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Artigos

Giro Econômico | As principais notícias da economia do Brasil e do mundo

A renda dos trabalhadores no mundo teve uma queda de -10,7% como resultado do impacto da pandemia, com uma perda de US$ 3,5 trilhões.

 

 

São Paulo, 26 de setembro de 2020
Nº 017/20 – semana 4

 

Síntese: A disputa em torno do aplicativo chinês TikTok nos EUA parece ter chegado ao fim; Trump aprovou acordo entre a empresa chinesa ByteDance e as estadunidenses Oracle e Walmart. O seguro-desemprego nos EUA aumentou em 4 mil pedidos até o meio de setembro. O PIB da Argentina apresentou queda de -16,2% no segundo trimestre. A renda dos trabalhadores no mundo teve uma queda de -10,7% como resultado do impacto da pandemia, com uma perda de US$ 3,5 trilhões. Enquanto o fogo aumenta no Pantanal e Amazônia, um estudo mostrou que um terço do gado comercializado no Mato Grosso estava “contaminado” por desmatamento. As centrais sindicais estão em campanha pela manutenção do valor do auxílio emergencial no valor de R$ 600; caso o valor seja mantido em R$ 300, 11 milhões de pessoas podem voltar à situação de pobreza, segundo um estudo do Ibre/FGV. A confiança do consumidor se mantém em um quadro heterogênea, visto o pessimismo do grupo de baixa renda com a proximidade do fim dos pagamentos dos benefícios emergenciais e o desemprego em alta. Já na indústria, a confiança segue indicando crescimento por conta do aumento do nível da utilização da capacidade instalada. O banco dos Brics planeja aumentar em US$ 7 bilhões de emissões de títulos no mercado de capitais internacional para emprestar a seus países sócios. Na balança comercial, a maior queda das importações em relação às exportações brasileira garantiu superávit nas transações comerciais. Os investimentos Diretos no País (IDP) no mês de agosto foi 85,7% menor do que no mesmo mês de 2019. Sobre a inflação, os itens de consumo tiveram elevação dos preços aplicado pelas indústrias produtoras, decorrente da pressão da oferta e incerteza com a atividade econômica para o ano que vem. A Volkswagen reconheceu sua colaboração com a repressão na ditadura civil-militar no Brasil contra seus trabalhadores; a montadora assinou um acordo que prevê a indenização de mais de R$ 36 milhões. A fila de pedidos no INSS já soma 2 milhões de trabalhadores; a disputa entre os peritos e o governo em relação ao retorno continua. A taxa de desemprego no início de setembro era de 13,7%. O julgamento no STF que analisa a possibilidade da Petrobras privatizar suas refinarias tem apresentado placar desfavorável aos planos da empresa em seu programa de desinvestimento. A empresa Thyssenkrupp vai investir na produção de máquinas e equipamentos para o setor da mineração, como uma forma de se aproximar dos principais clientes e reduzir custos.

 

INTERNACIONAL

1. A disputa em torno do aplicativo chinês TikTok nos EUA parece ter chegado ao fim com a aprovação de um acordo pelo presidente Donald Trump entre a empresa chinesa ByteDance e as estadunidenses Oracle e Walmart. O acordo prevê que empresas e investidores com sede nos EUA terão 53% do TikTok, com a criação de uma nova companhia (TikTok Global) sediada nos EUA. A Oracle e Walmart teriam a participação de 20%, e o restante permaneceria nas mãos da ByteDance. Contudo, o acordo ainda precisa ser formalizado pelo Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA (CFIUS). O bloqueio decretado pelos EUA ao aplicativo chinês WeChat foi suspenso pela justiça do país, alegando a dúvida em relação ao cumprimento da Constituição, que garante a liberdade de expressão.

2. Os 4 mil novos pedidos de seguro-desemprego nos EUA, com um total de 870 mil pedidos até o final da terceira semana de setembro, demonstra uma certa estagnação na atividade econômica, longe de uma rápida recuperação como prevista. Os dados são do Departamento do Trabalho do país.

3. O PIB da Argentina apresentou queda de -16,2% no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses do ano de 2020, segundo o Instituto de Estatística oficial do país (Indec). Em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi de -19,1%. No segundo trimestre, os investimentos apresentaram uma queda de -27,3%, o consumo privado de -18,9% e o consumo público de -10,4%. As exportações recuaram em -7,9% e as importações em -19,1%.

4. A renda da classe trabalhadora caiu -10,7% nos primeiros nove meses de 2020, o equivalente a perda de US$ 3,5 trilhões em receitas, segundo último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A OIT ainda prevê que deixarão de existir 345 milhões postos de trabalho no terceiro trimestre de 2020; no quarto trimestre seriam 245 milhões de empregos a menos. Essas perdas são de caráter permanente na economia global e grande parte desses trabalhadores não serão recontratados. O impacto na renda dos países mais pobres será de -15%, enquanto nos países mais ricos essas perdas serão de -9%.

 

CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO

5. O fogo que se alastra pelo Pantanal e parte da Amazônia tem tomado as principais manchetes dos jornais. Um estudo da ONG The Nature Conservancy e a consultoria Bain & Company mostrou que um terço do gado comercializado no estado do Mato Grosso, entre 2013 e 2017, estava “contaminado” pelo desmatamento. A criação de gado relacionada ao desmatamento ocupou o equivalente a 4,5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Porém, apenas 4% dos pecuaristas seriam responsáveis por esse desmatamento.

6. As Centrais Sindicais lançaram uma campanha para que o Congresso aprove a manutenção do Auxílio Emergencial em R$ 600 até dezembro. As entidades reforçam que o auxílio pode preservar vidas e garantir a compra de alimentos; o preço da cesta básica está entre R$ 398 e R$ 540, segundo o Dieese. Ao cortar o auxílio pela metade, as famílias não conseguiriam garantir o mínimo em sua alimentação mensal. A redução do auxílio deve devolver 11 milhões de pessoas à pobreza, segundo o Ibre/FGV.

7. O Auxílio Emergencial fez crescer as compras com cartão de débito nos grupos de renda mais baixa. De acordo com o relatório trimestral da inflação do Banco Central, a renda extra do grupo de renda mais baixa não foi colocada na poupança, como acreditavam alguns economistas, mas utilizado para o consumo imediato.

8. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC-FGV) do mês de setembro mantém tendência de crescimento pelo quinto mês consecutivo com 83,4 pontos, mas ainda abaixo do período pré-pandemia em fevereiro, que estava em 87,8 pontos. A situação ainda se mantém pessimista para os consumidores de baixa renda por conta da proximidade do fim dos pagamentos dos benefícios emergenciais e a elevada taxa de desemprego. Assim como os consumidores de maior poder aquisitivo, que estão preferindo poupar a consumir. A prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI-FGV) para o mês de setembro apresentou um avanço de 7,2 pontos, fechando em 105,9 pontos; o aumento do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da Indústria cresceu 2,7 pontos, podendo fechar em 78%.

9. As vendas no país cresceram 13,4% no mês de agosto em relação ao mesmo mês de 2019, e 4,4% em relação ao mês de julho, segundo o Boletim da Receita Federal com base na emissão da Nota Fiscal Eletrônica. O Comércio teve um crescimento de 1,7% e a indústria de 5,4%

10. A previsão do PIB 2020 está em -5,05%, segundo pesquisa realizada pelo Boletim Focus do Banco Central no dia 18 de setembro; na semana passada estava em -5,11%, e há um mês em -5,46%. A previsão para o IPCA no ano é de 1,99% e para o câmbio está em R$ 5,25/US$.

 

CRÉDITO, DÍVIDA E JUROS

11. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco do Brics, planeja fechar o ano com cerca de US$ 7 bilhões de emissões de títulos no mercado de capitais internacional. Esse valor será utilizado enquanto empréstimos a seus países sócios – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – visando a retomada da economia pós-pandemia. Em março, o banco abriu um programa de emergência de combate a Covid-19 no valor de US$ 10 bilhões. O montante destinado por outros bancos multilaterais para assistência antipandemia, como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, foi de US$ 80 bilhões. Nesse sentido, a participação do NDB representa pouco mais de 10% do total.

 

CONTAS PÚBLICAS

12. As transações correntes em agosto apresentaram superávit de US$ 3,7 bilhões pelo quinto mês consecutivo. Em agosto de 2019 o déficit foi de US$ 3 bilhões, segundo as estatísticas do setor externo do Banco Central (BC). As exportações de bens totalizaram US$ 17,8 bilhões em agosto, recuo de 9,8% ante igual mês de 2019; as importações de bens corresponderam a US$ 11,9 bilhões, declínio de 26,8%.

13. Ainda segundo as estatísticas do BC, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,4 bilhão em agosto, valor 85,7% menos que no mesmo mês de 2019, quando somou o valor de US$ 9,5 bilhões. Nos 12 meses encerrados em agosto de 2020, o IDP totalizou US$ 54,5 bilhões, correspondendo a 3,51% do PIB. No mês anterior esse valor foi de US$ 62,6 bilhões (3,94% do PIB). As reservas internacionais estavam em US$ 356,1 bilhões no mês de agosto, um aumento de US$ 1,4 bilhão em relação a julho.

14. A tributação de 20% sobre bebidas não alcoólicas adoçadas pode elevar a arrecadação em R$ 4,7 bilhões e aumento no PIB de R$ 2,4 bilhões a R$ 3,5 bilhões, além da possibilidade de gerar 70 mil a 153 mil empregos, como mostra estudo da Fipe com a ACT Promoção da Saúde.

 

INFLAÇÃO E ALIMENTOS

15. Os itens de consumo tiveram elevação dos preços aplicado pelas indústrias produtoras. A explicação dos aumentos se deve ao impacto da desvalorização do real – já que boa parte dos insumos são importados – e ao aumento da demanda como resultado do auxílio emergencial, segundo os representantes das indústrias. A pressão sobre a oferta pode ser explicada também pela incerteza em relação a atividade econômica após o fim do auxílio, uma vez que as empresas podem ficar com o estoque parado depois de aumentarem sua produção para o atendimento de uma demanda aquecida no curto prazo. Embora não relacionado aos alimentos, a indústria têxtil e de vestuários tem passado pelos mesmos problemas de falta de insumos e seu encarecimento.

 

MERCADO DE TRABALHO E RENDA

16. A Volkswagen do Brasil reconheceu sua colaboração com a repressão na ditadura civil-militar de 1964 contra seus trabalhadores, reforçando o conluio com o setor patronal na época. O Ministério Público Federal do Estado de São Paulo (MPSP) e do Trabalho (MPT) firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a empresa. O acordo prevê o pagamento de R$ 16,8 milhões para a Associação Henrich Plagge e dividido entre os ex-trabalhadores; outros R$ 10,5 milhões vão para a Justiça do Trabalho, R$ 4,5 milhões para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – para financiar pesquisas sobre a colaboração de empresas com a ditadura – e mais R$ 9 milhões aos Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos.

17. Esse acordo pressiona a Fiat Automóveis de Betim (MG), que está sendo investigada pela mesma associação com a ditadura. Ela é acusada de manter 145 funcionários em sua folha de pagamentos que atuavam como agentes duplos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para repressão e tortura.

18. A fila para os pedidos dos benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) já somam 2 milhões de trabalhadores. Há 1,6 milhões de pessoas aguardando análise de seus requerimentos e outras 446,8 mil solicitações em processamento para o auxílio de R$ 600. Profissionais médicos peritos do INSS e o governo disputam na Justiça o retorno da volta ao trabalho. Os funcionários do INSS alegam que não há condições seguras para que esse retorno acontecesse neste momento. A liminar que garantia o direito ao não retorno foi derrubada nesta quinta-feira (24), obrigando a volta ao trabalho.

19. A primeira semana de setembro apresentou um total de 13 milhões de pessoas desempregadas (na última semana de agosto eram 13,7 milhões). Com isso, a taxa de desemprego teve uma pequena queda, passando a representar 13,7% (na semana anterior era 14,3%), segundo a PNAD-Covid19 do IBGE. A população fora da força de trabalho foi estimada em 75 milhões, ante as 74,4 milhões da semana anterior. Desse total, 27,3 milhões gostariam de trabalhar. Da população ocupada, apenas 4,2% estavam afastadas por conta do distanciamento social; na primeira semana de maio esse percentual era de 19,8%.

 

EMPRESAS (INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E AGRONEGÓCIO)

20. A empresa alemã Thyssenkrupp, principal produtora de bens de capital, irá fabricar equipamentos pesados no Brasil para o processamento de minério, com o objetivo de atender a demanda interna. As plantas existentes que irão incorporar a nova produção estão na cidade de Santa Luzia (MG) e Parauapebas (PA). Segundo a empresa, 80% da produção de minério de ferro no Brasil passa por seus equipamentos.

21. Duas notícias ressoam no projeto de desinvestimento da Petrobras e nos principais grupos interessados em seus ativos. A primeira é em relação ao julgamento no STF que analisa a intenção da empresa de privatizar suas refinarias sem necessidade de aprovação do Congresso. Três ministros já votaram contra a empresa, e tudo indica que o voto contrário à venda das refinarias será maioria. A Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) já estava em processo de privatização; as empresas Ultrapar Participações S.A. (Brasil) e o consórcio Raízen S.A. (EUA, grupo Shell) e Sinopec (China) estavam na disputa, como informa a Petrobras.

22. A outra notícia diz respeito a postergação da venda das ações da distribuidora BR que ainda estão em poder da Petrobras. A empresa foi privatizada em 2019, mas a Petrobras ainda possuía 37,5% de sua fatia. Com a conjuntura de crise e queda do preço das ações, a empresa decidiu adiar momentaneamente a venda.

 

ESPECIAL COVID-19

23. Até o momento, o governo federal liberou R$ 207,9 bilhões para o Auxílio Emergencial. Ao todo, foram realizados 304,5 milhões de pagamentos, beneficiando 67,2 milhões de pessoas, segundo a Caixa.

24. No monitoramento de gastos da União com o Covid-19, o Tesouro Nacional mostrou que já foram gastos R$ 412,9 bilhões (até a semana passada tinha sido R$ 410,3 bilhões) de uma previsão de R$ 584,4 bilhões (na semana passada era de R$ 574,3 bilhões). Os maiores valores foram com o Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade (R$ 217,35 bilhões), Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF (R$ 74,38 bilhões), Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios (R$ 35,81 bilhões) e Cotas dos Fundos Garantidores de Operações e de Crédito (R$ 42,9 bilhões).