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Artigos

Um sonho Manifesto ou, uma carta de amor

“Mujeres que luchan”. Este cartaz faz parte da Exposição de Cartazes Anti-Imperialistas. Crédito: Greta Acosta Reyes (Cuba).

 

Este texto faz parte do Concurso de Ensaios Tricontinental | Nada será como antes. Saiba como participar.

Por Alexandre Gonçalves

Eu tive um sonho. Um sonho manifesto.

E neste sonho eu encontrava você. E mesmo em meio a grande crise gerada pela Pandemia global, a crise do clima, os condicionamentos de isolamento social, seus reflexos na economia capitalista e na economia da casa de cada um apresentando os limites do modelo em suas diversas dimensões, estávamos num momento de enfrentamento e derrubada deste governo nefasto e violento. Um momento ímpar na história do Brasil e possivelmente do Mundo. Pois durante o processo criamos um momento de transição e avanço democrático. Coletivamente indicamos um novo ordenamento para a transição política no Brasil, mas não era mais a transição entre governos, e sim entre modelos. Entramos a fundo na virtuosa experiência de aprofundar as relações e dinâmicas democráticas na construção de uma sociedade sem preconceitos, discriminações e opressões. Era o momento de criar um novo código de justiça, novas formas de organizar o trabalho, a produção e a participação política.

Neste momento sentia amor mesmo em um cotidiano de dor que tantas e tantos experienciam pela perda irreparável da vida de seus entes queridos. Momento também de tantas solidariedades, bravuras e coragem na determinação de salvar e proteger vidas. Enquanto segurava sua mão diante de uma multidão nas janelas, prédios, lajes, máscaras, gritos, cantos, nossa conexão: A luta contra toda e qualquer forma de opressão. Sentia Pedro, Maria, João, Beto, Julia, e Gustavos, Cidas, Marcos, Sandras, Vivians, Maurícios, que se foram neste período e atravessavam meu corpo, e o corpo de todos nós, dizendo Vão. O caminho é a transformação ampla, o momento é agora. De transformar-se enquanto se transforma o mundo em pleno vigor de nossos espíritos conectados a esta energia vultuosa e vibrante de todo o cosmos e que estava ali presente nas nossas mãos entrelaçadas.

Senti que não é só por nós que precisamos nos transformar ao mudar o mundo. É pelos que vieram antes, pelos que estão indo agora, pelos que ficam e pelos que virão. É pela vida como um todo. Pela experiência concreta de viver em plenitude e equilíbrio. É por um mundo pleno de vida e sem opressões.

Caminhamos e construímos um governo transitório colegiado. Construímos a base da segurança e saúde, da produção agroecológica de alimentos e da vida. Partilhamos aprendemos e mudamos. Construíamos uma sociedade segura pois não havia risco de fome. Todos eram iguais perante a vida. Portanto o gênero, a cor, a cultura ou qualquer outra característica antes usada como forma de opressão não tinha relevância para atuação na sociedade. Nenhuma característica era determinante de um papel social. Cada ser humano passou a ser considerado único e que convive com os demais. Portanto produzimos a vida e todo ornamento de convívio social baseado na preservação e valorização da individualidade e com a mesma dedicação e intensidade na preservação e valorização do coletivo. A participação ampliada era feita através das organizações comunitárias que se fortaleceram qualificando o debate em todo o país. Construímos os princípios base do porvir.

E no final do sonho, estávamos eu você de mãos dadas. As crianças que voltavam a ocupar as praças, parques e ruas brincavam. Como nós, muitos outros ocupavam as ruas. Em nós a experiência histórica, o antes e o depois, nas nossas mãos dadas, nosso coração pulsando a contemplação do desabrochar das primeiras flores da primavera.