O caderno de desenhos do CoronaChoque.

Para o dossiê, CoronaChoque: o vírus e o mundo, convidamos artistas e militantes de todo o mundo a contribuir com suas reflexões visuais feitas durante a quarentena para o caderno de desenhos do CoronaChoque. Enquanto vivemos a desumanização do neoliberalismo – caracterizado por um mundo do trabalho flexibilizado e fragmentado que torna possível trabalhar enquanto se está em quarentena – nossas ruas e espaços públicos se desumanizam, esvaziando-se em grande medida de sua vida humana e econômica. Do êxodo de imigrantes em Déli à difícil situação das trabalhadoras precarizadas em Barcelona e  Kuala Lumpur, surge a pergunta: quais são os serviços essenciais e quem os mantém? Da Praça de Maio vazia em Buenos Aires até os despejos nas favelas na África do Sul, passando pelos cartazes colocados nas escadas de incêndios de Nova York e os gritos e panelaços em São Paulo, nos perguntamos: como seria a resistência das massas durante o distanciamento social? Os desenhos das brigadas médicas cubanas e da coletividade cívica da China nos recordam a importância vital da solidariedade humana e estatal nesta conjuntura. Este caderno de desenhos nos faz perguntar como poderíamos voltar a encher e humanizar estas ruas e espaços públicos vazios e fantasmagóricos; nos permite imaginar que futuro é possível para a vida depois do coronavírus.

 

Vikas Thakur_Migrant Labour

‘Home’, a distant dream for India’s migrant labourers. | “Lar”, um sonho distante para trabalhadores imigrantes na Índia
Déli, Índia
Vikas Thakur / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Na Índia, trabalhadores migrantes viajam pelo país, em massa, após o governo decretar o isolamento. Estes são trabalhadores que, antes da pandemia, já tinham que lutar diariamente por poucas gramas de comida – e então veio o covid-19.

Kalia venereo_nunca mas

Nunca más | Nunca Mais
Havana, Cuba
Kalia Venereo / Dominio Cuba
Representa os médicos cubanos que saíram do país para vencer a pandemia com solidariedade. Realizada para Dominio Cuba em apoio à convocatória de organizações e personalidades francesas a uma campanha mundial nas redes sociais, para promover um futuro sem políticas neoliberais que retire das pessoas o direito à saúde.

 

Panelaço

Fora Bolsonaro!
São Paulo, Brazil
Ingrid Neves / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
“Fora Bolsonaro”, “Fora Fascista” e “Ele Não” são alguns gritos que ressoavam nos panelaços durante a quarentena no Brasil. O isolamento não impediu que as vozes, panelas e vuvuzelas se unissem contra o governo do presidente Jair Bolsonaro nos grandes centros urbanos.

 

Essential Workers_NY_BelenMarco

Who sustains life? | Quem sustenta a vida?
Nova York, Estados Unidos.
Belén Marco Crespo / The People’s Forum
A classe trabalhadora tem enfrentado a crise do sistema capitalista muito antes da eclosão da pandemia de covid-19 e sua classe trabalhadora, ainda assim, continua a sustentar a vida. Imigrantes, trabalhadores precarizados e mal pagos, mulheres, em Nova York, estão carregando o fardo do trabalho de cuidado em um momento em que a humanidade inteira precisa priorizar o cuidado por cima do lucro.

 

Tings Chak_East is Red

The East is Red. | O oriente é vermelho
Xanghai, China
Tings Chak / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Dia 4 de abril, 10h, China fez três minutos de silêncio para comemorar aqueles que lutaram e morreram na batalha internacional contra o covid-19 – foi o Qinming, festival para os ancestrais. O país parou e o sons de sirenes, buzinas e a belltower tocando “The East is Red” preencheram o ar.

 

Mobile

Quien sostiene la vida | Quem sustenta a vida
Madri, Espanha.
Henar Diez Villahoz
A rua financeira está vazia e a bolsa despencou. Nos bairros se organizam redes de solidariedade e se chama à defesa da saúde pública, colapsada pelos cortes orçamentários. À frente estão os trabalhadores precarizados que continuam realizando tarefas de distribuição, alimentação e limpeza para sustentar a vida.

 

Dani_Plaza de mayo_ver1

Madres de la Plaza, el pueblo aún las abraza | Mães da Praça de Maio, o povo as abraça
Buenos Aires, Argentina
Daniela Ruggeri / Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
A Praça de Maio vazia, em um 24 de março, Dia da Memória, Verdade e Justiça. Pela primeira vez na História dessa marcha, não pudemos sair às ruas pelos companheiros/as desaparecidos/as na ditadura militar de 1976. Nas redes sociais e nas varandas colocamos os lenços brancos das Mães.

 

Kate_Eviction

Evict (v.): To forcefully remove people from a property with the support of the law. | Despejo forçado de uma propriedade com o apoio da lei
Johannesburg, África do Sul
Kate Janse Van Rensburg / Partido dos Trabalhadores  Socialistas Revolucionários
Apesar da moratória de despejos durante o lockdown nacional na África do Sul, por conta da pandemia de covid-19, o Estado continua a despejar pessoas, com uso de forças de segurança privadas, militares e polícia. Desde o final do apartheid em 1994, a resposta do Estado nilitarizado à luta popular por moradia permaneceu intacta: o apartheid continua.

Ezrena Marwan, Labour (2020)

Objects and labour | Objetos e trabalho
Kuala Lampur, Malásia
Ezrena Marwan / Malaysia Design Archive
Cena em um hospital privado em Klang Valley, Malásia, coração da epidemia de covid-19. Como medida preventiva, Malásia está sob o Movimento de Controle da Ordem, o que fez espaços fecharem e esvaziarem, exceto os essenciais: saúde, zeladoria e entrega de alimentos – entre outros.