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Capitalismo ContemporâneoObservatório da Financeirização

Desaceleração dos motores da alienação

Observatório da Financeirização

Hipóteses sobre impacto da crise com pandemia na classe trabalhadora com vistas a uma ação política necessária.

 

Por Olívia Carolino

 

No meio deste ano, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, a partir de seus estudos e do diálogo com a Assembleia Internacional dos Povos – que reúne movimentos populares, sindicatos e organizações políticas da classe trabalhadora do Sul Global -, lançou uma agenda com 10 pontos para o mundo pós Covid-19 [1]. Nossa prioridade era combater a pandemia e denunciar as mazelas da fome e do desemprego provocado pela crise capitalista. Para tanto, organizamos propostas que levam em conta que as soluções dos problemas atuais não serão resolvidas com mais capitalismo.

Nos aproximamos do fim do ano e, mês a mês, as mortes pelo coronavírus e a fome nos mostram que as medidas emergenciais tomadas pela maioria dos países do mudo se revelaram tímidas diante da ação dos inimigos em tornar a humanidade obsoleta. A crise acirra as desigualdades e deixa claro que o capitalismo concebe um planeta para poucos, acelerando a administração da política do fim do mundo ao selecionar os que serão salvos e os que serão deixados à deriva.

Enquanto isso, a espera-esperançosa da vacina alimenta a distopia da volta ao normal, uma vez que está muito difícil ficar imune à fome, à ausência do luto e à explícita desigualdade – notadamente na condição entre quem pode ficar em casa e se cuidar e quem não pode. Neste sentido, cabe a nós uma esperança-ativa que produza indagações e possibilidades de investigação sobre o impacto do CoronaChoque [2] na vida da classe trabalhadora durante esses meses.

Portanto, este é um artigo de percepções, um convite à uma agenda de investigações sobre uma dimensão desses impactos para que possam ser possíveis mudanças em relação às determinações estruturais da alienação.

Possibilidades de um futuro para além do capitalismo dependem das condições da luta de classes. Acontece que a teoria da história e do processo revolucionário que somos signatários – desde o Manifesto do Partido Comunista [3] – ancora-se numa noção de que o capitalismo é um Modo de Produção portador da semente de sua própria superação. Ou seja, o acirramento das próprias contradições internas leva a um processo de transição do modo de produção.

Todavia, os impactos da crise econômica, ambiental, social e política sobre a dimensão humana e ambiental parece estar desautorizando a ideia da gravidez de uma nova sociedade. Talvez estejamos caminhando para um acelerado processo de destruição do planeta pelo capitalismo antes mesmo do fim deste sistema. Cabe a nós insistir nas contradições provocadas pela crise, levando em conta que o choque que sacudiu o capitalismo tende a alterar estruturalmente seu funcionamento. Essas mudanças se desdobram na reprodução da vida social que, em uma situação de isolamento, experimenta o desacelerar ao mesmo tempo em que o capitalismo acelera a destruição.

Nesse sentido, levantamos três hipóteses que buscam explorar as contradições da crise vivenciada nesse período de pandemia e algumas situações que, de forma muito embrionária, podem apresentar tendências de desaceleração da alienação ou do estranhamento, com a retração e as restrições do isolamento social experimentada por parte da classe trabalhadora.

Num segundo momento, tecemos considerações sobre as dimensões da crise capitalista que não desaceleram: financeirização e fascismo. Por fim, concluímos com breves considerações sobre a postura desalienante diante de uma ação política necessária.

 

Desaceleração dos tempos

Uma dimensão da crise capitalista é o colapso de um sistema que vive comprando o tempo. Essa expressão faz referência à Streeck, Wolfgang (2013) em Tempo comprado – A crise adiada do capitalismo democrático [4]. Com referencial teórico da Escola de Frankfurt, o autor parte do diagnóstico que, entre os anos de 1960 e 1970, a crise de legitimidade do capitalismo avançava conforme a política econômica era sustentada por uma visão técnica em detrimento da ética e da cultura. Os capitalistas, notadamente do mercado financeiro, teriam subestimado a luta de classe – base material do conflito social – e mobilizam um conjunto de recursos institucionais, financeiros, políticos e ideológicos para construir um consenso necessário junto as classes sociais subalternas em democracias cada vez mais limitadas. Wolfgang queria entender o que levava as classes subalternas a aceitarem o capitalismo neoliberal e a consequente corrosão da sociedade e de suas vidas, com o aumento do desemprego, a flexibilização de direitos, as privatizações e o desmonte do Estado social.

A expressão “tempo comprado” revela o fio condutor da resposta a essa indagação. Para além da análise dos mecanismos disciplinadores do capital, o autor sustenta a “compra” da lealdade de frações da classe operária e das classes médias em muitos países desenvolvidos diante do conflito social latente.

Estes mecanismos se assentam concretamente na “compra de tempo”, porque passa pela mobilização sem precedentes da instituição misteriosa da modernidade: o dinheiro. Ou seja, foi sobretudo por meio do acesso ao crédito e ao consumo que amplos segmentos das massas acabaram por aceitar transformações regressivas.

Sendo o “tempo comprado” uma dimensão estrutural da exploração e da dominação, o capitalismo contemporâneo sofre um impacto com a situação de crise sob um contexto pandêmico, com retração do crédito e aumento significativo da inadimplência. Em um momento em que o dinheiro não compra saúde das famílias, respiradores, emprego e nem promessa de futuro, o sistema pode estar encontrando alguns desafios para comprar a lealdade da classe trabalhadora.

A leitura de “O tempo e o cão”, de Maria Rita Kehl [5] faz refletir, mesmo para quem não tem formação em psicanálise, sobre vivência em tempos do capitalismo com pandemia.

Em determinado momento do livro e a partir da chave de análise de Walter Benjamin, a autora argumenta como a pressa e a fragmentação do sujeito contemporâneo se deve à desvalorização do tempo.

A vivência corresponde ao uso que fazemos de grande parte do nosso tempo, sob domínio da vida produtiva nas condições contemporâneas. É no ato da transmissão, ao compartilhá-la por meio da linguagem, que a vivência ganha o estatuto de experiência. O que Benjamin chama de “experiência”, portanto, refere-se à transmissão que depende de formas de narrativas. Por meio das narrativas, as gerações presentes legam saberes às gerações seguintes, transmitindo não apenas a dimensão ética como a dimensão estética, acrescenta encantamento ao saber e, assim, elas dotam ao passado qualidades mágicas e preservam na vida consciente da comunidade uma série de representações e de afetos.

O capitalismo molda um cotidiano em que grande parte do sucesso de nossas ações exige respostas imediatas a estímulos velozes e constantes. As “formas dilatadas da atividade psíquica”, as fantasias e devaneios distraem o sujeito das exigências impostas pela rapidez do presente absoluto. Em Benjamin, a experiência é incompatível tanto com a temporalidade veloz quanto com a sobrecarga de solicitações que recaem sobre a consciência. A condição para a experiência é antes o ócio do que a atividade.

A relação entre o tempo e as narrativas têm um determinante comum, que são as formas históricas do trabalho. A experiência de viver e trabalhar em um ritmo não ordenado pela produtividade permitia que o tempo de cada um guardasse proximidade com o tempo do sonho, do ócio e do tédio sem angústia.

Já vivíamos em crise mesmo antes da pandemia; uma dimensão da crise estrutural do capital é a relação com o tempo disforme em função da velocidade e a consequente impossibilidade da vivência se converter em experiências.

Agora, imagine você: essa noite eu tive um sonho de sonhador. Maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a Terra parou. O dia em que a Terra parou, foi assim: no dia em que todas as pessoas – do planeta inteiro – resolveram que ninguém ia sair de casa, como que se fosse combinado em todo o planeta, naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém [6].

Aquele dia que durou quarentenas e mais quarentenas interrompendo processos produtivos, ano letivo escolar, circulação em espaços públicos e sociabilidade. O tempo disforme da vida cindida entre casa, transporte e trabalho se objetivou de uma hora pra outra numa rotina necessária circunscrita em um mesmo local, em poucos metros e, em muitos casos, dentro de um apartamento ou de uma casa.

A percepção empírica é de que as pessoas estão trabalhando mais, sobretudo as mulheres. No entanto, ao suprimir o tempo do trânsito, do transporte público, dos deslocamentos, o que antes estava sendo roubado, desacelerou, e agora o tempo está confinado num espaço. Comparado com a vivência frenética, no confinamento os dias parecem todos iguais: acordamos, trabalhamos e vamos dormir para recompor nossas condições fisiológicas para trabalhar novamente. De alguma maneira, a rotina nos aproxima da possibilidade de tornar consciente cada ação, ao mesmo tempo em que reduz a possibilidade do acaso, que também tem seu papel na reprodução da vida.

A desaceleração, aos poucos, foi apresentando uma nova situação à classe trabalhadora: o tempo da vivência passou a guardar alguma proximidade com o tempo do sonho, do ócio, do tédio sem angústia.

De forma alguma a desaceleração dos tempos reduziu a exploração. Porém, a hipótese é que, dentre as contradições geradas pelo isolamento social, as condições do trabalho remoto – de uma hora para outra – começam a desenhar novas conjunções da classe trabalhadora se relacionar com o tempo do trabalho, estudo, lazer e reprodução da vida. Apropriar-se de seu tempo é estar presente e consciente em cada vivência. Dessa forma, apontamos a hipótese da desaceleração dos motores da alienação, à medida em que as dimensões da reprodução da vida estão postas e demandam um tempo que antes era consumido na velocidade e na fragmentação do capital.

 

Necessidades genuínas e necessidades produzidas

Outra hipótese sobre o impacto do CoronaChoque sobre a classe trabalhadora – que desacelera os motores da alienação – é a de que as necessidades de consumo vem paulatinamente se alterando com isolamento social.

A atividade de “fazer compras” se alterou num brevíssimo espaço de tempo. Sem o passeio na lojinha ou no shopping, a mercadoria perde uma parte importante da suas “artimanhas de sedução” e de sua “artilharia pesada” diante da (im)possibilidade das necessidades serem geradas pelos cinco sentidos humanos. Como mostrou o Giro Econômico [7], as pessoas deixaram significativamente de ir a restaurantes, que provavelmente foi sendo substituído por refeições em casa, o que foi acompanhado pelo aumento sensível no consumo em supermercados.

É verdade, porém, que as pessoas podem ter ficado mais tempo na frente da TV, do computador ou do celular sendo bombardeadas por propagandas – de forma cada vez mais sofisticada, à medida que a internet tem o poder de induzir a compra direcionada, diferente da lógica do consumo de massas. No entanto, estamos sugerindo que há um impacto sobre a produção de necessidades, ou seja, um impacto no consumo pelo impulso de comprar quando a mercadoria se impõe para além das “necessidades do estômago ou da fantasia” [8], aquelas que vou chamar aqui de necessidades genuínas.

Ainda que não tenhamos dados para gerar um indicador mais preciso para verificar a mudança no padrão de consumo da classe trabalhadora das necessidades genuínas, empiricamente pode-se constatar a diferença de comportamento no ato da compra diante da restrição da presença nas lojas, mas, ainda sim, essa pode ser uma percepção pouco relevante.

O argumento que me parece mais relevante para fundamentar o impacto sobre a produção das necessidades é a restrição orçamentária que leva a cesta básica (de alimentos à internet) representar um montante muito significativo dos gastos da classe trabalhadora. Se considerarmos a instabilidade do trabalho informal (os mais afetados pelo desemprego) [9], os novos recordes da série histórica no que tange o desemprego e a desocupação [10] e a redução da renda [11] – e o cenário de aumento da desigualdade -, as necessidades fundamentais de reprodução da vida tende a se sobrepor ao consumo em geral.

A corrosão do poder de compra da classe trabalhadora com a inflação [12] é um fator importante. Nos últimos meses, a necessidade de garantir o feijão com arroz [13] não permite sobrar troco para um par de sapatos novos. Aliás, para que par de sapatos novos para ficar em casa?

E se é certo que ficar em casa pode induzir ao consumo virtual pelas lojas online, nessa hipótese há que considerar que 2,5 bilhões de pessoas no mundo não utilizam serviços financeiros formais e 75% dos que vivem na pobreza não tem conta bancária, segundo o Banco Mundial [14]. Um em cada quatro brasileiros não tem acesso à internet [15] e 40% da população brasileira não é bancarizada, ou seja, o cartão de crédito, como forma de pagamento, não é uma realidade do povo brasileiro [16]. A estrutura do comércio no país é caracterizada pelos centros comerciais de grande circulação que estiveram limitadas durante a quarentena. Evidentemente, esse fato abriu em um curto espaço de tempo portas para o capitalismo financeirizado se estruturar com o aumento de fintechs, aplicativos de pagamento via boleto e outras formas aptas para fazer com que a mercadoria realize seu “salto mortal”.

A tendência de migração para o comércio eletrônico pode ser verificada mundialmente [17]. Se por um lado essa tendência amplia a oferta de produtos comercializados de maneira virtual, por outro, o trabalho remoto tende a ser uma prática institucional das empresas, acabando com as sedes físicas e, consequentemente, com a estrutura de serviços agregadas a esses empregos, como limpeza, portaria e segurança. Com isso, milhões de vagas de emprego deixam de existir, possibilitando o aumento significativo das massas de desempregados que, sem salário, não se constituem como potenciais consumidores.

Nesse sentido, a pandemia fez com que milhões de pessoas fossem incorporadas ao sistema financeiro, seja pela migração ao consumo digital ou pela necessidade de acessar os auxílios emergenciais [18].

Faz-se necessário traçar um breve comentário sobre o impacto do auxilio emergencial como efeito multiplicador no consumo. Primeiro, é importante compreender que a pandemia deixa às claras a tendência destrutiva do capitalismo em sua fase neoliberal. O combate ao Covid-19 revela a decadência do Estado neoliberal erodido, que se mostrou incapaz de resolver os problemas que ele próprio cria, avançando para a condição de neoliberalismo zumbi [19] (alguns vão chamar de um “Estado de exceção” ou neoliberalismo punitivo) [20]. Nesse contexto ganha espaço o chamado “keynesianismo financeiro” ou intervenção estatal para sustentar a arquitetura projetada por empresas financeiras, uma prática para promover e beneficiar o projeto neoliberal, como mostramos em nosso dossiê “CoronaChoque: o vírus e o mundo” [21].

Até outubro, o Brasil havia gasto R$ 457 bilhões do Tesouro Nacional, a maior parte deste recurso destinado ao Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade [22]. Até o momento, o governo federal liberou R$ 231,2 bilhões de recursos para o Auxílio Emergencial; foram realizados 356,2 milhões de pagamentos e 67,7 milhões de pessoas foram beneficiadas, segundo a Caixa, elevando a renda média da população brasileira neste período de crise. No entanto, renda média não é o melhor indicador para medir o aumento do poder de compra. Enquanto a renda média cresceu 4,8% frente ao primeiro trimestre de 2020, a massa total de rendimentos efetivamente recebido recuou 3,8%. Isso significa que a média se elevou porque os empregos que concentram os menores rendimentos desapareceram. Portanto, não é razoável supor que o auxílio emergencial seja responsável em manter um consumo supérfluo.

Toda uma escola de pensamento econômico que considera o Estado como indutor do consumo em momentos de crise revela suas fragilidades explicativas da realidade atual. Uma pesquisa nos EUA [23] mostrou que, mesmo o FED tendo adotado uma estratégia de “flexibilização do objetivo de inflação média”, anunciada pelo Presidente Powell em 27 de agosto de 2020, as famílias não alteraram suas expectativas de inflação e, portanto, não mudaram sua estrutura temporal de consumo e oferta de trabalho. Usando uma pesquisa diária das famílias estadunidenses na época do discurso de Powell, os pesquisadores encontraram poucas evidências de que a política monetária tenha um impacto imediato nas expectativas das famílias. Em primeiro lugar, poucos lares parecem ter tido conhecimento do anúncio da política, mesmo sendo essa uma mudanças das mais significativas nas últimas décadas. Segundo, há aqueles que pareciam não ter entendido o que significava ou não incorporaram suas implicações em suas expectativas. Isso significa que está em aberto a aposta de novos modelos keynesianos que consideram que as famílias e as empresas compreenderiam a estratégia política monetária e a incorporariam em suas expectativas e comportamento de consumo. O debate abre brecha para a reflexão que trazemos à baila sobre os desafios do capitalismo com relação a induzir, controlar e produzir necessidades de consumo na classe trabalhadora, que está cada vez mais na fronteira da fome e da subsistência.

Se a produção de necessidades à realização do consumo tende a sofrer um impacto na quarentena, as necessidades genuínas de reprodução da vida também tendem a sofrer transformações.

A primeira necessidade genuína que se impôs foi a necessidade de respirar, impondo-se inclusiva à indústria. No início da pandemia, alguns países se depararam com o fato de ter um parque industrial com linha de produção automotiva e, de repente, foi necessário reconvertê-la [24] para produzir respiradores e equipamentos hospitalares emergenciais para salvar vidas. Foi preciso, então, alterar a linha de produção para fabricar bens e equipamentos necessários a serem consumidos em um momento de crise emergencial. A necessidade genuína de respirar se impôs também à arquitetura contemporânea, que nas últimas décadas ergueu edifícios construídos por critérios que favorecessem a manutenção de máquinas e computadores, com vidros lacrados em ambientes mantidos com ar condicionado central. A necessidade da circulação de ar vai de encontro a toda arquitetura de enclaves fortificados dos centros financeiros de Manhattan, de Nova Iorque à Berrini, em São Paulo [25]. Matérias publicadas pelo jornal El País revelam a eficácia da circulação de ar e ambientes arejados na redução do contágio do coronavírus. Ou seja, a necessidade humana de respirar, até então negada, coloca-se em colisão com a estética asfixiante do mundo corporativo e financeiro.

A relação com as necessidades genuínas também se manifesta com a impossibilidade de serviços essenciais pararem. Dos profissionais da saúde aos urbanitários, passando pelos serviços de alimentação, estiveram na linha de frente da reprodução social, com as mulheres representando a maior parte da força de trabalho na área da saúde – especialmente na enfermagem -, nos serviços de limpeza e no serviço social (90%). No caso do Brasil, das 2,7 milhões de pessoas empregadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 2 milhões são mulheres, isto é, 75,4% do total. De acordo com as Nações Unidas (ONU), estima-se que elas compõem 67% da mão de obra do setor [26].

Há uma tendência que esse montante quantitativo assuma paulatinamente uma relevância qualitativa, à medida que o trabalho doméstico, de cuidados, de acompanhamento dos processos de ensino e aprendizado das crianças assuma alguma visibilidade nas condições de isolamento social, jogando luz a essas necessidades concretas e cotidianas antes invisíveis. Afirmar a tendência de maior visibilidade do trabalho doméstico não desconsidera que esse continua sendo um Trabalho em sociedade de classes sob a determinação estrutural do patriarcado. A violência doméstica e o feminicidio não entram em quarentena [27].

Além do mais, também é possível verificar um sensível aumento de preços nas lojas de bricolagem e de materiais de construção, ao mesmo tempo que aumentam os depoimentos de pessoas que aderiram ao “faça você mesmo” serviços de manutenção ou reformas domésticas, que antes eram contratadas ou simplesmente adiadas. As necessidades externas e estranhas à reprodução da vida num breve interluduim se impuseram. As necessidades genuínas de alimentar, morar, dormir, se proteger da chuva e do frio, brincar, banhar, mexer com plantas, consertar a parte hidráulica ou elétrica puderam se apresentar e, de alguma maneira, a vivência das necessidades concretas desacelera o motor da alienação das necessidades produzidas pelo capital.

 

Trabalho redundante

Uma dimensão fundamental da alienação é a relação e o reconhecimento do produtor direto com o produto de seu trabalho. O CoronaChoque trouxe à luz o trabalho redundante na crise estrutural do capital. As mudanças de paradigma tecnológico, dentre elas a chamada revolução 4.0 e a tecnologia 5G, eliminam trabalhos; essa não é apenas uma mudança na estrutura ocupacional e na geração de postos de trabalho ou emprego, trata-se do avanço no processo de subsunção do trabalho ao capital: a eliminação do trabalho vivo.

O chamado “Exército Industrial de Reserva” [28] cumpria uma função na acumulação capitalista com o contingente da classe trabalhadora em situação de desemprego significar uma correlação favorável ao capital na determinação do preço da Força de Trabalho, já que com uma demanda de trabalho maior que a oferta, o preço da força de trabalho fica menor. No capitalismo contemporâneo, o contingente de trabalhadores desempregados parece não ter essa funcionalidade, estando aptos ao genocídio confinados nas periferias dos grandes centros urbanos expostos ao vírus e à fome [29].

O que Achille Mbembe [30] chama de Necropolítica – a política de morte e de Estado de Exceção – e de Necropoder – no contexto da colonização contemporânea – corrobora com o que estamos chamando atenção enquanto um projeto genocida da classe trabalhadora. Ao subjugar a vida ao poder da morte, reconfigura-se as relações entre resistência, sacrifício e terror, com o objetivo de provocar a destruição máxima de pessoas e criar um “mundo de morte”, no qual vastas populações são submetidas à condições de vida que lhes conferem o estatutos de “mortos-vivos”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) chamou a situação econômica mundial de “Grande Isolamento” [31], referindo-se à “Grande Depressão” de 1929. O FMI reconhece que diante das perspectivas de baixo crescimento do PIB mundial “o impacto adverso nas famílias de baixa renda é particularmente agudo. A redução da pobreza está efetivamente fora da agenda”. O que o FMI não pode reconhecer – e não podemos deixar de denunciar- é que o “Grande Isolamento”, a rigor, está relacionado à falta de condições da classe trabalhadora de realizar trabalho.

Portanto, se a crise revela a alavancagem desmedida de Valor convivendo com a fome e a miséria, ela também mostra o trabalho redundante e socialmente obsoleto, na perspectiva da acumulação capitalista em sua dinâmica financeirizada.

A “velha alienação” do sistema fordista ainda não morreu e as novas formas de alienação correspondente à lógica de acumulação por predominância financeira ainda estão nascendo. Todavia, já está posta a violência da acumulação predatória de capitais que separa, isola e alija os trabalhadores das condições de realizar trabalho, tornando-os “livres” para morrer de fome ou por falta de assistência médica. O isolamento da classe trabalhadora é um grande projeto genocida.

Esse novo paradigma tecnológico transforma estruturalmente o modo do capitalismo funcionar, e seus impactos sobre o capitalismo na periferia significa o aumento da super exploração do trabalho para compensar a diferença do capitalismo do centro, deixando os países dependentes ainda mais alijados e periféricos. O trabalho redundante significa o acirramento do processo de periferização da América Latina e a volta do endividamento dos Estados Nacionais. A Declaração pelo cancelamento da dívida [32] mostra que o endividamento é um elemento de dominação dos países, mecanismo que se impõe por razões externas aos fundamentos destas economias em que o Imperialismo faz uso de sua força hegemônica. Essa situação também revela a austeridade e o aumento da coerção, militarização e o rosto cada vez mais autoritário e fascistizante da ofensiva neoliberal.

 

Alienação financeira e fascismo, dimensões que não desaceleram

Permito-me brincar com a palavra alienação, não mais como a categoria marxista de análise com a qual estamos trabalhando nesse artigo, mas no sentido alienação fiduciária (transferência da posse de um bem móvel ou imóvel do devedor ao credor para garantir o cumprimento de uma obrigação). A crise opera uma transferência de Valor dos países periféricos aos países centrais por meio da dívida. Esse processo tem se acelerado e se intensificado com o CoronaChoque.

Se considerarmos que desde a queda do Muro de Berlim o neoliberalismo mostrou níveis cada vez mais impressionantes de desumanização (que vai de políticas de austeridade ao triunfo do individualismo), essa desumanização convulsionou em um ciclo de insurgências. As insurgências não vieram de um ciclo de lutas populares que desafiaram o capitalismo. Elas vieram, em vez disso, da lógica desumanizada do capital em sua fase neoliberal e foram resolvidas por meio de remédios que frequentemente foram piores que a doença. Com a pandemia, a doença se traduziu num recurso concreto de contenção de insurgências.

Num contexto de políticas neoliberais desacreditadas que deram lugar a projetos da extrema-direita e neofascistas, a pandemia de Covid-19 se coloca como uma contra-insurgência.

Nesse sentido, o fascismo atual pode ser considerado a política de administração do fim do mundo por parte da extrema-direita que se coloca com a tarefa contra-insurgente. Trata-se da intervenção acelerada na seleção entre os que serão salvos e os que ficarão à deriva – morrerão e serão computados nas estatísticas de um milhão de mortos por coronavírus ou pela fome.

Essa seleção diz respeito à atual fase do capitalismo em conceber um planeta para poucos, o que fica explícito na “tentação ecofascista”, como revelam os manifestos de Brenton Tarrant e Patrick Crusius, relativos à chacina nas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, e no supermercado de El Paso, Texas. Como mostra Damien Leloup [33], ataques violentos ocorreram no Ocidente reivindicando o ecofascismo, “uma ideologia que não é nova, mas desponta na extrema-direita, às vezes confusa sem grandes teorias políticas, mas compilam ideias como a imigração e aquecimento global são dois lados do mesmo problema”.

O ecofascismo prospera em fóruns da direita na internet e encontra diálogo com os “doomers” – os “malditos” – que se colocam em frontal oposição aos baby boomers, seus pais, que, segundo eles, tiveram tudo e não lhes deixaram nada. Alguns slogans são amplamente compartilhados, como “salvar abelhas, não refugiados”. Nesses espaços ecofascistas nas redes, os discursos são deliberadamente ofensivos, apresentados com ironia ou sarcasmo e carregam o pressuposto de que o futuro não existe.

O vencedor do concurso de Ensaios Nada Será Como Antes, organizado pelo Instituto Tricontinental, nos surpreendeu com a pergunta: Ainda temos um mundo a ganhar [34]? Danilo Nakamura comete a heresia de transformar a afirmação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, em pergunta. Mobilizando a distopia entre viver o tempo do fim enquanto o fim do mundo não vem, o autor nos faz refletir como essa situação pós pandêmica reconfigura o lugar da humanidade em relação às outras espécies, bem como reconfigura as relações de classes sociais associando ao fato das crises sanitárias modernas serem crises políticas, com manifestações que explicitam comportamentos preconceituosos e violentos.

“A partir da situação nuclear o “fim do mundo” assume a particularidade de perder seu caráter simbólico e ritualístico e o fim da humanidade se torna um gesto técnico preparado com lucidez. Nesse caso, por depender de um gesto humano, o risco sempre foi acompanhado por lutas antinucleares e pela esperança de que os governos pudessem desativar as usinas de energia e os arsenais de guerra. Já o colapso ambiental em curso parece estar inteiramente fora do nosso alcance anular cabendo a nossa ação apenas mitigar e lidar com a incerteza do futuro e dos contornos de como seria a vida humana nesse cenário. Diferente do colapso ambiental que atinge todas as vidas do planeta, a condição pós-pandemia nos coloca diante de um tempo do fim que atinge exclusivamente nós seres humanos”.

No “tempo do fim” o capital, de forma desmedida, impõe sua aceleração como se fosse o “fim dos tempos”. Os donos do mundo querem forçar o regresso ao “normal” a qualquer custo. O texto de George Monbiot [35] brinca com “a geografia mágica que certos políticos que querem nos convencer que em algum lugar do mundo, que não consta em nenhum mapa, mas que está tentadoramente perto, há uma terra prometida chamada Normal, para a qual algum dia poderemos voltar”. O artigo mobiliza uma série de enquetes que revelam que os cidadãos franceses rejeitam a tal volta à “normalidade” que gerou destruição, crises e catástrofes.
Sem dúvida, os primeiros meses de quarentena exigiram muita assimilação e adaptação para as novas condições do isolamento social. Na cidade que eu vivo, São Paulo, está em curso a flexibilização do isolamento e a distópica “volta ao normal”. Desaceleramos. Não estamos voltando ao normal; o normal eram os motores da alienação acelerados na potencia máxima até pifar; e pifou.

 

A postura desalienante

Qualquer ação política precisa levar em conta a dimensão ambiental e as contradições vivenciadas e gestadas nesses meses de retração. O impacto do CoronaChoque sobre a classe trabalhadora suscita muitas pesquisas, monitoramento de dados empíricos, muita reflexão e ousadia coletiva.

O diretor do Tricontinental, Vijay Prashad, escreveu recentemente que é impossível imaginar que a situação miserável atual não será superada pela capacidade humana de encontrar maneiras de se unir e transformar a realidade. O desenho de uma nova ordem econômica mundial, que contemple as aspirações da classe trabalhadora, passa por ousar imaginar um futuro em que a gente se aproprie dos tempos, da produção de necessidades e das condições de realizar trabalho.

A desaceleração dos motores da alienação pode ser, ainda que de forma embrionária, uma tendência contraditória, uma vez que as dimensões da reprodução da vida estão postas e demandam um tempo que antes era consumido na velocidade do capital.
As incertezas diante da possibilidade da volta ao normal pode significar uma relação com o tempo que seja mais favorável à uma postura desalienante, proporcionando o encontro da classe trabalhadora com o produto de seu trabalho, a imaginação e a experiência.

Acreditamos que uma postura desalienante passa por travar a Batalha de Ideias necessária do nosso tempo histórico, que visa compreender e divulgar o enfrentamento da Covid-19 que está sendo realizado nos países socialistas [36], como Cuba, Vietnã, Venezuela e no estado de Kerala (Índia), cuja resposta se deu com atitude científica, com política pública para salvar vidas, com organização popular e internacionalismo. É necessário comparar as diferenças com Brasil e Estados Unidos, por exemplo. É importante a afirmação que o socialismo salva vidas e o capitalismo mata [37].

A postura desalienante passa também pela retomada do trabalho de base, a organização e a política de solidariedade, não apenas como campanha emergencial, mas como estratégia de inserção, permanência e processos de transformações nos bairros. Só a luta de massas com protagonismo popular altera a correlação de forças, e a solidariedade se consolida como o paradigma do vínculo da esquerda com a classe trabalhadora.

Além do mais, a postura desalienante também requer a atitude como a dos filósofos da derrota. Esse termo apareceu numa conversa no encontro global do Instituto Tricontinental, que aconteceu de forma virtual no mês de agosto, e se remete à atitudes como a de Fidel Castro, que em diversos episódios olhou para a derrota e buscou reinterpretá-la como um caminho hacia la vitoria no médio e longo prazo. Nas palavras de Fernando Martínez Heredia [38], a postura de não aceitar jamais a derrota se destaca dentre os ensinamentos de Fidel.

É com essa inspiração que se faz necessário olhar nos olhos a atual crise com pandemia e, como os filósofos da derrota, enxergar em suas contradições embriões da transformação. Que venha 2021!

 

[1] Carta semanal número 25/ junho 2020, dentre as propostas destacam-se ampliar a solidariedade médica e expandir a solidariedade alimentar, criar um acordo intelectual comum, aprimorar e investir no setor público, taxar grandes fortunas, cancelamento da dívida dos Estados, controle de capital, e a desdolarização do comércio regional, ou seja, medidas para salvar vidas e que desenham uma nova ordem econômica mundial. Vide em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/25-2020-agenda-de-dez-pontos/.

[2] Desde maio o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social lançou a linha de pesquisa “CoronaChoque”: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/dossie-28-coronavirus/

[3] Manifesto do Partido Comunista, 1949, K. Marx e F. Engels.

[4] WOLFGANG, Streeck. Tempo comprado – A crise adiada do capitalismo democrático, Coimbra: Ed Actual, 2013.

[5] KEHL, Maria Rita. O Tempo e o cão – a atualidade das depressões, São Paulo – SP. Editora Boitempo, 2015.

[6] “O dia em que a terra parou”, música de 1977 de Raul Seixas, artista brasileiro.

[7] Giro econômico 26 mostra que o consumo em restaurantes teve queda de -25,7% no valor total gasto, acompanhada por uma retração de -45,6% no volume de transações realizadas com benefício refeição (em comparação a setembro de 2019). O consumo em supermercados apresentou um aumento de 1,3% no valor total gasto no mês de setembro (em relação ao mesmo mês de 2019), crescimento similar ao do número de estabelecimentos que realizaram transações utilizando como meio de pagamento o benefício alimentação no período (+1,2%). Por outro lado, informações do último mês ainda sustentam uma queda de -12% no volume de transações realizadas, na mesma base de comparação (setembro de 2019).Vide em:https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/giro-economico-as-principais-noticias-da-economia-do-brasil-e-do-mundo-26/.

[8] “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa.” ( MARX, 1968, p.01 )

[9] A taxa de informalidade chegou a 37,4% da população ocupada, e no trimestre anterior foi de 38,8%. No entanto, a redução da taxa de trabalhadores informais não significa a formalização desses trabalhadores, senão a sua exclusão das atividades produtivas. Já que o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado foi de 29,4 milhões;  o menor da série histórica, com uma queda de 8,8% frente ao trimestre anterior e de 11,3% frente a mesmo trimestre do ano de 2019. Ou seja, esses trabalhadores, que eram informais, foram mais afetados pelo desemprego. Vide em: (https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/analise-mensal-da-conjuntura-economica-3-2020/).

[10] Análise mensal da Conjuntura do GEACE mostra os dados da PNAD Contínua do segundo trimestre de 2020 revelam novos recordes da série histórica no que tange ao desemprego, subutilização da força de trabalho e pessoas fora do mercado de trabalho sem possibilidade de recuperação no curto prazo. A taxa de desemprego fechou em 13,8% no trimestre móvel encerrado em julho, 13,1 milhões de pessoas foram atingidas. Pelos dados da pesquisa semanal PNAD Covid – que não pode ser comparada com a PNAD Contínua pois utilizam metodologias distintas – a última semana de setembro bateu recorde de desemprego. Entre 20 e 26 de setembro 14 milhões de trabalhadores estavam desempregados. Os números começam a se elevar em função da redução do auxílio emergencial e da maior abertura da economia, o que leva mais pessoas a voltarem a procurar trabalho. A região Nordeste é mais prejudicada, apresentando uma elevação de 69% de desempregados entre abril e setembro de 2020. Vide em: (https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/analise-mensal-da-conjuntura-economica-3-2020/).

[11] Com relação à renda, uma pesquisa da FGV Social apontou que a renda “individual” do trabalho do brasileiro teve uma queda média de 20,1% e a desigualdade – medida pelo índice de GINI – subiu 2,82% levando em consideração o primeiro trimestre completo da pandemia. A pesquisa ainda avalia que tanto o nível como a variação das duas variáveis são recordes negativos na série histórica. A desagregação dos dados da queda da renda por faixas de rendimento releva o quanto a crise atual penaliza mais os mais pobres. A renda do trabalho da metade mais pobre dos brasileiros caiu 27,9%, enquanto a dos 10% mais ricos caiu 17,5%. Os grupos que lideram a perda a renda, em ordem, foram: indígenas (-28.6%); analfabetos (-27.4%) e os jovens entre 20 e 24 anos (-26%). Vide em: (https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/analise-mensal-da-conjuntura-economica-3-2020/).

[12] Inflação em outubro teve alta de 18,1% no acumulado do ano e de 20,93% em 12 meses. (https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/giro-economico-as-principais-noticias-da-economia-do-brasil-e-do-mundo-26/).

[13] O arroz acumula um aumento de 19,25% no ano, o feijão, dependendo do tipo e da região, a alta acumulada supera os 30%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto.

[14] Fechar a lacuna digital para erradicar a pobreza na América Latina e Caribe, por Carlos Felipe Jaramillo, El País, outubro 2020. Vide em: https://brasil.elpais.com/noticia/banco-mundial/

[15] Vide em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-04/um-em-cada-quatro-brasileiros-nao-tem-acesso-internet.

[16] Atinge apenas 52 milhões de brasileiros segundo o SPC BrasilVide em:https://www.spcbrasil.org.br/uploads/st_imprensa/release_cartao_de_credito.pdf

[17] No Brasil cerca de 135 mil lojas migraram para o comércio eletrônico. Vide em: https://www.oberlo.com.br/blog/estatisticas-compras-online

[18] “Pandemia faz com que milhões de latino-americanos sejam incorporados ao sistema financeiro”, por Isabella Cota em “El Pais”, setembro 2020. http://elpais.com/economia/2020-09-05/pandemia-faz-com-que-milhoes-de-latino-americanos-sejam-inforporados-ao-sistema-financeiro.html

[19] Álvaro García Linera, ex-vice-presidente da Bolívia, chama este estágio do capitalismo de “neoliberalismo zumbi” que favorece o ódio e o ressentimento.

[20] William Davies, teórico político, cunhou essa expressão “neoliberalismo punitivo” para caracterizar como o neoliberalismo que responde à crise aprofundando suas políticas de austeridade e rigor fiscal e impondo maior endividamento, especialmente no Sul Global. Nas palavras do autor, isso leva a “uma condição melancólica na qual governos e sociedades desencadeiam ódio e violência contra membros de suas próprias populações”.

[21] Vide dossie em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/dossie-28-coronavirus/.

[22] Segundo o monitoramento de gastos da União com covid-19, os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 241,35 bilhões), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 77,97 bilhões), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 38,73 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 47,9 bilhões).(Vide em :https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/giro-economico-as-principais-noticias-da-economia-do-brasil-e-do-mundo-25/).

[23] AVERAGE INFLATION TARGETING AND HOUSEHOLD EXPECTATIONS, Setembro 2020. In: https://eml.berkeley.edu/~ygorodni/CGKS_AIT.pdf.

[24] Veja a economista Renata Filgueiras explicando a reconversão da indústria em: https://www.facebook.com/criarbrasil.rio/videos/621366038585540/

[25] Caldeira, Teresa Pires. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo, Editora 34, 2006.

[26] O corona choque e o patriarcado, estudos tricontinental n4: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/estudos-4-coronachoque-e-patriarcado/

[27] Vide Carta Vijay em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/15-2020-coronavirus-feminicidio/.

[28] Exercito Industrial de Reserva como Marx caracteriza os trabalhadores desempregados em O Capital.

[29] Pires, Olivia Carolino. O outro lado da moeda do primeiro de maio. São Paulo, Maio 2020. Vide em: (https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/o-outro-lado-da-moeda-do-1-de-maio/).

[30] Necropolitica, biopoder, soberania, estado de exceção, politica de morte. N-1 edições, São Paulo, 2020.

[31] Vide em carta Vijay: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/boletim-28-coronavirus/

[32] Declaração pelo cancelamento da dívida mostra que a dívida dos países em desenvolvimento é de mais de 11 trilhões de dólares e os pagamentos do serviço da dívida esse ano deve alcançar a casa de 3,9 trilhões. A declaração é assinada por Dilma Rousseff (ex-Presidente do Brasil), M. Thomas Isaac (Ministro das Finanças, Kerala, Índia), Yanis Varoufakis (ex-ministro das Finanças, Grécia), Jorge Arreaza (Ministro das Relações Exteriores, Venezuela), Fred M’membe (Presidente, Partido Socialista, Zâmbia), Juan Grabois (Frente Patria Grande, Argentina) e Vijay Prashad (Instituto Tricontinental de Pesquisa Social). Vide em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/cartasemanal-30-divida/

[33] LELOUP, Damien. L’écofascisme veut « sauver les abeilles, pas les réfugiés », Le MONDE, outubro 2019. Vide em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/artigos-de-politica-externa/20949-o-ecofascismo-quer-salvar-as-abelhas-mas-nao-os-refugiados-le-monde-5-de-outubro-de-2019

[34] NAKAMURA, Danilo. Ainda temos um mundo a ganhar?, Julho, 2001. Vide em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/brasil/ainda-temos-um-mundo-a-ganhar/

[35] MONBIOT, George. “Não! A volta ao normal, não!” Julho, 2020. Vide em: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/nao-a-volta-ao-normal-nao/.

[36] Enfrentamento do covid nos países socialistas. Vide em: https://www.thetricontinental.org/pt-pt/estudos-3-coronachoque-e-socialismo/)

[37] Assista ao vídeo de 6 minutos do Vijay para a feira do livro da Venezuela: https://www.youtube.com/watch?v=UusOoVyGRcw&feature=youtu.be)

[38] “No aceptar jamás la detrota. Fidel nunca se quedó conviviendo com la derrota, sino que peleó sin cesar contra ella. Me detengo em cinco casos importantes em su vida em que esto sucedió: 1953, 1956, 1970, el proceso de retificación u la Batalla de Ideas. En 1953 respondió a la derrota del Moncada com un análisis acertado de la situación para guiar la acción. Cuando todos creían que era un iluso, se reveló como un verdadero visionário. En 1956, cuando el desastre del Granma, respondió com una formidable determinación personal y una fe inextinguible em mantener siempre la lucha elegida, por saber que era acertada. En 1970 comprobó que lograr el despegue económicodel país era extremadamente difícil, pero entonces apeló a los protaginistas, mediante una consigna revolucionária: “el poder del pueblo, esse sí es poder”. Em 1985, fue prácticamente el primero que se dio cuenta de lo que iba a hacer la URSS, que le traería a Cuba soledad, desastre económico y más grave peligro de ser víctima del imperialismo, pero su respuesta fue ratificar que el socialismo es la única solución para los pueblos, la única via eficazy la única bandera popular, que lo necesario es asumirlo bien y profundizarlo. Entonces movilizó al pueblo y acendró su conciencia, y sostuvo firmemente el poder revolucionario. En el 2000, ante la ofensiva mundial capitalista y los retrocesoso internos de la Revolución cubana em la lucha para sobrevivir, lanzó y protagonizó la Batalla de Ideas, com sus acciones em defensa de la justicia social, su movilización popular permanente y su exaltación del papel de la coinciencia. (HEREDIA, Fernando Martínez. “Claves del anticapitalismo y el antiimperialismo hoy, las visiones de Fidel em los nuevos escenarios de lucha”, Revista Caminos, n. 82-83 octubre 2016/ marzo 2017. La Habana, Cuba).