e 8 milhões de toneladas, respectivamente) no período 2018/2019.

Do ponto de vista do consumo interno, os três principais consumidores são China, EUA e Brasil. A tabela 7 traz os dados de produção e consumo de óleo de soja nos principais países produtores e consumidores.


TABELA 7

Óleo de soja: produção e consumo interno
Principais países (em mi/t)

Produção

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

14,61

15,77

16,13

15,41

Estados Unidos

9,96

10,04

10,78

11,04

Argentina

8,43

8,40

7,24

8,00

Brasil

7,63

7,76

8,54

8,21

União Europeia

2,84

2,74

2,84

3,15

Índia

0,99

1,62

1,39

1,71

México

0,79

0,82

0,94

0,98

Outros

6,32

6,68

7,33

7,79

Total

51,56

53,81

55,17

56,30

Consumo Interno

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

China

15,35

16,35

16,50

16,11

Estados Unidos

9,15

9,01

9,70

10,34

Brasil

6,29

6,57

6,94

7,13

Índia

5,25

5,15

4,72

5,05

Argentina

2,84

2,99

3,08

2,73

União Europeia

2,29

2,21

2,23

2,31

México

1,02

1,07

1,06

1,15

Bangladesh

0,79

1,01

1,01

1,05

Egito

0,96

0,61

0,76

0,81

Argélia

0,70

0,71

0,71

0,75

Iran

0,68

0,70

0,71

0,72

Paquistão

0,42

0,47

0,49

0,53

Peru

0,41

0,44

0,46

0,50

Marrocos

0,48

0,47

0,50

0,51

Coréia do Sul

0,44

0,45

0,47

0,49

Outros

5,15

5,22

5,31

5,60

Total

52,19

53,41

54,63

55,76

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Já o mercado internacional do óleo de soja segue tendo como principais exportadores Argentina, Brasil, União Europeia e EUA. Do ponto de vista da importação, os principais países são Índia, China, Bangladesh e Argélia.

A tabela 8 lista os principais importadores e exportadores e a quantidade comercializada para o período de 2015/2016 a 2018/2019.

TABELA 8
Óleo de soja: importação e exportação
Principais países (em mi/t)

 

Importação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Índia

4,27

3,53 2,98 3,40

China

0,59

0,71 0,48 0,80

Bangladesh

0,64

0,83 0,78 0,78

Argélia

0,73

0,67 0,72 0,76

Peru

0,38

0,45 0,49 0,50

Marrocos

0,47

0,50 0,49 0,52

Colômbia

0,37

0,35 0,36 0,38

União Europeia

0,33

0,29 0,28 0,33

Coreia do Sul

0,25

0,31 0,28 0,30

Egito

0,67

0,25 0,23 0,25

Outros

2,99

3,09 2,63 2,85

Total

11,69

10,97 9,72 10,85
Exportação

Safra 2015/16

Safra 2016/17

Safra 2017/18

Safra 2018/19

Argentina

5,70 5,39 4,13 5,20

Brasil

1,55 1,24 1,51 1,20

União Europeia

0,92 0,82 0,90 1,00

Estados Unidos

1,02 1,16 1,11 0,93

Paraguai

0,71 0,68 0,70 0,71

Rússia

0,43 0,53 0,57 0,59

Bolívia

0,44 0,34 0,38 0,35

Outros

1,01 1,17 1,20 1,33

Total

11,77 11,33 10,50 11,30

Fonte: USDA, julho/2019
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Expansão do complexo da soja no Brasil

Como apontado a partir dos dados apresentados na primeira parte deste estudo, Brasil e EUA se tornaram os principais produtores de soja no mundo, alternando o primeiro lugar a cada safra.

A soja foi implantada no Brasil no início do século XX, principalmente na região Sul. No entanto, a partir da década de 1970, com o efeito que a moratória das exportações estadunidenses causou na oferta global do grão, o Brasil passa a expandir sua produção a outras regiões do país.

O Estado contribuiu com essa expansão com créditos subsidiados e aporte em infraestrutura e pesquisa, com o surgimento da Embrapa em 1973 e da Embrapa Soja e Embrapa Cerrado em 1975.

Conforme os dados da CONAB, a área cultivada com soja no Brasil teve um crescimento vertiginoso nas últimas quatro décadas, saltando de 6,9 milhões de hectares (1976/1977) para 35,9 milhões de hectares (2018/2019).

Este crescimento se deu principalmente com o deslocamento da produção de soja para a região centro-oeste. Na última safra, todas as regiões do país registraram o cultivo do grão. Apenas o centro-oeste registrou 16,1 milhões de hectares de cultivo de soja, liderado pelo estado de Mato Grosso, com 9,7 milhões de hectares plantados. A região sul registrou a segunda maior área com essa cultura, com 11,9 milhões de hectares. O Rio Grande do Sul foi o estado com as maiores áreas cultivadas na região, responsável por 5,8 milhões de hectares de plantio. Na sequência vem a região nordeste, com 3,3 milhões de hectares e tendo o Maranhão como o principal produtor na região (992,4 mil hectares). Por fim, a região sudeste e norte apresentou, respectivamente, 2,6 milhões e 2 milhões de hectares cultivados.

A seguir, o gráfico com a expansão da área cultivada com a cultura da soja no país.

GRÁFICO 1
Soja: Série Histórica de Área Plantada
Brasil, Safras 1976/77 – 2018/19 (em mil hectares)

Fonte: CONAB
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

O crescimento da área plantada refletiu no grande aumento da quantidade produzida, saltando dos 12,1 milhões de toneladas na safra 1976/1977 para 115 milhões de toneladas na safra 2018/2019.

Como pode ser verificado no gráfico abaixo, assim como a área plantada, a produção também passa a ter uma tendência de crescimento acelerada a partir do início do século XXI, com a ampliação da demanda chinesa pela commoditie.

GRÁFICO 2
Soja: Série Histórica de Produção
Brasil, Safras 1976/77 – 2018/19 (em mil toneladas)


Fonte: CONAB
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

A ampliação da produção da soja no país se dá principalmente em função do aumento da área cultivada, o que tem causado forte pressão sobre a fronteira agrícola, principalmente na região Centro-Oeste e Norte. Essa ampliação também ocorre em detrimento de outras culturas agrícolas e pecuária.

A produtividade média da cultura da soja no país passou de 1.748 kg/ha na safra 1976/1977 para 3.206 kg/ha na safra 2018/2019. As regiões que apontam as maiores produtividades são as regiões Centro-Oeste e Sul, com 3.269 kg/ha e 3.184 kg/ha, respectivamente. Na sequência vem a região Nordeste, com 3.167 kg/ha, região Sudeste com 3.147 kg/ha e região Norte, com 2.980 kg/ha.

Segundo o Compêndio de Estudo CONAB de 2017 “A Produtividade da Soja: análise e perspectivas”,

A produção é obtida pela multiplicação entre a área e a produtividade, ou seja, qualquer expansão em produção é explicada ou por um incremento de área ou por um ganho de produtividade. O Brasil, ao longo dos últimos 40 anos, obteve uma forte expansão em área cultivada, ao passo que a produtividade não teve o mesmo comportamento nesse período. Enquanto a área saltou de 6.949 mil hectares na safra 1976/77, para 33.251,9 mil hectares na safra 2015/16, sendo multiplicada por 4,8 em 40 anos, a produtividade avançou de 1,748 mil kg/ha em 1976/77, para 2,870 mil kg/ha na temporada 2015/16, sendo multiplicada por 1,6 em 40 anos. Ou seja, enquanto a área cultivada teve um aumento de cerca de 378,5% nos últimos 40 anos, a produtividade avançou 64,2% ao longo de todo o período. (CONAB, 2017, p. 8)

A evolução da produtividade da soja pode ser identificada no gráfico a seguir.

GRÁFICO 3
Soja: Série Histórica de Produtividade
Brasil, Safras 1976/77 – 2018/19 (em kg/ha)

Fonte: CONAB
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Os dados indicam que a evolução da soja no Brasil se viabilizou principalmente ao ampliar a área plantada, por meio da expansão da fronteira agrícola, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste, mas também a partir da substituição de outras culturas agrícolas ou pecuária para a produção da soja.

Ao analisar os dados de produção, área cultivada e aumento de produtividade, verifica-se que a área cultivada com a soja aumenta em maior escala que a produtividade da cultura, como pode ser observado no gráfico a seguir.

GRÁFICO 4
Série Histórica da Soja: produção, área e produção
Brasil, Safras 1976/77 – 2018/19 (safra 1976/77=100)

Fonte: CONAB
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

 

Neste sentido, a expansão da produção de soja sustentada fundamentalmente pelo aumento da área cultivada implicou no deslocamento desta cultura para outras regiões do país, em especial para a região Centro-Oeste, tornando Mato Grosso o principal produtor do grão.

Nos mapas a seguir, é possível verificar a territorialização da produção de soja no período de 2002, quando há a expansão da produção vinculada à demanda chinesa pelo grão e a territorialização da soja no ano de 2018, sendo possível verificar esse deslocamento para a região Centro-Oeste.

MAPA 1
Soja em grão: área plantada em hectares – Brasil, 2002

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social


MAPA 2

Soja em grão: área plantada em hectares – Brasil, 2018

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Elaboração: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

A evolução da produção e do consumo interno dos produtos derivados do complexo da soja tem relação com o aumento da demanda externa, como indicam dados organizados pela CONAB. Até a safra 2011/2012, a maior parte da produção de soja era destinada para o consumo interno, com um crescimento mais acelerado das exportações a partir da virada para o século XXI. Na safra 2012/2013 essa lógica se inverte, e o mercado externa passa a ser o principal destino da produção de soja, em especial a China.

Na safra 2011/2012 a quantidade destinada ao consumo interno era de 36,7 milhões de toneladas, enquanto a quantidade exportada estava na casa dos 32,4 milhões de toneladas. Esse valor se modifica na safra seguinte, e o consumo passa a representar 38,2 milhões toneladas, ao mesmo tempo que as exportações representam 42,8 milhões de toneladas.

A tabela a seguir traz os dados dos estoques, produção, importação, exportação e consumo do grão para as safras 1999/2000 a 2018/2019.

TABELA 9
Soja: evolução comparativa por safra Brasil (em mil/t)

Safra

Estoque Inicial

Produção

Importação

Consumo

Exportação

Estoque Final

2018/19

1.391

115.018

150

45.200

68.000

3.359

2017/18

7.780

119.282

187

42.600

83.258

1.391

2016/17

5.405

114.075

254

43.800

68.155

7.780

2015/16

2.671

95.435

382

41.500

51.582

5.405

2014/15

2.943

96.228

324

42.500

54.324

2.671

2013/14

1.535

86.121

579

39.600

45.692

2.943

2012/13

745

81.499

283

38.200

42.792

1.535

2011/12

3.307

66.383

267

36.754

32.458

745

2010/11

2.888

75.324

41

41.970

32.976

3.307

2009/10

955

68.688

118

37.800

29.073

2.888

2008/09

4.817

57.166

99

32.564

28.563

955

2007/08

3.952

60.018

96

34.750

24.499

4.817

2006/07

2.678

58.392

98

33.550

23.665

3.952

2005/06

2.872

55.027

49

30.383

24.888

2.678

2004/05

4.522

52.305

368

32.025

22.297

2.872

2003/04

4.522

49.989

349

31.090

19.248

4.522

2002/03

1.134

52.018

1.189

29.928

19.891

4.522

2001/02

1.234

42.230

1.045

27.405

15.970

1.134

2000/01

2.007

38.432

850

24.380

15.675

1.234

1999/00

2.348

32.890

807

22.520

11.517

2.007

Fonte: Conab – Quadro de Oferta e Demanda
Obs: estimativa safra 2018/19 – 6º Lev. Números arredondados.

No entanto, esta não é mesma tendência apontada para os demais produtos do complexo da soja, como no caso do óleo e do farelo. Neste caso, o consumo interno segue sendo maior que as exportações.

Em relação ao farelo de soja, os dados coletados pela CONAB apontam que há uma inversão. No início dos anos 2000 o principal destino da produção era para atender a demanda externa, com 9,4 milhões de toneladas exportadas, enquanto o consumo interno estava em 6,8 milhões de toneladas. A destinação para a exportação permanece maior até a safra 2012/2013. Neste período a produção do farelo para exportação passou para 13,3 milhões de toneladas, enquanto para o consumo passou a ser de 14,3 milhões de toneladas.

A seguir a tabela apresenta os dados de estoques, produção, importação, exportação e consumo do farelo de soja para as safras 1999/2000 a 2018/2019.

TABELA 10
Farelo de soja: evolução comparativa por safra
Brasil (em mil/t)

 

Safra

Estoque Inicial

Produção

Importação

Consumo

Exportação

Estoque Final

2018/19

1.029 33.264 1,00 17.200 15.000 2.094

2017/18

3.637 31.262 0,20 17.200 16.670 1.029

2016/17

2.627 32.186 1,62 17.000 14.177 3.637

2015/16

2.537 30.415 0,80 15.500 14.827 2.627

2014/15

1.584 31.185 1,14 15.100 14.827 2.844

2013/14

1.147 28.952 0,96 14.799 13.716 1.584

2012/13

953 27.874 3,88 14.350 13.334 1.147

2011/12

3.262 26.026 5,02 14.051 14.289 953

2010/11

2.032 29.299 24,8 13.758 14.335 3.262

2009/10

1.883 26.719 39,5 12.944 13.666 2.032

2008/09

2.435 23.188 43,4 11.533 12.250 1.883

2007/08

1.811 24.717 117 11.930 12.280 2.435

2006/07

1.413 23.947 101 11.176 12.474 1.811

2005/06

1.927 21.637 152 9.987 12.316 1.413

2004/05

2.021 22.831 189 9.031 14.388 1.927

2003/04

2.155 22.673 188 8.500 14.486 2.021

2002/03

1.590 21.962 305 8.100 13.602 2.155

2001/02

1.056 20.264 368 7.580 12.517 1.590

2000/01

1.257 18.052 219 7.200 11.271 1.056

1999/00

664 16.669 99 6.800 9.375 1.257

Fonte: Conab – Quadro de Oferta e Demanda
Obs: estimativa safra 2018/19 – 6º Lev. Números arredondados.

Já a produção do óleo de soja segue tendo como prioridade o consumo interno em todo período analisado. O consumo foi ampliado de 2,9 milhões de toneladas na safra 1999/2000 para 7,7 milhões de toneladas na safra 2018/2019, enquanto as exportações se mantiveram praticamente estáveis, passando de 1,1 milhões de toneladas para 1 milhão de toneladas, entre as safras de 1999/2000 e 2018/2019.

A seguir a tabela com a evolução dos estoques, produção, consumo, importação e exportação do óleo de soja para as safras 1999/2000 a 2018/2019.


TABELA 11
Óleo de soja: evolução comparativa por safra
Brasil (em mi/t)

Safra

Estoque Inicial

Produção

Importação*

Consumo

Exportação

Estoque Final

2018/19

430

8.424

40,00

7.600

1.050

244

2017/18

992

7.917

35,20

7.100

1.415

430

2016/17

926

8.151

58,11

6.800

1.343

992

2015/16

791

7.703

66,13

6.380

1.254

926

2014/15

897

7.898

25,28

6.359

1.670

791

2013/14

801

7.332

0,07

5.931

1.305

897

2012/13

656

7.059

5,04

5.556

1.362

801

2011/12

992

6.591

1,03

5.172

1.756

656

2010/11

680

7.420

0,13

5.367

1.741

992

2009/10

441

6.767

16,3

4.980

1.564

680

2008/09

383

5.872

27,4

4.250

1.592

441

2007/08

412

6.260

27,4

4.000

2.316

383

2006/07

196

6.065

44,1

3.550

2.342

412

2005/06

308

5.480

25,4

3.198

2.419

196

2004/05

330

5.782

3,19

3.111

2.696

308

2003/04

320

5.510

27,0

3.010

2.517

330

2002/03

438

5.282

36,0

2.950

2.486

320

2001/02

284

4.874

135

2.920

1.935

438

2000/01

457

4.342

72,0

2.935

1.652

284

1999/00

276

4.009

105

2.860

1.073

457

Fonte: Conab – Quadro de Oferta e Demanda
Obs: estimativa safra 2018/19 – 6º Lev. Números arredondados.

Os dados apresentados até aqui apontam para a dimensão do complexo e da cadeia da soja no agronegócio brasileiro, principal produto de exportação agrícola. É possível observarmos a territorialização desta cultura em praticamente todos os estados da federação, mas com predominância na região Centro-Oeste e Sul do país.

Indicativos de projeção da produção de soja

Os relatórios de projeção elaborados pelas agências estatais brasileiras e estrangeiras, como a CONAB e a USDA, apontam que a produção de grãos, em especial da soja, deverá crescer nas próximas safras, e o Brasil possivelmente manterá o status de maior produtor e exportador de soja no mundo.

Segundo a CONAB, a safra de grãos deverá crescer para 245,8 milhões de toneladas na safra 2019/2020, o que representa um aumento de 1,6% em relação à safra anterior. Enquanto isso, a área plantada com grãos deverá crescer 1,1%, passando para 63,9 milhões de hectares.

A soja continuará a ser o principal produto do agronegócio, com uma projeção estimada de crescimento de 1,9% na área plantada na safra 2019/2020, atingindo 36,6 milhões de hectares. A produção para este período está estimada em 120,4 milhões de toneladas, segundo a CONAB.

A expansão da cultura da soja no Brasil deverá ampliar ainda mais a pressão sobre os territórios localizados na fronteira agrícola, como a região do MATOPIBA, com impacto no bioma do Cerrado e nas comunidades locais.

Ademais, a cadeia produtiva da soja concentra as grandes empresas transnacionais de insumos (fertilizantes, sementes e agrotóxicos) e das tradings do setor agrícola.

Segundo estudo de Sergio Schlesinger3, publicado em 2006 pela FASE, 91% das vendas de sementes geneticamente modificadas em 2003 eram concentradas em cinco empresas: Dupont, Monsanto, Syngenta, Bayer e Dow Agrosciences.

No entanto, com as recentes fusões e aquisições, esse oligopólio passou a ser integrado por três grandes conglomerados, segundo o levantamento do Observatório da Questão Agrária do Instituto Tricontinental em junho de 2019. São eles:

1. Bayer: empresa de origem alemã teve sua fusão com a americana Monsanto autorizada em 2018, formando a maior empresa produtora de agrotóxicos do mundo. Atuam nos segmentos de defensivos agrícolas, sementes e soluções tecnológicas para agricultura;

2. DowDuPont: empresa de origem estadunidense criada a partir da fusão entre a Dow Chemical e a Dupont em 2017. Após a fusão foram desmembradas as operações da empresa, que operam nos seguintes segmentos: agricultura, ciência de materiais e produtos especializados. A divisão agrícola da empresa é a Corteva AgroSciences, lançando ações na bolsa de Nova York em 3 de junho de 2019;

3. Chemchina (Adama): empresa estatal chinesa comprou a empresa suíça Syngenta em 2017, que era líder mundial na comercialização de sementes e agrotóxicos. A Chemchina também é proprietária da marca Adama, maior fornecedora de agrotóxicos genéricos.

Os serviços de processamento e comercialização também são altamente concentrados em poucas empresas transnacionais: ADM (EUA), Bunge (Holanda), Cargill (EUA) e Louis Dreyfus Company (França). Nos últimos tempos, a chinesa Cofco tem se aproximado dessas empresas no que diz respeito ao controle sobre a comercialização da soja.

Por fim, a pujança do agronegócio brasileiro em relação às exportações de grãos, com destaque para a soja, aponta para o controle cada vez maior e mais oligopolizado por empresas transnacionais, traço do papel do setor agrícola no aprofundamento da dependência brasileira, que tem como consequência a ampliação da concentração de terras (como apontado pelo censo agropecuário) e a pressão sobre os territórios e os bens da natureza.

A expansão da produção de soja no Brasil tem como contrapartida o envenenamento da população e do meio ambiente, o aumento do controle transnacional sobre a produção brasileira e a expropriação de comunidades que estão no caminho da expansão da fronteira agrícola.

1 United States Department of Agriculture – USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos)

2 Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB

3 SCHLESINGER. Sergio. O grão que cresceu demais. A soja e seus impactos sobre a sociedade e o meio ambiente. FASE, Rio de Janeiro, 2006