Uma ovelha desgarrada no movimento pentecostal
Por Nicolás Fava*
O fantasma pentecostal recorre o mundo. Na maioria são igrejas conservadoras que irrompem no cenário político alimentando as novas direitas. Impulsionam a “Teologia da prosperidade”, a guerra espiritual, apontam contra o feminismo. Mas no coração do bairro portenho do Parque Patricios, em Buenos Aires (Argentina), expande-se uma mega-igreja evangélica fundada pelo Pastor Guillermo Prein que rompe com esse modelo. Será apenas uma exceção à regra ou a ponta de lança de uma contracultura religiosa?
Guillermo se apresenta no Twitter como cristão, pentecostal e populista. Sua imagem no WhatsApp mostra uma ovelha negra em um rebanho de ovelhas brancas. Quem entende do assunto recomenda conversar com ele antes de tirar qualquer conclusão sobre o movimento pentecostal.
A mini biografia em sua página web relata que em 1977, aos 16 anos e após uma forte experiência espiritual, renunciou à ideia de estudar engenharia para ingressar no seminário. O que não conta é que antes daquela experiência que o marcou para sempre, havia sido militante da Juventude Guevarista, braço juvenil da principal guerrilha marxista que já existiu na Argentina. Filho de socialistas –“dos que seguiam Alfredo Palacios e Alicia Moreau” –, o jovem Prein era um “ateu com fundamentos”.
O giro espiritual o levou a se iniciar como Pastor em um templo de Villa Tranquila, próximo à Isla Maciel (no município de Avellaneda, Grande Buenos Aires). Mas não havia deixado sua rebeldia nas portas do seminário. Irreverente com seus professores e incomodado com as lógicas eclesiais da época, em 1982 já havia fundado uma igreja: o Centro Cristiano Nueva Vida [Centro Cristão Nova Vida] (CCNV), que não tardou em se converter em uma das mais importantes do país.
Não é fácil definir Prein. Ele colhe rancores entre setores conservadores e semeia dúvidas entre setores progressistas. Os membros de sua igreja o veem como “um homem com uma capacidade intelectual extraordinária e um grande discernimento espiritual, que te faz pensar que sempre é possível expandir um pouco mais a mente”. Alguém o definiu como um Pastor pentessocial.
Ainda que tente se retirar de um lugar intelectualizado (“somos uma igreja de ação, não dê opinião”), em suas intervenções midiáticas propõe uma leitura hermenêutica da Bíblia, vinculando uma bagagem quase erudita da história do cristianismo com acontecimentos do presente. Em sua faceta de cantautor, combina louvores com conceitos latino-americanistas, uma espécie de León Gieco [cantor argentino] pentecostal. Em um de seus livros menciona Homero Manzi e Leopoldo Marechal como “profetas populares”, reivindica José Artigas e se utiliza de uma palavra de ordem que marcou a década passada: “a pátria é o outro”. Definiu sua doutrina como uma “teologia do riachuelo” e se inspira na corrente da reforma radical.
Hoje, quando o pressionam para se posicionar politicamente, Prein escolhe se caracterizar como progressista: “Um conservador não quer mudar nada, um revolucionário quer mudar tudo pela raiz, um progressista quer mudar as coisas através de um processo”. É a mesma fórmula com a qual se definiu Alberto Fernández. Em 2010, no aniversário das Madres de Plaza de Mayo, sua igreja cedeu mão de obra e doações para a construção do microcine Ernesto Che Guevara, no Espacio Cultural Nuestros Hijos [Espaço Cultural Nossos Filhos], que funciona na ex-ESMA.
A rota da fé
Façamos uma rápida viagem no tempo até o fim da Idade Média. Na Europa, o cisma protestante desatado por Lutero dentro do cristianismo estava em seu apogeu. Desse movimento, surgiam diversas vertentes, algumas muito críticas e inclusive perseguidas por outros protestantes. Uma delas foi a reforma radical, depois conhecida como “a ala esquerda da Reforma”. Segundo Prein, houve um momento em que “o movimento encabeçado por Lutero perdeu todo espírito revolucionário” e começou a ser protegido pelos poderosos. Os reformistas radicais, por outro lado, defenderam a autonomia em relação ao poder político, se opuseram ao batismo de crianças, promoveram a tolerância, o pacifismo, defenderam que as comunidades nomeassem seus próprios pastores e a ideia de compartilhar não só pela fé, mas também os bens e atividades sociais.
Trezentos anos mais tarde, simultaneamente em diferentes países, brotou o pentecostalismo, com epicentro em comunidades negras de Los Angeles. Ao longo do século XX, essa corrente configurou o estereótipo que hoje temos de culto evangélico: pastores carismáticos, discursos animados, milagres, profecias, gente que fala “em línguas”. Sua doutrina pode ser resumida na “atualidade dos dons do Espírito Santo”, o que implica que é possível ter neste mundo percepções mais ou menos claras da graça de Deus.
Durante as últimas décadas, as práticas pentecostais se expandiram transversalmente, adentrando às denominações tradicionais. Quase todas modernizaram sua comunicação e ao mesmo tempo endureceram seu discurso, em alguns casos até o fundamentalismo, o que deu lugar ao denominado “neopentecostalismo”. Na atualidade, a rota da fé evangélica conecta comumente igrejas locais com seus pares nos Estados Unidos, onde se destacam Los Angeles e Miami como dois grandes focos de irradiação.
Mas a nível mundial, o movimento evangélico é de uma enorme heterogeneidade. Se por um lado muitas igrejas nascem e se desenvolvem à imagem e semelhança das referências norte-americanas, outras misturam a tradição protestante com a cultura local. “Há igrejas na África em que os pastores são polígamos, porque assim é a cultura”, cita Prein como exemplo.
O CCNV tem origem na União de Assembleias de Deus (UAD), uma congregação originária dos Estados Unidos que lhes ajudou a adquirir a propriedade onde funciona o templo de Parque Patricios. Ainda que, asseguram, há anos cortaram definitivamente o cordão umbilical. Quando a UAD mudou seus regulamentos internos, os ministros do CCNV decidiram não renovar credenciais, passando a ser totalmente independentes.
Guillermo realizou turnês pela Europa, é amigo pessoal da Pastora e ex-candidata à Presidência do Brasil Marina Silva, e sua igreja mantém vínculos com organizações de distintos países da América Latina. Apesar de dizerem que não têm um plano missionário, já se expandiram ao Uruguai, Itália, França, Chile, Bolívia, Colômbia e Espanha. “Vamos semear, não colher. Nossa pegada é open source”, argumenta Carlos Volpe, o pastor geral.
Não mais do mesmo
Com cerca de 30 mil fiéis, um corpo pastoral que supera 500 pessoas e sedes em distintas províncias, o CCNV pode ser considerado uma mega-igreja, que se distingue especialmente por sua ampla ação social. Seu fundador fala de uma “igreja invisível”. De fato, a imensa estrutura arbórea de sua organização não é fácil de captar a simples vista. Para ter uma imagem fiel de sua fisionomia, não basta visitar um templo ou falar com o fundador. Deve-se ver o trabalho que realizam em distintas frentes e escutar como pensam seus integrantes.
Carlos Volpe, conhecido como Pirulo, é crítico da arcaica institucionalidade das igrejas. Prefere falar de “espiritualidade” e evita usar a palavra “religião”, que em seu discurso adquire uma conotação pejorativa, vinculada à burocratização da fé. “Somos evangélicos, mas não evangelicais”, esclarece, referindo-se à tradução de evangelicals, expressão que no mundo anglo-saxão engloba igrejas fundamentalistas do denominado movimento White Anglo-Saxon Protestant – WASP [Protestante Branco Anglo-Saxão].
“Pentecostais? Até os ossos. Porque é como dizer negro e peronista”, provoca Claudio, pastor a cargo das relações institucionais. Pirulo sorri: “Eu na real me identifico com a Comuna de Paris, que foram derrotados por não se converter naquilo contra o que lutavam”. Sentada ao seu lado, intervém a pastora Viviana para sintetizar: “Queremos povo com pensamento crítico”.
A delimitação não opera somente com relação às igrejas mais conservadoras, mas também no interior do campo amigo. Nas palavras de Carlos, “muitas igrejas que nas suas origens estavam próximas ao povo se aburguesaram e embora sejam muito progressistas e tenham feito grandes obras como universidades, perderam seu compromisso social; conhecem os nomes das coisas em grego, mas não em guaraní. Um título não te faz pastor, mas estar com o povo”.
“O povo” é a expressão talismã no CCNV. O grosso de sua atividade social se desenvolve através da associação civil Acción Comunitaria [Ação Comunitária]. A partir do movimento Rock & Vida começaram a oferecer acolhimento a pessoas com HIV, “quando alguns pastores ainda diziam que o vírus é um castigo divino”. Também criaram a mutual de economia social Nueva Vida, por meio da qual impulsionam a soberania alimentar; fundaram a organização de Direitos Humanos No Matarás; e um Observatório de Igualdade Religiosa para a separação entre igrejas e Estado.
Além do mais, as mulheres do CCNV foram parte da fundação do movimento Ni Una Menos e participam anualmente do Encontro plurinacional de mulheres, lésbicas, trans, travestis e não binários. Ou seja, estão muito longe dos lenços azul celestes. Entretanto, consultando as redes da igreja e conversando com algumas delas, não parecem ter uma militância explícita a favor do aborto legal. Talvez seja exagerado dizer que o CCNV é uma igreja feminista, ainda que o papel das mulheres na tomada de decisões no interior da organização tem sido fundamental.
Debate político eclesial
O perfil da igreja e mesmo de Prein não era o mesmo há alguns anos. No início do século faziam reuniões nos grandes salões de Costa Salguero. Sendo candidato a Chefe de Governo em 2003, Macri foi recebido em um deles. No impactante vídeo que registra aquele encontro, pode ver o pastor dando lugar ao empresário para que em plena campanha cumprimente o público. Pede a ele que, caso ganhe, pressione a justiça. Menciona a política impulsionada pelo então presidente Néstor Kirchner como exemplo e aponta à orientação econômica de Martínez de Hoz e Cavallo como o que não pode voltar a acontecer. Também reivindica a Constituição de Alberdi e fala de “justiça parelha” para “repressores, guerrilheiros e corruptos”.
O CCNV publicou o vídeo em seu canal no YouTube com o título “Profecias cumpridas” no final de dezembro de 2015, quando a última experiência de governo neoliberal começava. Na introdução e fechamento nesse mesmo ano, o pastor declara: “As mesmas advertências seguem vigentes. Pessoalmente, oro muito intensamente para que se tenha uma mudança de rumo, pois a situação gerada com as primeiras medidas não é muito alentadora”. No entanto, ainda há quem reprove aquela aproximação ao ex-presidente Macri e suas declarações com ares da teoria dos dois demônios.
“Não somos partidaristas, mas sim temos uma cosmovisão política. Se vamos falar de tráfico de pessoas, de educação, de economia, vamos ter que nos meter em política”, assinalou Guillermo. Essa visão se inscreve em uma larga tradição de igrejas comprometidas com a vida pública, que ao mesmo tempo que criticaram a confessionalidade estatal, impulsionaram a educação pública e se posicionaram pelos direitos humanos. “As primeiras reuniões de Madres de Plaza de Mayo foram feitas em igrejas evangélicas”, recorda.
Alexis é o jovem advogado a cargo do Observatório da Igualdade Religiosa. Tem menos de 40 anos, mas na igreja já é considerado “Ancião Maior”. Na sua opinião, “há uma postura laicista que tende a desconhecer o fato político-religioso. O Estado deveria cuidar e proteger as igrejas, mas ser neutro, sem parcialidades na distribuição de recursos e não se vincular diretamente com as igrejas como confissões, mas apoiando o que fazem em termos sociais”.
Em maio, o grupo “Pastores pelo povo” emitiu um comunicado que leva a assinatura de mais de cem pastoras e pastores do país, incluindo Prein, sobre um projeto apresentado em Mendoza para que o Estado subsidie ONGs e igrejas evangélicas: “Nos opomos a toda forma de sustentação das religiões com recursos públicos. As Igrejas e as religiões não podem receber nada que o resto das organizações que servem à sociedade não receba”.
A relação entre as igrejas e o Estado é um conflito estratégico que atravessa a história moderna. Em nosso país, o último capítulo está marcado por sucessivos projetos de lei de liberdade de culto que não prosperaram, no marco do crescimento do movimento evangélico e da chegada de Francisco ao Vaticano. Durante o governo de Cambiemos [coligação de Maurício Macri] foi notória a incidência das igrejas mais conservadoras, com uma participação determinante na retomada que permitiu Macri passar de 31,8% dos votos nas PASO [eleições primárias] a 40,3% nas eleições gerais de 2019. Alberto Fernández sentou na mesa da unidade os diferentes setores, conseguindo até o momento neutralizar uma força social que, caso empregue seu potencial opositor, pode ser desestabilizante.
Cristo das redes
Em meio à pandemia, a fé de integrantes do CCNV move montanhas de refeições e cestas de alimentos. Preparam e distribuem em carros particulares, por meio da organização “Sopa de letras”, gerando redes de solidariedade comunitária que se potencializam com o trabalho nas redes sociais.
Todos os dias, 350 refeições quentes chegam a oito bairros portenhos e cerca de 700 cestas básicas são distribuídas todos os finais de semana onde exista um templo da igreja na cidade ou na Grande Buenos Aires. Se financiam com oferendas, dízimos e doações de pessoas que se conectam pela Internet. Os escudos faciais de plástico, usados juntos com as máscaras faciais, são impressas em uma impressora 3D no Departamento de I+D, que funciona em Rock & Vida, onde também fazem testes de HIV e existe um centro de recolhimento, fracionamento e reciclagem de lixo.
Acompanhamos a pastora Bárbara e Gabriel no percurso para distribuir alimento, máscaras e alguma oração aqui e acolá a quem solicite. “Se algo nos ensinou o CCNV é a nos organizar”, destaca Bárbara. Gabriel dirige o carro. Mal arranca e ela começa a rezar efusivamente: pede ao Senhor que nos permita ver aqueles que não podemos ver. No trajeto encontramos recolhedores de lixo que ficaram sem trabalho com a pandemia, pessoas que almoçavam em comedores que fecharam, alguém deitado em um banco que requer assistência e diversas consultas sobre o Ingreso Familiar Extraordinario [o auxílio emergencial dado pelo governo no período de pandemia ], que Bárbara e Gabriel atendem com seus celulares.
Um dos domicílios que visitamos é um nylon sobre dois pallets com vista para a rodovia. Em muitos outros, a estrada é o teto da casa. São pessoas que estavam fora do radar do Estado, como confessou o Presidente da Nação, e que formaram parte da vida dos e das voluntárias de Sopa de Letras. Este ano celebram onze invernos. Dizem que não querem completar mais aniversários, ainda que a palavra de ordem em suas camisas diga “até que exista uma pessoa sequer em situação de rua, seguiremos”.
Adaptando-se à conjuntura, a igreja transmite as reuniões por streaming. Além de encontros devocionais, durante a quarentena organizaram conversas virtuais sobre empreendedorismo, direitos trabalhistas, violência de gênero, violência institucional e cyber delitos. Mas vêm adestrando-se na produção de conteúdos de longa data. O “ministério audiovisual” inclui a Produtora 3 Clavos e a FM Parque Vida. Também são proprietários de emblemáticos espaços culturais como El Tipográfico de San Cristóbal ou o Auditorio Kraft no centro portenho. Olhando sua videoteca no YouTube, encontramos uma conferência de Cristina Kirchner, outra da referência mapuche Moira Millán, um emotivo documentário sobre o ambientalista Fabián Tomasi e uma conferência de Estela de Carlotto quando visitou o templo.
Teste de progressismo
Até poucos anos, o CCNV participava da Alianza Cristiana de Iglesias Evangélicas de la República Argentina (Aciera), a maior entidade do setor a nível nacional. O vínculo se rompeu na crista da onda verde [em referência aos protestos massivos de mulheres pela legalição do aborto]. Prein reprova o afastamento dessa entidade das necessidades do povo, o intervencionismo permanente na política e a influência cultural dos Estados Unidos em seu horizonte aspiracional.
Sobre a separação, relembra: “Quando se fez no ano anterior o discurso que seria lido para o aniversário de Ni una menos, se atacou a posição da igreja católica e da Aciera com nome e sobrenome. Nesse momento, em uma reunião de mais de 500 pessoas, tratamos do tema e resolvemos que não podíamos continuar ali”. Depois da ruptura, o CCNV se manteve na Federación Argentina de Iglesias Evangélicas (Faie), minoritária e de tradição progressista.
Com resignação cristã, Prein comenta que suas posições garantem “pedradas” de todos os setores. “Cremos na prosperidade, mas não na teologia da prosperidade. Já escutei que Jesus foi CEO de um negócio familiar. E a teologia da libertação diz que Jesus era pobre e que se deve ser pobre. Brigo com os dois. Como se pode dizer isso de uma pessoa que multiplicava pães e peixes?”.
Segundo o teólogo e Doutor em Ciências Sociais Nicolás Panotto, autor de uma tese que analisa a liderança carismática de Prein, o pastor faz uma reapropriação sui generis da tradição pentecostal, agregando uma particular dimensão sociopolítica e na busca de uma incidência política não moralizante.
Diante da surpresa pelo nível de compromisso com a igualdade de gênero, submetemos Guillermo a um teste de progressismo. Perguntamos se uma pessoa trans poderia ser pastora em sua igreja. A resposta foi: “Isso está em discussão e oração. Não somos dogmáticos, pois a teologia pastoral nos expõe à realidade de nosso povo e de nossa congregação. Estamos organizando debates sobre o tema. Nossa comunidade está composta por pessoas com diferentes pensamentos que se equilibram. A sociedade está em desconstrução, mas dizer a uma criança que é desse ou daquele gênero me parece espantoso. Com cinco anos uma criança não tem nada definido. Agora, com Rita Segato sim, vamos até Japão”.
A bispa pentecostal da comunidade Dimensión de Fe, Gabriela Guerreros, assegura que dentro do mundo pentecostal há muito conservadorismo. A maioria das igrejas vêem as pessoas de identidades dissidentes como “possuídas ou endemoniadas”, mas as bases das igrejas nem sempre opinam o mesmo que suas direções. Nesse sentido, esclarece que é preciso “distinguir a posição das hierarquias representada nas federações, das posições das comunidades pentecostais nos territórios. Olhar o pentecostalismo como um movimento popular, a igreja como povo, mas para além das instituições. Enquanto há congregações que podem usar discursos inclusivos e diversificados como maquiagem, outras estão passando por um processo genuíno e profundo de debate interno, mesmo que não tenham uma teologia feminista. Para nós, os dons e os ministérios estão em todas as pessoas ”.
Enquanto algumas integrantes do CCNV falam em conceitos como ecofeminismo e feminização da pobreza, para outras mulheres palavras como feminismo seriam etiquetas com as quais não se identificam os setores populares. Segundo Nieves, uma das líderes da área de mulheres na igreja, a linha é simplesmente o amor ao próximo: “Pessoalmente estou totalmente contra o aborto clandestino, acho que isso já diz muito. Com relação à militância do lenço verde, não me preocupa tanto debater. Sim, militamos muito sobre a educação sexual ou a linguagem inclusiva. Se sai o aborto, glória a Deus”.
Em um movimento evangélico hegemonizado pelos setores fundamentalistas, a igreja fundada por Guillermo Prein se distingue como uma rara avis que não se resigna à marginalidade. Será só uma exceção à regra ou a ponta de lança de uma contracultura religiosa?
*Texto originalmente publicado na Revista Crisis
Tradução: Dafne Melo