Principais notícias do mundo evangélico – maio/2020
Síntese: No mês de maio as principais movimentações se deram no âmbito da pandemia e da política. Igrejas e pastores prometendo curas impossíveis, igrejas no embate público para a realização de cultos e suas dificuldades financeiras, além de rachaduras no fundamentalismo cristão como um bloco homogêneo. No ponto da política, a nomeação de André Luiz Mendonça para o Ministério da Justiça gerou rebuliços, como uma aproximação ainda maior com evangélicos após a saída do ex-ministro Sérgio Moro.
O movimento progressista evangélico vem criando uma rede de assinaturas do documento “Carta pastoral à nação brasileira por ocasião da pandemia”, que denuncia, com base na Bíblia, o governo que beira ao fascismo e outros pontos sobre a atual conjuntura brasileira frente à pandemia. A petição já tem mais de 1200 assinaturas do campo evangélico, não necessariamente militante. Outro ponto do movimento progressista é a indicação do pastor evangélico Henrique Vieira para a prefeitura do Rio de Janeiro, após a desistência de Marcelo Freixo pelo PSOL.
1. Fundamentalismo & Política
O pastor Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, promete uma falsa cura ao coronavírus em um vídeo em que vende sementes aos seus seguidores. No vídeo, publicado no YouTube, ele fala do suposto benefício de uma planta e pede o “propósito de R$ 1 mil” por ela. Após críticas, a Igreja Mundial do Poder de Deus lançou uma nota afirmando que não realiza a venda de uma “promessa de cura” para a Covid-19 numa semente de feijão. No dia 11 de maio, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou que o YouTube retirasse o vídeo do ar. O órgão e a polícia investigam “receitas infalíveis” contra o vírus.
No setor conservador calvinista, líderes evangélicos da Coalizão Pelo Evangelho assinaram manifesto em que criticam a politização e endeusamento da ciência durante a pandemia. A editora Vida Nova publicou o ebook gratuito: “Direito Religioso: Orientações práticas em tempos de Covid-19”, que tem como objetivo orientar pastores e igrejas na pandemia, com foco na liberdade religiosa e no direito de culto.
Em Pernambuco, a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE) questionou o lockdown, já que pastores seriam impedidos de irem aos templos realizar a transmissão online dos sermões. Acreditam que essa política viola a Constituição e pode ser configurada como ameaça à liberdade religiosa.
No final do mês de maio aconteceu a 1° Jornada virtual de Estudos de Direito e Religião. Ver. Presbiteriano Davi Charles Gomes, Bispo Dom Odilo e a Ministra Damares participaram da mesa “A vocação social da igreja em meio à pandemia”.
A bancada evangélica no Congresso Nacional tem lutado contra o projeto que autoriza cassinos no Brasil. O deputado da bancada, Sóstenes Cavalcante (DEM), considera o projeto uma ‘praga’.
O ex-bispo da igreja Universal Romualdo Panceiro – que já foi apontado como o líder máximo da instituição e sucessor oficial de Edir Macedo – anunciou, de olho no público de seu antigo aliado, a criação de sua própria denominação em um vídeo nas redes sociais: a Igreja das Nações do Reino de Deus.
2. Pandemia & Cultos
Mesmo com o aumento de mortes por Covid-19, inúmeras igrejas, como Renascer, Mundial e Universal, continuam realizando cultos. Segundo os templos, apenas 30% de toda a sua capacidade está sendo utilizada e há o incentivo para que os fiéis utilizem máscaras.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, ao menos quatro indivíduos foram detidos por promoverem aglomeração em templos religiosos no Ceará.
No Pará, pastores evangélicos se reuniram com o governo para pedirem a volta dos cultos presenciais. A reunião ocorreu no dia em que o governo anunciou que o lockdown não seria mantido na região metropolitana de Belém após o dia 24 de maio.
Já na cidade de São Paulo, a bancada cristã pressiona a prefeitura para que cultos e missas sejam reabertas na capital paulista, ao utilizarem um suposto termo de compromisso que não substitui decretos.
O prefeito de Ladário, cidade do Mato Grosso do Sul, a 420 quilômetros de Campo Grande, decretou 21 dias de oração e jejum para combater o novo coronavírus.
Uma alternativa utilizada pelas igrejas são os cultos “Drive-In”. A Igreja Bola de Neve utilizou o pátio de um supermercado desativado de Bauru para realizar um evento em dois períodos. A medida é uma forma de manter os fiéis reunidos sem quebrar regras do isolamento. A mesma ação foi realizada pela Igreja Presbiteriana Independente de São Bartolomeu, em Cabo Verde (MG). Cerca de 60 fiéis acompanharam o culto de dentro dos carros.
Com o prejuízo ocasionado pela crise, as igrejas propõe renegociar os valores pagos pela locação. Ainda segundo a publicação, emissários das igrejas Universal e Internacional já teriam pedido um desconto no pagamento relacionado ao aluguel.
3. Bolsonarismo
O reverendo presbiteriano André Mendonça foi nomeado para assumir o ministro da Justiça, após a saída de Sergio Moro. Trata-se de um nome “terrivelmente evangélico”, na tentativa de manter o apoio desse setor. Para a Agência Pública, esse foi mais um passo do segmento religioso de levar sua influência às três esferas do Poder.
A aliança entre Bolsonaro e as Igrejas evangélicas está cada vez mais intrínseco, visto que o presidente da República pediu à Receita Federal uma solução para as dívidas tributárias das igrejas com o Fisco. Como mostra a Agência Pública, a Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, acumula R$ 144 milhões em débitos inscritos na Dívida Ativa da União.
Em contrapartida, essa relação estreita tem desmobilizado outros setores evangélicos que antes apoiavam o governo Bolsonaro, como a ANAJURE. Os juristas evangélicos fizeram uma nota sobre o uso da religião para obter poder e apoio irrestrito ao governo. Em entrevista à Gazeta do Povo, Uziel Santana, porta voz da ANAJURE, disse que algumas igrejas neopentecostais são sanguessugas do poder.
4. Evangélicos progressistas
Após desistência de Marcelo Freixo (PSOL) de concorrer à prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, o pastor batista Henrique Vieira pode ser o novo candidato do PSOL para o cargo.
Manifesto de 35 organizações evangélicas propõe que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assuma seu papel constitucional e proceda à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. No documento há mais de 1200 assinaturas de cristãos e cristãs apoiando essa petição.