Entre a A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (1844), de Friedrich Engels, e a Primavera Silenciosa, de Rachel Carson (1962), tem havido uma ampla conscientização do lado tóxico do desenvolvimento capitalista. Mas os trabalhadores e camponeses não precisaram da análise de Engels ou Carson para explicar os desagradáveis efluentes das fábricas ou a terrível violência dos pesticidas e fertilizantes químicos.
O lixo que apodrece na superfície da terra é parte aparente do problema. A essência é a exigência de nosso sistema sócio-econômico de vender mercadorias sem parar, e então diminuir seu tempo de vida, para que mais mercadorias sejam compradas para substituí-las, e assim a mercadoria descartada se una a outras nas montanhas de lixo em terra e nas ilhas de lixo nos oceanos.
Em 1955, o Journal of Retailing observou que o sistema exigia que “as coisas fossem consumidas, queimadas, gastas, substituídas e descartadas em um ritmo cada vez maior. Precisamos que as pessoas comam, bebam, se vistam, andem, vivam, com um consumo cada vez mais complicado e, portanto, mais caro”. É isso que Vance Packard, em The Waste Makers (1960), chamou de “obsolescência programada”. “Nós fazemos bons produtos”, escreveu Packard. “Nós induzimos as pessoas a comprá-las e, no ano que vem, apresentamos deliberadamente algo que tornará esses produtos antiquados e obsoletos”.
O lixo, do ponto de vista do capitalismo, é uma “externalidade”. As empresas capitalistas saqueiam a natureza em busca de recursos e despejam resíduos na terra. Os custos desse saque e esse desperdício não devem ser considerados nos balanços das empresas. Esses são considerados “custos externos”. A velocidade da produção de mercadorias, como parte da necessidade de acumulação infinita de lucro, gera teorias como “obsolescência programada”, pondo em movimento a criação de lixo. No Ocidente, os computadores costumavam durar sete anos, os telefones cinco – agora, os computadores são substituídos a cada dois anos, os telefones a cada vinte e dois meses.
Procedimentos para diminuir o volume de lixo – por reutilização e reciclagem – são mínimos. A vida social, incrustada com mercantilização e consumismo, não pode ser facilmente transformada. O prognóstico de menos crescimento onde há uma tremenda quantidade de lixo é baixo. Ao mesmo tempo, já existe pressão sobre os territórios que estão recebendo em vez de produzir a maior parte do lixo do mundo, que não produzam resíduos. Isso é como o debate sobre a mitigação do clima – os pobres estão sendo aconselhados a apertar os cintos, enquanto os ricos continuam lançando carbono na atmosfera.
A Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU de 1987 – a Comissão Brundtland – definiu o conceito de “desenvolvimento sustentável” como um desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Certamente, até agora e pelo uso excessivo, o termo “desenvolvimento sustentável” perdeu um pouco o sentido. Mas quando foi inventado, significava alguma coisa. Significa que os caminhos do “desenvolvimento” devem ser conceitualizados, permitindo que os necessitados tenham acesso a mais do que as necessidades básicas, enquanto os privilegiados devem diminuir sua presença no planeta. Esse significado, ao contrário da lógica do capitalismo, precisa retornar aos nossos debates.
Leiam a carta de Aeshnina Azzahra. Aqui está a voz de outra jovem que está profundamente preocupada com o destino da Terra. Ela precisa ter sua voz amplificada. Precisa de bilhões de nós para se recusar a aceitar o mundo como ele é, um mundo que está sufocando em seu próprio lixo. Ela, como as baleias, querem respirar. |