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São Paulo, 19 de agosto de 2020
Nº 012/20 – semana 3
Síntese: O Japão completa os dados do G7 apresentando queda no PIB de -27,8%, o terceiro trimestre de queda no país. O Chile também apresentou um recuo de -13,2% no PIB do 2º trimestre, sendo a maior queda já registrada. Já a construção civil na Europa cresceu 2,9% em junho comparado ao mês de maio. Na China as vendas no varejo apresentaram uma queda de -0,7% no mês de julho, e as operações de produção industrial aumentou 0,98%; um descompasso entre consumo e produção nacional vem se desenhando. Na disputa geopolítica, os EUA anunciaram novas restrições a Huawei, proibindo qualquer empresa não americana de vender chips produzidos com tecnologia dos EUA. No Brasil, o PIB de junho cresceu 4,89% em relação ao mês de maio; no acumulado do ano a queda é de -6,28%. O segundo trimestre de 2020 teve o pior resultado desde 1980, com baixa de -8,7%. O financiamento habitacional tem crescido no balanço dos bancos por conta do aumento de famílias elegíveis diante da queda da taxa de juros e de políticas de carência inicial no pagamento das parcelas. O crédito para as empresas também tem apresentado crescimento com o aumento dos recursos por parte do governo para este setor. Os setores da educação e saúde privada apresentaram resistências à reforma tributária do governo federal, mostrando que os valores de seus serviços irão subir e o acesso à universidade com bolsas poderá diminuir. A taxa de desemprego está em 13,1%, com 12,3 milhões de desempregados. Em meio a campanha salarial dos metalúrgicos, a montadora alemã Volkswagen negocia medidas de flexibilização e demissões no país. O valor de mercado da Apple chegou a US$ 2 trilhões nessa semana, ultrapassando o valor do PIB brasileiro de 2019, estimado em US$ 1,84 trilhão. Os esforços fiscais para o enfrentamento da pandemia atingiram 7,3% do PIB projetado para 2020. Cerca de 13,3 milhões de pessoas (6,3% da população brasileira) já fizeram teste para diagnóstico da Covid-19 no país; 20,4% apresentaram resultado positivo (2,7 milhões). Os programas de auxílio a renda e emprego atenderam 44,1% de domicílios no mês de julho.
INTERNACIONAL
1. O Japão apresentou uma queda de -27,8% no PIB do segundo trimestre de 2020 em relação ao primeiro trimestre, completando os dados dos países do G7. A maior redução registrada desde 1955. É o terceiro trimestre de queda do país, seguindo uma tendência desde o último trimestre de 2019 (-7,0%). Em termos anualizados a queda do PIB já é de -26,4%.
2. Na América Latina, o Chile apresentou um recuo de -13,2% no PIB do segundo trimestre de 2020, comparado ao primeiro trimestre. A maior queda do registro histórico da série desde 1987. O consumo privado teve uma retração de -22,4%. O primeiro trimestre de 2020 tinha apresentado um crescimento de 3,0% em relação ao último de 2019.
3. Na Europa, a produção na construção civil cresceu 2,9% no mês de junho em relação a maio de 2020. Comparado ao mesmo mês do ano anterior, a queda é de -5,8%. No mês de maio em relação a abril o crescimento já tinha sido de 22,3%.
4. Os EUA anunciaram novas restrições a empresa chinesa Huawei, com a tentativa de minar sua cadeia de produção. O objetivo agora é proibir que qualquer empresa não americana venda chip produzido com tecnologia dos EUA sem uma licença especial. São 152 empresas afiliadas que atendiam a demanda da Huawei por chips e que foram proibidas de continuar o fornecimento.
5. As operações de produção industrial na China aumentaram 0,98% em julho em comparação ao mês de junho. Contudo, ainda estão -0,4% menores no acumulado do ano comparado ao mesmo período de 2019. Já a venda total no varejo de bens de consumo apresentou uma queda de -0,7% em julho comparado ao mês de junho. No acumulado do ano, a queda no varejo é de -9,9%.
CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO
6. O PIB de junho teve um crescimento de 4,89% comparado ao mês de maio de 2020; em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de -7,05%. No acumulado do ano a variação é de -6,28%, segundo os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco do Brasil (IBC-Br). Com esse crescimento em junho as projeções para o PIB estão mais otimistas, com previsão de queda próximo a -5,4% no ano, ante uma projeção anterior entre -7% e -6,4%.
7. Já o Monitor do PIB-FGV mostra uma queda de -8,7% do PIB no segundo trimestre de 2020, o pior resultado desde a década de 1980. O mês de junho apresenta um crescimento de 4,2% comparado ao mês de maio. No ano, a queda é de -10,5%. O consumo das famílias nesse trimestre caiu -11,6%, e os investimentos medido pela Formação Bruta de Capital Fixo retraiu em -20,9%.
8. O debate em torno da manutenção das políticas de responsabilidade fiscal e o teto dos gastos como âncora segue em pauta. Um grupo de 100 economistas publicaram uma carta na Folha de São Paulo fazendo a defesa dessa política, propondo a redução do piso dos gastos para que o teto não colapse. Em resposta, o economista Bráulio Borges, no blog da FGV/Ibre, rebate a carta apresentando outra proposta de flexibilização do teto. Os dois lados, porém, encontram-se no escopo liberal da defesa dessas políticas.
CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS
9. O financiamento habitacional representou um dos maiores crescimentos do balanço de alguns bancos no segundo trimestre. O motivo foi a queda da taxa de juros, que permitiu a inclusão de mais de 4,5 milhões de famílias elegíveis para o financiamento, e da política de carência de seis meses no pagamento das parcelas. Só em junho foi liberado R$ 9,27 bilhões, a maior quantia desde janeiro de 2015.
10. A alta pela demanda por crédito levou o governo a sancionar o projeto que libera por mais três meses mais R$ 12 bilhões para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Assim que lançado, os recursos foram rapidamente utilizados, totalizando R$ 18,7 bilhões em empréstimos em 217,8 mil operações.
CONTAS PÚBLICAS
11. A proposta do governo federal de criação de um novo tributo sobre valor agregado, com o nome de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), no âmbito da reforma tributária, poderá extinguir quase 161 mil bolsas do Prouni e aumentar as mensalidades das universidades em até 10%. A nota técnica do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular mostra que o maior impacto será sobre a classe média e baixa. Para o setor da saúde privado, a reforma levaria a um crescimento da sua carga tributária em 80%, aumentando os preços em 7,4%, segundo Nota Técnica do Conselho Nacional de Saúde.
12. A arrecadação federal teve uma queda de -17,7% no mês de julho comparado ao mesmo mês de 2019. A maior queda foi em maio, com uma variação negativa de 32,92%. No acumulado do ano, a queda é de -15,2%. O valor das compensações tributárias realizada no mês de julho, opção das empresas de pagarem os tributos com créditos que detém com a Receita Federal, aumentou em 95,83% em relação ao ano anterior.
13. O governador de São Paulo, João Doria, apresentou um projeto de reforma administrativa que extingue 12 órgãos estaduais, entre empresas, autarquias e fundações, com a proposta de cortar mais de 5.600 empregos e aumentar a arrecadação em R$ 8 bilhões. As autarquias e fundações propostas são a Fundação Parque Zoológico, Fundação Para o Remédio Popular, Fundação Oncocentro de São Paulo, Instituto Florestal, Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, Superintendência de Controle de Endemias, Instituto de Medicina Social e de Criminologia, Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo e Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo.
MERCADO DE TRABALHO E RENDA
14. O mês de julho apresentou um total de 12,3 milhões de pessoas desempregadas, 3,7% acima do total de junho. A taxa de desemprego subiu de 12,4% para 13,1%, com maior expressão no Nordeste, 14,0%, segundo a PNAD-Covid19 do IBGE. A população fora da força de trabalho foi estimada em 76,5 milhões, crescimento de 2,1% em relação a junho. Desse total 28,2 milhões gostariam de trabalhar, mas não buscaram trabalho. Destes, 67% alegaram como motivo para não buscar trabalho a pandemia ou a falta de trabalho na localidade.
15. Em meio a campanha salarial dos trabalhadores, a empresa Volkswagen negocia medidas de flexibilização e revisão dos acordos coletivos vigentes com os sindicatos, podendo levar a demissão de 5 mil funcionários no Brasil, 35% do total de sua força de trabalho. A empresa tem fábricas em São Bernardo do Campo, Taubaté, São Carlos e São José dos Pinhais. Entre as possíveis propostas de flexibilização está a redução da jornada de trabalho, corte nos reajustes de salários, redução do pagamento de participação de lucros e resultados (PLR) e mudança nos benefícios como vale-transporte, vale-alimentação e plano médico.
EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)
16. O Ministério da Economia tem voltado a debater a privatização da PPSA para amenizar o déficit fiscal. Dentro do governo ainda existe resistência, principalmente na ala militar, ao questionarem a viabilidade dessa operação no atual momento.
17. O Brasil voltou a ser o maior fornecedor de açúcar para a China, representando 60% das importações desse país, com a tarifa aplicada pela China cair de 85% para 50% no final de maio. Foram exportadas 239,4 mil toneladas apenas no mês de junho, um crescimento de 477% em relação ao mesmo mês de 2019.
18. O valor de mercado da empresa estadunidense Apple chegou a US$ 2 trilhões nessa semana, ultrapassando o valor do PIB brasileiro de 2019, estimado em US$ 1,84 trilhão. A Apple é a primeira empresa dos EUA a superar essa marca. A valorização acumulada da empresa no ano é de 58,7%; o mesmo crescimento fora do padrão se observa nas demais empresas de tecnologia, em meio a uma crise global.
ESPECIAL COVID-19
19. Os esforços fiscais do Brasil no enfrentamento a crise da Covid-19 atingiram 7,3% do PIB projetado para 2020, acima da média de 4,1% dos 17 países em desenvolvimento e da média de 6,3% dos países da OCDE, segundo a Nota Informativa do Ministério da Economia. A despeito da avaliação positiva desses gastos o ministério reforça o compromisso com as diretrizes da responsabilidade fiscal.
20. Na primeira quinzena de julho, 44,8%, das 2,8 milhões de empresas em funcionamento foram afetadas negativamente pela pandemia. As mais impactadas foram as empresas do setor de Serviços, com destaque para os serviços prestados às famílias com uma taxa de 55,5%. É o que mostra a Pesquisa Pulso Empresa do IBGE. O Centro-Oeste é a região que mais concentra empresas que tiveram impactos negativos nesse período (51%), seguido pela região Norte (48,1%).
21. Cerca de 13,3 milhões de pessoas (6,3% da população brasileira) já realizaram teste para diagnóstico da Covid-19 no país; 20,4% (2,7 milhões) apresentaram resultado positivo, como mostra a PNAD-Covid19 do IBGE. Em julho, havia 47,2 milhões de pessoas com alguma comorbidade pesquisada, sendo hipertensão a mais frequente (12,8%). Asma ou bronquite era de 5,7%, diabetes 5,3% e depressão 3,0%. Em relação ao comportamento diante da pandemia, 64,4 milhões (30,5%) reduziram o contato mas continuaram saindo de casa, 92 milhões (43,6%) ficaram em casa e só saíram em caso de necessidades básicas, 49,2 milhões (23,3%) ficaram rigorosamente isolados e apenas 4,1 milhões (2,0%) não adotaram qualquer medida de restrição em julho. Ainda segundo essa pesquisa, 44,1% dos domicílios foram atendidos com o auxílio emergencial ou de manutenção do emprego e renda; o valor médio do benefício por domicílio foi de R$ 896.
22. Até o momento, os recursos do Auxílio Emergencial liberados pelo governo federal foram de R$ 166,4 bilhões, sendo feitos 237,1 milhões de pagamentos e beneficiando 66,5 milhões de pessoas, segundo a Caixa.
23. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 310,9 bilhões (na semana passada foram R$ 277,9 bilhões) de uma previsão de R$ 512 bilhões (na semana retrasada era de R$ 510 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 182,87 bi), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 54,98 bi), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 26,2 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 20,9 bilhões).